Coronavírus: ministra japonesa admite chance de adiamento da Olimpíada
Comitê Organizador mantém posição de que Jogos devem ser realizados entre julho e agosto, mas abriu a possibilidade de postergação para o fim do ano
Autoridades japonesas e esportivas discutem se a Olimpíada de Tóquio-2020 está ameaçada pela epidemia do coronavírus, que já causou a morte de mais de 3.000 pessoas em todo o mundo, sendo seis no Japão, de acordo com o último balanço. A dúvida paira há semanas e é o principal ponto de debate em reunião do Comitê Olímpico Internacional (COI) que começa nesta terça-feira 3 em Lausanne, na Suíça. Pela primeira vez, um membro da organização admitiu a possibilidade de adiamento.
Seiko Hashimoto, ex-patinadora e ministra das Olimpíadas no Japão, revelou que existe a possibilidade, prevista em contrato, de que a competição seja postergada em alguns meses. “O COI só tem o direito de cancelar os Jogos se eles não ocorrerem em 2020. Isso pode ser interpretado como a possibilidade de os Jogos serem adiados, contanto que sejam realizados durante esse ano”, explicou Hashimoto, durante evento na sede do poder legislativo do país. “Estamos fazendo o máximo de esforços para que não tenhamos de encarar essa situação”, completou.
Na última sexta-feira, o presidente da entidade, Thomas Bach, demonstrou otimismo e afirmou que o “COI está completamente determinado a celebrar com sucesso os Jogos de Tóquio a partir de 24 de julho”, e até 9 de agosto. “A prioridade no momento é assegurar que os processos de classificação (para os Jogos) sejam desenvolvidos, garantindo a proteção da saúde dos atletas”, acrescentou.
Outro membro do COI, o canadense Dick Pound, indicou horas antes que sua instituição não considera adiar ou cancelar os Jogos e não recebeu nenhuma indicação nesse sentido da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Possibilidade de portões fechados
Sem apresentar um calendário preciso, Dick Pound, um ex-nadador de 77 anos e integrante mais velho do COI, acrescentou que “a qualquer momento, seja dois meses ou um mês, alguém terá que dizer ‘Sim’ ou ‘Não’” sobre a disputa dos jogos. Atletas e federações nacionais e internacionais estão preocupados. Várias provas classificatórias para os Jogos programadas para ocorrerem na China, onde surgiu a epidemia, foram adiadas ou realocados, assim como na Coreia do Sul.
Outros eventos deveriam ser realizados no Japão antes dos Jogos e já estão ameaçados, como os ‘eventos-teste’ de natação, pólo aquático e saltos ornamentais, organizados pela Federação Internacional de Natação (Fina). As provas de ginástica artística e rítmica, organizadas em conjunto com a Federação Internacional de Ginástica (FIG), estão agendadas de 4 a 6 de abril e podem ser realizadas com portões fechados.
“Muitas federações estão confusas”, disse o chefe de uma federação internacional que prefere permanecer anônimo. “Recebemos informações do COI em relação à saúde, mas não sobre o aspecto esportivo”, no momento em que vários torneios pré-olímpicos ainda precisam ser disputados.
Só guerras causaram cancelamento
“Os comitês nacionais olímpicos e as federações internacionais foram informados sobre a posição do COI e de nossa comunicação com a mídia”, disse um porta-voz do COI à AFP. Diante das crescentes preocupações, cada declaração de Bach na terça e na quarta-feira será amplamente analisada.
O coronavírus também será o tema central da videoconferência de quarta-feira realizada pelo comitê organizador dos Jogos de Tóquio e pelo presidente da comissão de coordenação, o australiano John Coates.
Até o momento, nem boicotes (em Moscou-1980 e Los Angeles-1984) nem o vírus Sras (2003) ou o Zika (antes dos Jogos do Rio-2016) causaram a suspensão ou o adiamento dos Jogos Olímpicos.
Somente as guerras mundiais causaram o cancelamento dos Jogos. Primeiro os que estavam planejados para Berlim, em 1916. Em 1940, foram suspensos os de Sapporo (inverno) e de Tóquio (verão), e em 1944 os de Cortina d’Ampezzo (inverno) e de Londres (verão).
Os Jogos de Paris de 2024 também serão discutidos na reunião do COI. Na terça-feira, Tony Estanguet, presidente do comitê organizador, fará uma apresentação das instalações, antes da validação formal de Taiti como sede das provas de surfe.
(com AFP)