Com novas regras, futebol da China volta a assombrar clubes do Brasil
Controle dos gastos no futebol chinês deve dificultar negócios com grandes mercados europeus
A decisão da China de impor, a partir da próxima temporada, profundas mudanças no seu campeonato nacional, incluindo teto salarial aos jogadores, deve afetar diretamente o mercado brasileiro. Dirigentes e empresários acreditam que, com menos dinheiro para atrair jogadores que atuam na Europa, os clubes chineses voltarão a atacar com força no Brasil, em um movimento semelhante ao de 2016, quando fizeram uma devassa no País.
Naquele ano, o Corinthians, então campeão brasileiro, por exemplo, perdeu quatro titulares para o futebol chinês: Ralf, Jadson, Renato Augusto e Gil. Agora, o palmeirense Dudu pode puxar a fila. Os chineses estariam dispostos a oferecer salário mensal de 3 milhões de reais ao atacante, eleito craque do Brasileirão. Este ano, o Palmeiras já rejeitou duas propostas do Shandong Luneng pelo jogador, sendo uma delas no valor de 15 milhões de euros (65,4 milhões de reais na cotação atual).
Para 2019, a Associação de Futebol da China pretende adotar diversas medidas com o objetivo de desestimular os gastos dos clubes. A avaliação é que a contratação de jogadores e treinadores estrangeiros de primeiro escalão nos últimos anos não teve o efeito esperado no desempenho da seleção chinesa. Por isso, a intenção agora é frear e reavaliar esses investimentos. Hoje, cerca de 30 jogadores brasileiros jogam no futebol chinês (incluindo primeira e segunda divisão).
O valor do novo teto salarial ainda não foi revelado, mas especula-se que os clubes da primeira divisão poderão gastar até 1,2 bilhão de iuanes (670 milhões de reais) por ano, enquanto que na segunda divisão o máximo seria de 850 milhões de iuanes (450 milhões de reais). Pela nova regra, os clubes teriam ainda uma contabilidade unificada e os contratos deverão seguir um padrão recomendado pela Associação de Futebol da China, com limite de bônus e premiações. Os pagamentos em dinheiro por vitória e metas alcançadas também serão proibidos.
“Com essas mudanças, a concorrência vai diminuir. As negociações maiores, nos mercados mais caros da Europa, não vão mais ocorrer como antes. Os chineses deverão fazer negócios com mercados de segunda linha, onde o Brasil é muito competitivo. Entre um jogador de um time médio de Portugal e um atleta de um clube grande do Brasil, os valores são semelhantes e os chineses preferem os brasileiros”, apontou Marcelo Robalinho, empresário de mais de 50 atletas, entres eles o meia Jadson, que em 2016 trocou o Corinthians pelo Tianjin Quanjian – na temporada seguinte, voltou ao Parque São Jorge.
Para o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan Junior, além dos efeitos já nesta janela de transferências, as alterações nas regras de contratação do futebol chinês podem, a médio prazo, mudar até o perfil dos negócios feitos com os clubes asiáticos. “Jogadores de porte médio do futebol brasileiro passarão a interessar à China e não só os atletas de ponta”, apostou.
O ex-jogador Scheidt, que atualmente é empresário e negocia a venda de jogadores para a Ásia, acredita que a partir da próxima semana, quando a Associação de Futebol da China deve divulgar oficialmente os valores do teto salarial, os clubes iniciarão o ataque aos jogadores brasileiros. “Além do preço, os chineses gostam do mercado brasileiro e do estilo dos nossos atletas”, disse.
O futebol chinês está em recesso. A temporada acabou em novembro e os jogos voltarão a ser disputados na última semana de fevereiro.