Coronavírus: ganha força o movimento pelo adiamento da Olimpíada de Tóquio
Dirigentes do esporte mundial dão sinais de que a realização da Olimpíada em julho próximo é inviável por uma série de razões; saiba quais são elas
Citius, Altius, Fortius… et Sanus? Em tempos de coronavírus, talvez caiba uma temporária atualização no lema criado pelo Barão Pierre de Coubertin, pai da Olimpíada da Era Moderna. A pouco mais de quatro meses da Cerimônia de Abertura dos Jogos de Tóquio-2020, continuar com o cronograma original da edição japonesa já soa tão desatualizado quanto propor o retorno do cabo de guerra ao programa de modalidades olímpicas.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) realizou nesta quarta-feira 18 uma série de videoconferências com os principais interessados na discussão: as federações esportivas internacionais e os comitês olímpicos de cada um dos países. Embora a mensagem transmitida pelo presidente do COI, o alemão Thomas Bach, seja de que “ainda não é hora de se tomar uma atitude drástica” (em outras palavras, o adiamento/cancelamento da Olimpíada), é crescente o número de vozes descontentes com tal decisão.
Dois personagens relevantes no esporte internacional verbalizaram publicamente sua apreensão com a situação de indefinição provocada pela pandemia de Covid-19. O presidente do Comitê Olímpico da Espanha, Alejandro Blanco, disse a Bach na conferência remota que seus atletas “não podem treinar e celebrar os Jogos em condições desiguais”. As palavras do dirigente ibérico ganharam eco, surpreendentemente, na voz do inglês Sebastian Coe.
Bicampeão olímpico na corrida dos 1500 metros, Coe hoje ocupa um dos assentos mais desconfortáveis do esporte mundial: a presidência da federação internacional de atletismo, a antiga Iaaf (e que recentemente foi rebatizada como World Athletics). Bombardeado por críticas a respeito do modo como a entidade lidou com a reincidência da Rússia em acusações mais do que provadas de doping, Coe admitiu em entrevista ao jornal britânico The Times que nem todos os atletas chegarão à Tóquio em igualdade de preparação.
“Evidências recentes mostram que a China pode estar saindo dessa. Mas se você vive hoje na Europa e é um fundista italiano, por exemplo, você está confinado em sua casa. Isso é um enorme desafio”, ponderou Coe. A quem ainda defenda a manutenção a todo custo dos Jogos, como um prêmio à comunidade global uma vez superada a crise do coronavírus. Mas e o nível técnico das competições?
Como bem disse o ex-diretor-executivo do Comitê Olímpico do Brasil, Marcus Vinicius Freire, em artigo publicado há dois dias no site de VEJA, esta edição dos Jogos já foi severamente prejudicada: “Teremos diminuição no nível de performance esportiva e um número reduzido nas quebras de recordes, ainda mais agora com o bloqueio das fronteiras e fechamento dos centros de treinamentos, clubes e academias pelo mundo”.
Para piorar, não há consenso sobre qual será o critério adotado pelas federações internacionais para preencher pouco menos de metade das vagas ainda em aberto para Tóquio-2020. O prazo estipulado nessas conversas emergenciais foi de até o final de abril para a definição desse processo seletivo. Pode ser sejam adotados ranking de um ano atrás, ou resultados prévios em competições de peso, como campeonatos mundiais. É justo?
No Japão, a percepção pública é de que não adianta seguir com o projeto olímpico a qualquer custo. Uma enquete feita recentemente aponta que 70% dos entrevistados do país consideram o adiamento da Olimpíada algo inevitável. E um retardo de alguns meses, além de ser algo arriscado em termos de saúde, não seria melhor solução. Já se fala em realizar os Jogos de Tóquio em 2021. “Para mim é como um computador travado. Uma hora é preciso parar e recomeçar o processo”, disse a VEJA uma pessoa ligada ao movimento olímpico.
Apesar do evidente prejuízo financeiro em se postergar o início dos Jogos de Tóquio, talvez essa seja a alternativa mais segura até o presente momento.