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Coronavírus: os dilemas para a volta do futebol no Brasil

Alguns estados do país podem ver a volta do esporte antes de outros. Apesar do relativo otimismo, não existe data para que isso aconteça

O anúncio feito na última quarta, 6, pela premiê alemã Angela Merkel de que a realização de partidas de futebol profissional em seu país estará liberada a partir da segunda quinzena de maio provocou um misto de alívio e ansiedade entre aqueles que aguardavam o retorno do esporte ao vivo (pela televisão, é claro, pois os jogos acontecerão com portões fechados). Ver a bola voltar a rolar em parte da Europa aumenta a pressão pela retomada dos torneios em outras searas. Antes, contudo, e apesar dos alarmantes prejuízos financeiros gerados pela paralisação, há que combinar o jogo.

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Direto ao ponto: sem segurança sanitária, nada feito — e, não por acaso, França, Holanda e Bélgica encerraram suas ligas na canetada, com rodadas ainda por disputar. Os alemães deram passo mais ousado ancorados na testagem em massa, na possibilidade, portanto, de isolar contaminados de sãos. É um caminho, existe nele um tanto de segurança. O inexplicável e perigoso é decidir recomeçar, por ansiedade, apenas porque o espetáculo não pode parar e o dinheiro sumiu. É nessa trilha, arriscada, que anda parte (e felizmente, apenas parte) dos cartolas brasileiros.

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Desde a terça-feira 5, amparados na decisão da prefeitura de Porto Alegre sobre retomar a atividade de setores não essenciais da economia, dois grandes clubes brasileiros, Grêmio e Internacional, voltaram aos trabalhos de forma presencial, em seus respectivos centros de treinamento, depois do período de férias coletivas antecipado de dezembro para abril. Apesar da evidente apreensão, os times gaúchos montaram um esquema de guerra, com a higienização frequente dos equipamentos, sem contato físico e com avaliação diária das condições clínicas dos atletas.

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Isso significa que no sul do país os jogos estão prestes a ser realizados? Não antes de junho, segundo a Federação Gaúcha de Futebol. Diversos dirigentes ouvidos por VEJA, porém, já apontam a possibilidade de que, quando (e se) o futebol voltar, o reinício deverá começar pelos campeonatos estaduais. “A perspectiva é mais positiva para o encerramento dessas disputas do que das competições de amplitude nacional ou continental”, disse o secretário-geral da Confederação Brasileira de Futebol, Walter Feldman. Ou seja, é mais fácil encerrar os regionais que retomar a Libertadores, disputa ainda em sua fase inicial. “É o cenário possível, e queremos realizá-los no menor intervalo possível”, disse o presidente da Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro Bastos. “São apenas seis datas, e os atletas começariam e terminariam as disputas em sistema de concentração, sem ir e voltar.”

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Os estaduais, há anos encolhidos, podem ser a tábua de salvação de parte das receitas previstas para 2020 — em São Paulo, os clubes receberam somente uma fração do valor acordado com a Rede Globo pela comercialização dos direitos de transmissão. No âmbito nacional, a emissora pagou apenas 40% da parcela mensal combinada com os clubes da séries A e B, além da CBF, valor que será ainda menor em maio e junho. O goleiro Fernando Prass, com passagens marcantes por Vasco e Palmeiras, hoje no Ceará, resumiu o impasse: “O Brasil reúne vários países em um só, depende de cada estado. São as autoridades sanitárias quem tem de decidir”. As consequências da crise, mesmo entre os milionários, se espraiam. O Flamengo, clube cuja arrecadação bruta bateu em 1 bilhão de reais no ano passado, anunciou a demissão de 62 funcionários (nenhum jogador, ressalve-se), em meio ao anúncio da morte, por Covid-19, do massagista Jorginho, há quarenta anos do clube. No Flamengo, hoje, sobra futebol — mas falta coração.

Publicado em VEJA de 13 de maio de 2020, edição nº 2686

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