Publicidade
Publicidade

Casos de racismo disparam em 2021 no futebol brasileiro

Observatório Racial do Futebol monitora 53 eventos de discriminação racial neste ano; RS é o estado com maior histórico

O país do futebol e do racismo. Constantemente pintada como tolerante, a sociedade brasileira, na verdade, mostra cada vez mais uma face obscura e preconceituosa. O esporte não é exceção e carrega um agravante: muitas vezes, crimes cometidos nas arquibancadas são minimizados e tratados como mera “brincadeira entre torcedores”. O Observatório Racial do Futebol estuda desde 2014 casos de discriminação e divulga relatórios anuais cada vez mais preocupantes. Em 2021, de 1º de janeiro para cá, o grupo já monitorou 53 casos, um dos números mais altos do levantamento histórico.

Publicidade

 Assine #PLACAR digital no app por apenas R$ 6,90/mês. Não perca!

Os mais recentes eventos aconteceram no jogo de volta da final da Copa do Brasil, disputada na última quarta-feira, 14, entre Athletico-PR e Atlético Mineiro, vencida pelo time de Minas Gerais. A Arena da Baixada foi palco de diversos crimes de racismo, cometidos por ao menos dois homens e uma mulher da torcida mandante, que imitaram macacos e fizeram gestos relacionados à cor da pele para ofender os rivais. Vídeos foram gravados e mostram claramente os responsáveis pela atitude. A investigação é, teoricamente, fácil.

Marcão treinou o Fluminense neste Bras

Por outro lado, pouco se pune quando o assunto é discriminação no futebol brasileiro. Neste ano, o meia Celsinho, do Londrina, foi vítima de ofensas racistas de pessoas ligadas à diretoria do Brusque. O clube de Santa Catarina chegou a ser punido com a perda de três pontos na Série B do Brasileirão, mas o STJD julgou a decisão e devolveu a pontuação ao time.

Publicidade

Além disso, espaços de protagonismo são praticamente exclusivos para brancos no futebol brasileiro, assim como na sociedade. Segundo estudo realizado pelo Instituto Locomotiva, chamado “Racismo no Brasil”, apenas 22% dos cargos de chefia no país são ocupados por negros. Da mesma forma, o Brasileirão deste ano contou apenas com dois treinadores pretos ou pardos, Roger Machado e Marcão. Ambos sem continuidade no trabalho.

Observatório Racial do Futebol

Anualmente, o Observatório Racial do Futebol divulga relatórios repletos de dados, gráficos e textos, com todos os casos de preconceito do esporte mundial. Em 2020, o último material divulgado, os gráficos apontaram uma queda nos casos, com 31 de racismo, 68 de discriminação. No entanto, o escritor Marcelo Carvalho, membro do Observatório, explica: “Os dados monitorados desde 2014 apontam uma curva crescente nos números de denúncias de racismo. Em 2020 a curva foi interrompida, muito por conta da pandemia, não por ação de combate. Durante três meses não tiveram jogos e o restante os torcedores não estiveram nos estádios.”

.
Casos de discriminação disparam ano após ano

O contexto da pandemia, porém, não foi suficiente para frear o preconceito.  “Houve registros mesmo assim, foram 31 denúncias monitoradas, e muito dos casos mostram que não são só torcedores. Muitas vezes foram dirigentes e membros da comissão técnica. Então, aquela velha máxima que os clubes reproduzem de ser algo apenas vindo do torcedor e, por isso, ser incontrolável, cai por terra. O racismo também está dentro dos clubes”, salienta Carvalho.

Publicidade

Entre os estados com mais casos de racismo, o Rio Grande do Sul lidera em todos os sete relatórios divulgados. O estado mais ao sul do país é o segundo com menos porcentagem de população autodeclarada preta ou parda do país, perdendo apenas para Santa Catarina, de acordo com o IBGE. Em 2019, o IDH-M (índice de desenvolvimento humano municipal) constatou que o RS é um dos três estados com maior desigualdade entre negros e brancos.

Perspectiva de futuro

Os movimentos sociais começaram a tomar a internet contra o racismo, como o Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), que ganhou mais relevância nas redes após George Floyd ser assassinado pelo policial Derek Chavin, em maio de 2020. No caminho oposto, manifestações de ódio e de supremacia branca, mais comumente em movimentos políticos de extrema-direita, saíram do silêncio e mobilizaram parte da população. A Eurocopa, disputada entre junho e julho deste ano, registrou alto número de casos e o Brasil, com a volta do público aos estádios, também foi palco de intolerância e crimes.

Marcelo Carvalho, no entanto, demonstra preocupação com a situação: “Com a volta dos torcedores aos estádios, infelizmente, os casos de racismo voltaram com números assustadores. Parece que o torcedor voltou angustiado, com ódio.” O escritor ainda expôs sua indignação com a impunidade e a uma espécie de naturalização do problema. “Esses números aumentaram e ainda continuamos sem nenhuma ação contundente de clubes ou entidades para o combate. Muitas vezes o que fazem são manifestações no dia 20 de novembro, dia da Consciência Negra. Só isso. Os casos de racismo aumentam, as punições, não. O racista fica tranquilo de ir ao estádio, cometer o crime e sair impune.”

https://www.youtube.com/watch?time_continue=1&v=KmWpDIF6aw4&feature=emb_title

Publicidade