Como a tecnologia permite aos veteranos do Fluminense sonhar com o título do Mundial
Tricolor Carioca tem 11 jogadores acima dos 30 anos e a maioria com mais de 40 jogos na temporada; segredo está no departamento de fisiologia e recovery
O Fluminense estreia no Mundial de Clubes da Fifa na próxima segunda-feira, às 15h (de Brasília), contra o vencedor de Al Ahly e Al-Ittihad. A experiência de atletas veteranos foi grande trunfo da equipe brasileira ao longo da temporada e assim deve ser também no torneio continental. Atletas como Fábio, Marcelo, Ganso e Germán Cano, todos acima dos 30 anos de idade, entraram em campo na maioria das vezes para decidir a favor do Tricolor das Laranjeiras. PLACAR tentou entender como os comandados de Fernando Diniz, mesmo com a idade avançada, pouco sofreram com o desgaste físico ao longo do ano. Em conversa com o fisiologista do clube, Juliano Spineti, descobrimos que a tecnologia permite aos mais velhos do Flu sonhar com o título do Mundial.
Para se encaixar na própria situação financeira e conseguir ser competitivo em 2023, o Fluminense montou um elenco de extremos: uns bem jovens e outros bastante experientes. O título inédito da Copa Libertadores ilustra o sucesso da fórmula. Apesar da mescla, o protagonismo recaiu sob os mais velhos. Na final do torneio continental, a média de idade tricolor bateu 32,2 anos entre os titulares.
Os veteranos da equipe carioca mostraram que a idade não é mais um problema, ainda que a exigência física seja grande. O time das Laranjeiras bateu 70 jogos na temporada e poucas vezes não pôde contar com seus medalhões. O segredo está fora de campo e é trabalho do departamento de fisiologia.
Os 30+ do Fluminense e o número de jogos na temporada:
Fábio (43 anos) – 65 jogos
Samuel Xavier (33 anos) – 52 jogos
Felipe Melo (40 anos) – 45 jogos
Manoel (33 anos) – 15 jogos
David Braz (36 anos) – 31 jogos
Marcelo (35 anos) – 30 jogos
Diogo Barbosa (31 anos) – 43 jogos
Thiago Santos (34 anos) – 18 jogos
Ganso (34 anos) – 54 jogos
Keno (34 anos) – 51 jogos
Germán Cano (35 anos) – 59 jogos
O recovery, ou recuperação, é justamente o trabalho de recuperar o atleta após todo o desgaste físico em uma partida de futebol – seja esse desgaste, ou estresse, algo preocupante acompanhado de uma lesão ou não.
“A recuperação dos atletas é um processo complexo, com várias etapas”, diz Juliano Spineti, fisiologista do Fluminense. O profissional separa o processo em três etapas: “A mais importante é o sono, que vai ajudar a restaurar toda a condição física dos atletas. Em segundo ponto entra a questão da alimentação. Apenas por último que entra a recuperação muscular, como as botas pneumáticas, o cryosport. Hoje também temos os lasers e as luzes de LED que ajudam na recuperação”.
Alguns comandados de Fernando Diniz sofreram sim com problemas físicos ao longo da temporada, mas poucos foram desfalques – ainda menos em jogos decisivos. Aos 43 anos, o goleiro Fábio perdeu somente cinco jogos durante todo o ano. O trio Felipe Melo, Ganso e Keno tiveram problemas físicos, mas todos bateram a marca de 50 jogos em 2023 – à exceção do zagueiro, que somou 45 partidas.
O trabalho mais notável da fisioterapia do Fluminense ficou com o capitão da equipe. O zagueiro Nino sofreu um entorse no joelho esquerdo às vésperas da final da Libertadores. O defensor conseguiu se recuperar em pouco mais de uma semana e liderar o tricolor carioca ao título inédito.
“Tenho certeza que a tecnologia, os processos e a metodologia ajudaram o Fluminense ao longo da temporada. As pessoas já estão há bastante tempo no clube, conhecem muito bem as engrenagens, as relações interpessoais entre os departamentos”.
“Hoje, o desgaste no futebol brasileiro é maior, o tempo de jogo é maior, o número de competições é maior e o tempo de recuperação é menor. Joga-se no domingo, na segunda o atleta folga, na terça ele faz regenerativo para viajar no final do dia e jogar na quarta-feira. E quando que se treina? A questão é recuperar os atletas, vai ganhar o jogo quem conseguir recuperar melhor”, diz Rodrigo Santana, CEO da Avanutri, healthtech brasileira parceira do Fluminense para o desenvolvimento e assistência de tecnologias fisiológicas.
O empresário explica que a ideia de trabalhar com recovery (recuperação) de atletas de alto rendimento surgiu a partir de uma demanda do mercado: “Fomos procurados por fisiologistas em meados de 2016, quando o setor era refém de tecnologias americanas e europeias”. À época, não existia um relacionamento entre os clubes e empresas e, por isso, ficava difícil ter um trabalho individualizado. No entanto, o maior problema estava na assistência e logística.
“Deu problema no equipamento, eu tenho que exportar, esperar para ficar pronto e importar novamente, e a fisioterapia não tem todo esse tempo. O atleta está machucado e precisa se recuperar o mais rápido possível”, ilustra Rodrigo.
A Avanutri também tem parcerias com Botafogo e Vasco, Corinthians e São Paulo, Grêmio, Cruzeiro e até mesmo com as seleções do Uruguai e Paraguai, além de viver um período de avaliações com o Flamengo.
Ainda assim, o Fluminense se tornou o grande case de sucesso da empresa: “Existe a particularidade de uma equipe com a idade mais avançada. O recovery nesses atletas é muito mais importante. Todos os jogadores do Flu têm equipamentos em casa”.
Para o Mundial de Clubes, o Fluminense não mudou a estratégia de preparação: “Usamos o final do Campeonato Brasileiro para manter os atletas em situação de jogo e treino. Mesmo com o espaçamento maior até o jogo do Mundial, fazemos ciclos semelhantes aos de jogos, com quatro dias de treino e um dia de descanso”, comenta o fisiologista do clube.
Para Juliano Spineti, o Fluminense é um exemplo claro de como atletas conseguem desempenhar em alto rendimento e com a frequência exigida no futebol brasileiro mesmo com a idade mais avançada. O Tricolor das Laranjeiras conquistar a Libertadores e disputar o Mundial apenas elucida a tese.
“Tenho certeza que a medicina do esporte, a ciência, os avanços tecnológicos, os processos implementados e sobretudo o profissionalismo dos atletas faz com que cada vez eles consigam manter um alto nível de desempenho atlético, físico, competitivo. Mesmo com idades mais avançadas. Eu acho que não é só tecnologia, não é só ciência, não são os processos e metodologias, nem só o atleta. É o conjunto de todos esses fatores”, completa.
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