Crise econômica faz Rio-2016 reduzir orçamento em R$ 900 milhões
Dirigentes brasileiros apresentarão nesta quarta ao COI o plano para equilibrar os gastos com os Jogos. Várias obras do projeto inicial foram eliminadas.
A Olimpíada do Rio de Janeiro sofreu um corte de 900 milhões de reais no orçamento, como consequência da crise econômica do Brasil. Detalhes sobre a medida serão apresentados nesta quarta-feira aos membros do Comitê Olímpico Internacional (COI), em Lausanne, na Suíça. Os responsáveis brasileiros pelos Jogos vão mostrar que conseguiram equilibrar os gastos com a receita, mas tiveram de abrir mão de vários projetos.
No total, 7,4 bilhões de reais serão gastos na Rio-2016, sem contar as obras de infraestrutura da cidade. Para chegar a esse valor, porém, cerca de 12% dos custos inicialmente programados foram eliminados. Os principais cortes foram realizados em instalações esportivas e na eliminação de construções temporárias, como as do Itaquerão, mas outras obras foram afetadas. O Metrô, por exemplo, vai operar apenas para levar os passageiros de Ipanema para a Barra, local dos Jogos, sem parar em todas as estações.
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Cortes ainda foram promovidos no tratamento que os dirigentes receberão. Coquetéis foram reduzidos e, no lugar de canapés de luxo, serão servidos pão de queijo e alternativas mais baratas. No “ranking” das prioridades, os atletas ficaram em primeiro lugar, com a melhor e mais variada comida. Consultores foram contratados para orientar a forma de preparação para atletas muçulmanos, orientais e de todas as regiões do mundo, mas os dirigentes terão de se contentar com a mesma refeição do restante da força de trabalho dos organizadores.
Nesta terça-feira, uma reunião preparatória já foi realizada entre os brasileiros e o COI, justamente para afinar o discurso para a apresentação desta quarta. Um das cobranças que o Rio-2016 sofrerá será a situação do Velódromo. Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB, vai admitir que as obras estão atrasadas, mas serão concluídas a tempo.
Transporte – Outro ponto delicado será o do Metrô, considerado por membros do COI como fundamental. “Sem metrô não teremos público no evento”, alertou o vice-presidente do COI, Craig Reedie. “Não há opção. Essa obra precisa ocorrer”, insistiu.
Prevista para custar 1 bilhão de reais, a obra da Linha 4 conseguiu apenas uma liberação de 422 milhões de reais do BNDES. O governo do Estado tentou pressionar a presidente Dilma Rousseff para acelerar os empréstimos, mas os valores não teriam sido transferidos.
Trezentos metros de túnel ainda precisam ser cavados e muitas das estações estão atrasadas. O resultado é que o metrô não deve estar operando para a população até agosto e deve apenas servir aos Jogos Olímpicos, fazendo o trajeto entre Ipanema e Barra. Para driblar o problema, a linha não vai parar em todas as seis estações previstas. Em seu site oficial, porém, os organizadores não informaram a mudança à população.
Para o Comitê Rio-2016, “mais importante do que o valor que foi cortado é o fato de que o Comitê tem um orçamento equilibrado e vai realizar os Jogos sem onerar a sociedade, pois não está recebendo nenhum centavo de dinheiro público”.
Outro tema que será tratado na reunião desta quarta será o vírus zika, com o COI cobrando ações concretas dos organizadores. Mais, uma vez mais, a crise econômica deverá afetar os planos. As telas que serão instaladas nos quartos dos atletas na Vila Olímpica não serão gratuitas e cada delegação terá de arcar com os custos da compra e colocação. Nas áreas comuns, o Rio-2016 assumirá os custos.
Insatisfação – A quebra de promessas da Rio-2016 em comparação ao que estava nos planos em 2009 não foi bem recebida por organizações esportivas. A arquibancada flutuante na Lagoa Rodrigo de Freitas está definitivamente descartada. Para a Federação Internacional de Remo, que contava com os Jogos para garantir sua receita, o abandono do projeto significa também um importante prejuízo financeiro.
Haverá espaço para apenas 6.000 espectadores, contra um plano original desenhado para 14.000. Em Londres, a capacidade foi de 25.000. Christophe Rolland, presidente da Federação Internacional de Remo, já indicou que “entende” a crise no Brasil, mas criticou o fato de a decisão ter sido tomada sem consultar o grupo. Segundo ele, a entidade teria opções a propor se tivesse sido informada antes.
Os responsáveis pelos esportes aquáticos também estão insatisfeitos. O complexo Maria Lenk conta com três piscinas, mas o ideal seria ter uma a mais. As competições não devem ser afetadas, mas o que preocupa é a agenda para os treinos de atletas de saltos, nado sincronizado e polo aquático. A federação de hipismo também já deixou claro que quer garantias de que o evento da modalidade, em Deodoro, não será afetado.
(com Estadão Conteúdo)