Antes de virarem ídolos de clubes grandes, craques como Zidane, Sócrates e Maradona deram seus primeiros passos em equipes de menor tradição
Nem toda lenda nasce em um gigante. Antes de brilhar nos maiores palcos do mundo, alguns craques começaram suas carreiras em clubes de menor expressão. Alguns desses times homenageiam esses jogadores até hoje e se orgulham de ter sido o celeiro de talentos que marcaram época.
De cidade do interior da Alemanha a filial em Moçambique, clubes modestos foram berço de talentos que depois levantaram Copas do Mundo, Ligas dos Campeões e Bolas de Ouro.
PLACAR agora está nas bancas e em todas as telas. Assine a revista digital
Abaixo, PLACAR relembra os primeiros passos profissionais de 11 ídolos que surgiram em clubes de menor expressão, mas logo mostraram estar destinados a voos maiores:
Zinedine Zidane.#Cannes pic.twitter.com/e1evWaYfIJ
— Olympia (@olympia_vintage) May 14, 2020
Zizou começou a carreira no modesto Cannes, da Riviera Francesa. Nascido em Marselha, o meia nunca realizou o sonho de atuar pelo seu clube de infância, o Olympique. Chegou a fazer testes, mas foi recusado por ser considerado lento pelo então técnico Raymond Goethals. Pelo Cannes, Zidane subiu ao profissional com 17 anos e disputou 61 partidas, marcando 6 gols, antes de ir para o Bordeaux e posteriormente ganhar o mundo por Juventus e Real Madrid.
🇭🇺 Ferenc Puskás na carreira:
– 698 jogos
– 683 gols— Futebol Nostálgico! (@futnostalgico) June 23, 2025
Antes de virar um ícone do Real Madrid, o “Major Galopante” fez história no Kispest. modesto time da Hungria. Sua ida para a Espanha tem contornos trágicos.. Em 1948 Puskás era o artilheiro da Liga Húngara com 50 gols. Um ano depois, o regime comunista do país transformou o Kispest em um time militar, chamado Honved transformando todo jogador em um potencial soldado. Em 1956, o sonho seria interrompido por um desfile de tanque soviéticos por Budapeste. A URSS acabou com o time e com a seleção nacional naquela época. Foi quando Puskás decidiu não voltar mais. A ditadura passou a difamá-lo, chamando de “desertor, gordo e contrabandista”. Pelo Kispest/Honved, fez 367 jogos e 383 gols, um número surreal, entre 1943 e 1956.
Roberto Carlos, jogador do União São João – Nelson Coelho/PLACAR
Foi na pacata Araras, município paulista de cerca de 130.000 habitantes, a 170 km da capital, que um dos maiores laterais-esquerdos de todos os tempos começou a chamar atenção no futebol brasileiro. No União São João, entre 1991 e 1993, Roberto Carlos disputou 67 partidas e marcou 6 gols, exibindo desde cedo a força absurda no chute e a velocidade que o tornariam uma lenda. A passagem rápida pelo clube abriu as portas para o Palmeiras, primeiro grande passo rumo a uma carreira de ídolo global.
O “Bombardeiro da Nação” e lenda do Bayern de Munique. Gerd Müller deu seus primeiros passos no Nördlingen, clube da pequena cidade onde nasceu. Nascido em 1945, era o quinto filho de uma família humilde e começou a jogar futebol nas ruas enquanto trabalhava como tecelão para ajudar em casa. Foi no TSV Nördlingen que, ainda adolescente, marcou impressionantes 180 gols em apenas uma temporada da base. No ano seguinte, já no time principal e com apenas 18 anos, fez 47 gols em 28 partidas, levando o clube à Liga Regional da Baviera. O estádio local hoje leva seu nome, e uma estátua de bronze eterniza o maior ídolo da pacata cidade de 20 mil habitantes, localizada a 150 km de Munique.
Estátua do Gerd Müller em Nördlingen – Divulgação Bayern Munich
Muito antes de se tornar símbolo da elegância no futebol europeu, Michel Platini lapidou seu talento no modesto Nancy. Aos 16 anos, foi de rejeitado por problemas físicos no Mets, para estrear com 17 anos no Nancy. Enfrentou uma sequência de lesões graves no início da carreira, como fratura no tornozelo, lesão no menisco e até um traumatismo craniano. Superou cada uma delas e, a partir de 1978, explodiu como um craque absoluto. Ao todo, disputou 181 partidas e marcou 98 gols pelo Nancy. Em 1979, quase trocou o clube pela Inter de Milão, mas a negociação foi interrompida depois que os franceses consideraram ofensiva a abordagem dos italianos. “Meu coração está entre a Inter e o Nancy”, afirmou Platini à PLACAR na época. O meia-atacante preferiu seguir no futebol francês e assinou com o Saint-Étienne, antes de se consagrar pela Juventus.
🎂🔴⚪ Joyeux anniversaire à une légende !
Aujourd’hui, nous fêtons l’anniversaire de Michel Platini, pur produit de la formation nancéienne, Ballon d’Or et légende du club.
