Coincidência? Especialistas debatem o excesso de gols contra na Euro
Ex-árbitros e o ex-zagueiro Mauro Galvão analisam os lances e citam mudanças nas regras e infelicidades; competição já registou nove bolas na própria rede
Além de estar sendo palco de jogos históricos e diversas zebras, a Eurocopa deste ano vem registrando uma particularidade: um número recorde de gols contra. As súmulas já registraram nove bolas na própria rede, igualando em apenas uma edição o mesmo número de todas as outras 16 desde a criação do torneio, em 1960. A pedido de PLACAR, os ex-árbitros Arnaldo Cezar Coelho e Salvio Spínola e o ex-zagueiro Mauro Galvão tentaram entender as razões de tantos gols contra.
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Curiosamente, esta edição foi justamente aberta com um tento marcado contra o próprio patrimônio, por Merih Demiral, da Turquia, em jogo contra a Itália, no jogo de estreia, em Roma, após um cruzamento rasteiro e uma tentativa infeliz de corte do zagueiro turco. Outros quatro gols contra no campeonato tiveram um enredo parecido: cruzamento forte e baixo e interceptação errada do defensor (confira na tabela abaixo).
No futebol atual, existe a tendência de que, sem bola, em momento de organização ofensiva, os times fechem o centro de maneira compacta. Assim, o time que ataca, explora as laterais em muitas ocasiões. O ex-zagueiro Mauro Galvão, tetracampeão brasileiro e jogador de duas Copas do Mundo (1986 e 1990) comentou sobre o tema: “No futebol de hoje acontece que, às vezes, o zagueiro precisa correr contra o próprio gol e interceptar um cruzamento. Assim, pode acabar em infelicidade, como alguns que vi nesta Eurocopa.”.
Além disso, em modelos de jogo com muita pressão alta na defesa, os zagueiros e goleiros são mais exigidos com a posse da bola. Nas oitavas de final, em Espanha x Croácia, Pedri recuou a bola para o goleiro Unai Simón, que ‘furou’ o domínio e La Roja acabou marcando contra. “O objetivo sempre é fazer gol e não atrasar pro goleiro e para o zagueiro. Ficar com 70% de posse de bola e não chutar no gol não adianta nada. É minha opinião. Cada um tem que jogar como sabe, o grosso não pode ser ensinado a ser bom. Se você, defensor, sabe sair jogando, aí é bom. Mas se não sabe, bola pra frente.”, completou o ex-zagueiro sobre a maior utilização de defensores na manutenção da posse de bola.
O número recorde de bolas na própria rede também pode ser explicado por orientações na regra. A Uefa, entidade responsável pela Eurocopa, decidiu adotar como gol contra lances em que a bola acerta a trave, rebate no goleiro e cruza as linhas. Dois dos noves gols aconteceram assim.
Sobre a mudança na regra, o ex-árbitro e ex-comentarista Arnaldo Cezar Coelho afirmou: “Isso, com certeza, superfatura os números. Mas, pra mim, isso é injusto com o goleiro e com o jogador que chutou a bola, porque praticamente tira o mérito.”, disse Arnaldo. Tese semelhante foi adotada por Salvio Spínola, ex-árbitro e comentarista do Grupo Globo, que citou a orientação da Uefa como fator crucial.
Perguntado sobre uma possível influência da proibição dos goleiros pegarem recuos com as mãos, Salvio ressaltou: “A mudança na regra é antiga, do início da década de 90, não acho que tenha influência direta”.
Como foram os gols contra da Euro 2020:
– Merih Demiral, da Turquia, falhou ao tentar um corte após cruzamento rasteiro contra a Itália
– Mats Hummels, da Alemanha, falhou ao tentar um corte após cruzamento rasteiro contra a França
– Wojciech Szczesny, goleiro da Polônia, teve um gol contra assinalado após a bola bater na trave e rebater nele, contra a Eslováquia
– Rúben Dias, de Portugal, tentou cortar cruzamento da Alemanha, mas marcou contra
– Raphael Guerreiro, assim como seu companheiro Rúben Dias, tentou cortar cruzamento da Alemanha, mas balançou a própria rede
– Lukas Hradecky, goleiro da Finlândia, marcou contra após bate-rebate entre ele e a trave, contra a Bélgica
– Juraj Kucka, Eslováquia, após confusão na pequena área, marcou contra, em jogo contra a Espanha
– Martin Dúbravka, goleiro eslovaco, tentou jogar a bola por cima do gol, mas falhou e marcou contra o próprio patrimônio contra a Espanha
– Pedri, da Espanha, marcou depois que o goleiro Unai Simon ‘furou’ um recuo contra a Croácia