Donas da bola: o quarteto que gere o patrimônio de jogadores de elite
Elas cuidam das finanças dos craques e ainda resolvem perrengues familiares para que eles possam pensar só no jogo
Imagine ter de pegar um voo às pressas de São Paulo a Paris apenas para resgatar o terno de um noivo descuidado, a poucas horas do casório. Ou então correr até os correios para conseguir enviar uma roda de Jaguar para outra região do país. Esses são apenas alguns exemplos, um tanto extremos, das missões que compõem o trabalho de quatro profissionais intimamente ligadas ao futebol. Paula Sandtfoss, Priscilla Rocha, Nathalie Achcar e Fernanda Prado integram o time da Redoma Capital, uma empresa de gestão patrimonial fundada em 2012 e que conta com mais de oitenta esportistas entre seus clientes. Como o nome da organização já indica, o objetivo é blindar os boleiros de enroscos financeiros, legais e até familiares. Fora de campo, elas são as donas da bola, com total acesso às cifras de importantes contratos, e precisam jogar nas onze.
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O quarteto recebeu PLACAR em seu escritório no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo, um local repleto de bolas e camisas autografadas pelos clientes, como Richarlison, atacante da seleção brasileira, e Cristiane, goleadora do futebol feminino. “Todas amamos futebol. Até pouco tempo atrás, eu não entendia nada, mas hoje assisto a todos os jogos e sempre me pego torcendo por nossos clientes”, brinca Priscilla, responsável pelo setor de relacionamento da empresa. O ambiente é descontraído, mas o trabalho é sério, afinal, a maioria dos jogadores tem origem humilde, pouca ou nenhuma instrução financeira e muito, mas muito dinheiro para gerir. “Nossa meta é mostrar os melhores caminhos, os prós e os contras de cada operação, e deixá-los tranquilos para focar no futebol”, diz Paula, do setor de gestão e marketing. Se não palpitam em nada em relação ao posicionamento em campo ou um gol incrivelmente perdido, no que diz respeito às contas dos craques elas marcam em cima e jogam na retranca.
A Redoma realiza com seus clientes uma reunião anual, na qual revisa o período anterior e planeja os objetivos para a temporada seguinte, e depois mantém um acompanhamento constante, praticamente semanal. Na maioria dos casos, o contato é feito em grupos de WhatsApp com os familiares e o estafe dos atletas. Quase todos os clientes que buscam esse tipo de assessoramento são casados e engana-se quem pensa que as parceiras têm ciúme. “Muito pelo contrário, elas se sentem mais confortáveis ao lidar com mulheres, não nos veem como rivais, mas como aliadas”, diz Nathalie, responsável pelo setor de investimentos, com experiência no mercado financeiro. “Muitas vezes resolvemos os problemas dos filhos deles, é uma relação quase familiar mesmo, dentro dos limites de onde podemos chegar.” Na maioria dos casos, as companheiras dos craques são mais conscientes e zelosas com o dinheiro. Com o aconselhamento profissional, muitas delas decidiram abrir o próprio negócio e engordar o porquinho da família antes da aposentadoria dos atletas.
Além de mostrar aos jogadores os melhores caminhos para investir seus reais, dólares, euros ou rublos (“a chave é diversificar”, eis o segredo), as administradoras de carreira se esforçam para obter os melhores preços e gerar a maior economia possível. Por exemplo, se um jogador decide comprar um apartamento em uma zona nobre da cidade, elas iniciam uma caça por descontos e pelo melhor custo-benefício em itens de decoração. É daí, afinal, que vem a maior parte de seus vencimentos. “Os clientes nos pagam uma cota fixa mensal e depois ganhamos um porcentual em cima da economia gerada. O padrão de comissão é 20%, mas tem cliente que opta por dar até 50%”, conta Paula. Nem sempre é fácil controlar o ímpeto das estrelas dos gramados. Carrões e relógios são alguns dos luxos preferidos. O meio-campista Wesley, ex-Santos e Palmeiras, hoje no CRB, protagonizou um dos casos de sucesso da firma. Em seu auge, ele encasquetou que teria na garagem um Porsche, custasse o que custasse. “Não estava dentro do planejamento, mas ele bateu o pé. Em seguida, indicamos a compra de um modelo exclusivo de aniversário, com apenas cinco exemplares no Brasil”, recorda Paula. “Pouco depois, ele quis se desfazer do Porsche e conseguiu vender por 20% a mais, pois era um item de colecionador.” Saíram todos felizes.
No dia da visita de PLACAR, a turma da Redoma se surpreendeu ao descobrir, por meio de uma postagem no Instagram, que um de seus clientes havia comprado um automóvel caríssimo. “A gente não proíbe nada, mas esses casos nos deixam p… da vida. Mesmo que eles quisessem contrariar nossas indicações, ainda assim poderíamos buscar as melhores condições”, ri Nathalie. Em quase uma década de empresa, apenas um caso de indisciplina resultou em cartão vermelho, quando a Redoma decidiu romper o vínculo com um atleta que jamais obedecia aos apelos da empresa — e da mãe, sua interlocutora no WhatsApp.
Um dos setores mais relevantes da casa é comandado por Fernanda Prado. Apaixonada por esportes desde a infância, ela encontrou no direito a melhor forma de se manter rodeada de feras da bola. É ela quem auxilia os atletas em questões como a finalização de contratos e assessoria fiscal. Os casos mais espinhosos são os de atletas que atuam no exterior e que acabam cometendo muitas irregularidades por mero desconhecimento das leis. “Essa parte burocrática muitas vezes é o que fideliza nossos clientes. São trabalhos que são simples para nós, que conhecemos os trâmites, mas muito chatos para eles”, conta. O período mais agitado para elas está chegando, o das festas de fim de ano, ou seja, férias da maioria dos atletas, que aproveitam para organizar viagens e festas. Novos perrengues virão, mas elas garantem: estão prontas para o jogo.
Matéria publicada na edição impressa 1480 de PLACAR, de outubro de 2021
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