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Como Cássio acabou com ‘complexo’ de Tite e virou goleiro de Copa

Treinador conhece Cássio desde criança e é grato ao arqueiro pelo momento de virada em sua carreira. Na Rússia, dupla sonha em repetir glórias 

Complexo de vira-latas. A expressão criada pelo escritor, poeta, dramaturgo e apaixonado por futebol Nelson Rodrigues para descrever a síndrome de inferioridade dos brasileiros após a tragédia do Maracanazo, em 1950, acompanhou Tite, segundo ele conta, até 2012. A superação ocorreu quando o destino o uniu novamente a Cássio, a criança que acompanhava os atletas do Veranópolis na década de 90, e que seria herói de suas façanhas no Corinthians. Nesta segunda-feira, Tite citou Cássio na lista de 23 convocados da seleção brasileira para a Copa do Mundo. O grandalhão corintiano dificilmente entrará em campo na Rússia — o titular será Alisson e o reserva imediato Ederson —, mas pode colocar mais um título mundial no currículo. Mais um ao lado de Tite.

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Tabela completa de jogos da Copa do Mundo 2018

Só o treinador gaúcho pode dizer ao certo quanto a gratidão e a afinidade pesaram em sua escolha por Cássio. O camisa 12 vem em grande fase — foi herói no histórico título paulista na casa do rival Palmeiras —, mas tinha a forte concorrência de Neto, do Valencia, Marcelo Grohe (Grêmio) e Vanderlei (Santos), entre outros. No entanto, o fato de Tite tê-lo citado duas vezes, e espontaneamente, em uma entrevista ainda no início do ano, na sede da CBF, no Rio, demonstrou o carinho e admiração que sente pelo conterrâneo.

Nascido em Veranópolis, a pouco mais de uma hora de distância de Caxias do Sul, a terra de Tite, Cássio viu o chefe pela primeira vez quando tinha apenas 6 anos. Ele era mascote do Veranópolis  Esporte Clube (VEC), pelo qual Tite, então recém-aposentado meia de Guarani e Portuguesa, conquistou seu primeiro título, a Série B do Gauchão. Tite soube da história, já no Corinthians, mas não se lembrava de nada. Foi ele quem promoveu a entrada do goleiro, revelado pelo Grêmio e esquecido na Holanda, ao time titular do Corinthians em mais um incrível golpe do destino.

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Cássio era o reserva de Júlio César, que falhou feio na eliminação para a Ponte Preta no Paulista de 2012. Em busca do inédito e sonhado título da América, Tite sabia que precisava agir e resolveu apostar no grandalhão de 1,95 m, que se tornaria o goleiro mais vitorioso da história do Parque São Jorge. Cássio pegou tudo naquela Libertadores e também no Mundial de Clubes contra o Chelsea, no Japão. Foi naquele 16 de dezembro de 2012 que Tite se livrou da insegurança e passou a se ver como um técnico “top”.

“Passei por etapas. Antes eu olhava os outros técnicos de baixo para cima, hoje olho de igual para igual. Meu último complexo de vira-lata foi contra o Chelsea, e consegui vencer”, contou Tite. Foi aí que o treinador se lembrou de Cássio pela primeira vez na conversa. “Eu brinco sempre com o Cássio: ‘Consegui vencer meu complexo de vira-lata naquele dia. Mas tu me ajudou para car….’”, brincou, ainda em fevereiro, longe da convocação e das últimas grandes defesas de Cássio.

Tite citou Cássio outra vez, ao responder sobre a dificuldade de lidar com estrelas do calibre de Neymar, Daniel Alves e companhia, e eventualmente ter de cobrá-los com mais firmeza.

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“Não muda muito, eu nunca tive problema com isso. O treinador tem de ser justo e falar olho no olho. No Corinthians, tirei até o Ronaldo para se recondicionar fisicamente. Já barrei Rincón e Edmundo no Palmeiras, D’Alessandro no Inter, Roger (Machado) no Grêmio… Em 2016, me doeu colocar Cássio na reserva, mas era necessário e foi importante para ele”, contou, lembrando o momento mais duro do goleiro no Corinthians.

Em maio de 2016, pouco antes de Tite assumir a seleção, Cássio foi barrado por ele no Corinthians, menos de um semestre depois de brilhar na conquista do Brasileirão de 2015. O motivo: sobrepeso e uma certa acomodação nos treinos. A princípio, Cássio reagiu mal  esbravejou contra o preparador de goleiros Mauri Lima, jamais contra Tite —, mas conseguiu se reerguer. Com o apoio da esposa, parou de beber, retomou a forma física e a titularidade. Os títulos dos últimos estaduais e do Brasileirão de 2017 o credenciaram a estar na Rússia. A confiança de Tite também.

O goleiro Cássio, do Corinthians, realiza defesa durante as penalidades máximas, na final do Campeonato Paulista - 08/04/2018
Cássio brilhou em clássicos na semifinal e na final do Campeonato Paulista de 2018 Leonardo Benassatto/Reuters
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