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Diego Hypolito: ‘Me ameaçaram de morte’

Depois de se reunir com Bolsonaro e a primeira-dama, o atleta virou alvo de ataques nas redes, e agora só anda acompanhado de um segurança

Por que se encontrou com o presidente? A primeira-dama me mandou uma mensagem em que dizia que queria tomar um café comigo. Aproveitei que já ia a Brasília encontrar a família do meu namorado e topei. Meu objetivo era falar de esporte. No Palácio da Alvorada, ao lado de Michelle, soube que Bolsonaro gostaria de me conhecer. E foi.

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Depois de aparecer em fotos com o casal Bolsonaro e ser torpedeado pela comunidade LGBT+, está arrependido? Se o presidente da República pede para tirar uma foto, você diz o quê? Não? Sou apartidário e anulei meu voto. Honestamente, não imaginava essa onda de ódio.

Como está lidando com os ataques? Passei alguns dias com medo de sair de casa. Estou muito deprimido e desenvolvi síndrome do pânico. Fui ameaçado de morte, maltratado e xingado de tudo nas redes sociais. Nunca vivi nada igual, sinceramente.

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Em que situação foi ameaçado? Depois do encontro em Brasília, estava em uma boate e precisei sair escoltado por seguranças. Um grupo de gays que estava lá começou a me vaiar, me perseguir. Alguns até tentaram me bater. Estou sentindo tanto pavor que resolvi contratar um segurança particular.

Afinal, você gostaria de fazer parte do governo? Não sei se ocuparia um cargo na Secretaria de Esporte ou se entraria na política de outra forma. O que sei é que quero ajudar os atletas com minha experiência.

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Após o encontro, Michelle Bolsonaro postou vídeos de vocês dois cantando músicas religiosas. Viraram amigos? Depois de tanto ataque, disse a ela que não sabia o que fazer, e Michelle me chamou para jantar. Vem sendo muito gentil e respeitosa.

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Você assumiu a homossexualidade publicamente neste ano. Por que escondeu durante tanto tempo? Sexualidade não deveria definir ou ser requisito para nada. Ninguém pergunta a um heterossexual qual a orientação dele. Há muito tempo minha família e amigos já sabem. Quando eu tinha 10 anos, um de meus treinadores dizia para minha mãe que eu era gay. No ano passado, questionado em uma entrevista, não vi por que mentir.

É sabido que você é evangélico. Depois que revelou sua orientação sexual, passaram a tratá-lo de modo diferente na igreja? Tinha receio de ser retaliado ao me declarar gay, mas aconteceu o contrário. Sofri muito antes de conseguir falar disso. As pessoas não deveriam passar pela depressão, chegando a ponto de até tentar se matar, como aconteceu comigo aos 20 e poucos anos.

O que a biografia lançada nesta semana traz de novo sobre sua trajetória? Conto que passei fome, que trabalhei como ambulante na praia. Também falo de como sofri bullying e abusos sendo ginasta na adolescência e da queda em Pequim. Levei até um tapa no rosto de um torcedor. Como agora, também conheci o fundo do poço.

 

Publicado em VEJA de 4 de dezembro de 2019, edição nº 2663

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