De Marcel-Picot à la gloire internationale, ton élégance et ta vision du jeu ont marqué à jamais notre… pic.twitter.com/eVOA3RaSEt
— AS Nancy-Lorraine (@asnlofficiel) June 20, 2025
O maior nome da história do Benfica e do futebol português quase teve seu destino traçado no Alvalade. Ainda em Moçambique, colônia lusitana e seu país natal, Eusébio defendia o Sporting de Lourenço Marques, filial do clube lisboeta na África, onde marcou 77 gols em apenas 42 partidas entre 1957 e 1960. O talento do jovem atacante despertou o interesse dos dois gigantes de Lisboa, e a disputa foi intensa. O ponto de virada aconteceu quando o Benfica fez uma excursão a Lourenço Marques e o técnico brasileiro Otto Glória, encantado com o futebol do garoto, convenceu a diretoria a agir rápido. “Um excelente jogador, com possibilidades muito grandes de chegar à seleção portuguesa”, afirmou Oto. O contrato mais vantajoso pesou, e Eusébio embarcou para Lisboa. Em sua temporada de estreia, em 1961/62, o Pantera Negra já ajudava o Benfica a conquistar sua segunda Liga dos Campeões.
Eusebio en su época de juvenil del Sporting Lourenço Marques. 1959/1960. pic.twitter.com/NKnIZZ6lo3
— Nostalgia Futbolera ® (@nostalgiafutbo1) August 4, 2021
Happy Birthday to Ruud GULLIT (HFC Haarlem 1981-82) pic.twitter.com/WYHWKw9iOu
— Old School Panini (@OldSchoolPanini) September 1, 2013
Aos 16 anos, o craque holandês Ruud Gullit foi lançado no profissional pelo HFC Haarlem e rapidamente se destacou pelo físico imponente, técnica refinada e presença marcante no jogo aéreo. Entre 1979 e 1982, disputou 91 partidas e marcou 32 gols, sendo peça fundamental na campanha que levou o clube de volta à primeira divisão. Gullit virou sensação no país ao ser o mais jovem jogador a atuar na elite holandesa naquela época. Avesso a bater pênaltis, chamava atenção pelos gols de cabeça, facilitados por sua estatura de 1,92 metro e ótima impulsão. Seu desempenho no Haarlem foi tão impressionante que chamou a atenção do Feyenoord, que o contratou em 1982.
Sócrates em ação pelo Botafogo, em 1976 – José Pinto/PLACAR
Nascido em Belém (PA), Sócrates Brasileiro mudou-se com a família, ainda criança para Ribeirão Preto, cidade no interior paulista onde conciliou bola e bisturi. Estreou em 1974 pelo Botafogo-SP, enquanto ainda cursava Medicina na Universidade de São Paulo, o que lhe rendeu o apelido que o acompanharia para sempre: “Doutor”. Quase não treinava, mas encantava a torcida como se vivesse no campo. Em 1977, sob o comando de Jorge Vieira, brilhou na campanha histórica da equipe que venceu a Taça Cidade de São Paulo, sendo o artilheiro do torneio e protagonista ao lado de Zé Mário. Se despediu em 1978 rumo ao Corinthians, do qual fez parte, em todas as eleições de PLACAR, de seu Time dos Sonhos. Pela Pantera, Sócrates somou 99 jogos e 35 gols tão marcantes que hoje o estádio Santa Cruz exibe uma estátua em sua homenagem.
Come-Fogo: a história do clássico de Ribeirão Preto que aquece Copa Paulista
Aos 15 anos, o jovem Roberto Baggio dava seus primeiros dribles no Vicenza, clube da então Terceira Divisão italiana. Com toques refinados e um jeito especial para bater faltas, logo virou protagonista. Foram 87 jogos e 56 gols até, aos 18, se tornar notícia em toda a Itália ao ser vendido para a Fiorentina por 1,5 milhão de dólares. O investimento foi aprovado por Bruno Giorgi, seu técnico, que via nele traços de Zico e elogiava sua inteligência em campo e fôlego de sobra. Da Viola, transferiu-se para a Juventus e virou uma estrela da seleção italiana.
Baggio pelo Vicenza – Reprodução Wikimedia
Ídolo da Seleção, Didi começou no Americano de Campos, onde estreou no profissional em 1946. Estreou aos 16 anos e rapidamente se destacou nos Campeonatos Campistas de 1946 e 1947 com sua classe e visão de jogo incomuns para a época. Foi nos campos do interior fluminense que nasceu o maestro da “folha seca”.
Didi. pic.twitter.com/nJa9FgtlPn
— Nostalgia Futbolera ® (@nostalgiafutbo1) August 26, 2021
O bairro de La Paternal, em Buenos Aires, forjou a perna esquerda de um gênio. Maradona iniciou a carreira no Argentinos Juniors em 1976, aos 15 anos, após ser descoberto na equipe “Cebollitas”, de seu bairro, Villa Fiorito. Em cinco temporadas, Diego marcou 116 gols em 166 jogos, números impressionantes para um garoto franzino que jogava como veterano. No estádio La Paternal, rebatizado para Diego Armando Maradona em sua homenagem, permanece o legado de um craque que transformou o clube num símbolo de revelação de talentos, como Sorín e Riquelme.
Maradona vestindo camisa do Argentinos Juniors – Divulgação Argentinos Juniors