Bryan Garcia faz acordo e vira testemunha na Operação Penalidade Máxima
Desligado do Athletico Paranaense, volante equatoriano admitiu ter recebido compensação financeira para levar um cartão amarelo no Brasileirão de 2022
O volante equatoriano Bryan Garcia fechou acordo com o Ministério Público de Goiás (MP-GO) para ser uma das testemunhas na Operação Penalidade Máxima, investigação que apura manipulação de resultados em partidas de futebol. Desligado recentemente do Athletico Paranaense, após ser nominalmente citado com o lateral-esquerdo Pedrinho em uma planilha de apostadores, o jogador admitiu ter recebido compensação financeira para levar um cartão amarelo na vitória por 1 a 0 do Furacão contra o Fluminense, em 3 de setembro do último ano, em confronto pela 25ª rodada do Brasileirão. A informação foi inicialmente divulgada pelo site ge.
De acordo com a reportagem, segundo a defesa de Garcia, o MP-GO ofereceu um acordo para que ele não se torne réu, mas seja testemunha na investigação.
O cartão amarelo forçado pelo jogador ocorreu pouco após entrar em campo, aos 41 minutos do segundo tempo, ao fazer falta no colombiano Jhon Arias. Ele atuou apenas sete vezes na competição, com pouco 276 minutos jogados, sem contabilização dos acréscimos.
Bryan Garcia foi desligado do Furacão junto com Pedrinho no último dia 12 de maio. Na ocasião, o clube informou que “não se manifestará mais a respeito, inclusive por meio de seus profissionais, por entender que a questão deve ser tratada pelas autoridades competentes”.
Na justificativa para a medida, o Furacão explica que “a integridade e a ética são valores irrenunciáveis no Club Athletico Paranaense” e ainda diz que irá continuar “combatendo duramente toda e qualquer conduta que ameace sua dignidade e credibilidade”.
Outros jogadores já confessaram que fizeram parte da manipulação de jogos do Brasileirão em 2022. Em vídeos obtidos com exclusividade pelo site Uol, o lateral Moraes, à época no Juventude, e o zagueiro Kevin Lomónaco, do Red Bull Bragantino, confirmaram que receberam dinheiro de aliciadores por cartões amarelos. Em colaboração com as investigações, a dupla fez acordo com o MP do estado.
O lateral Moraes defendeu a camisa do Juventude na última edição do Campeonato Brasileiro. Em vídeo, o atleta revelou que recebeu R$ 25 mil para receber cartões amarelos em duas oportunidades – jogos contra Palmeiras e Goiás.
O zagueiro argentino Kevin Lomónaco, do Bragantino, também confessou participação no esquema. O atleta combinou com os aliciadores que receberia R$ 70 mil por um cartão amarelo contra o América-MG, mas recebeu apenas R$ 20 mil do combinado.
Pela dupla afastada, o clube paranaense gastou 17 milhões de reais – 8,5 milhões de reais por cada um. O defensor chegou do Vitória, em 2021, enquanto o volante equatoriano do Independiente Del Valle em janeiro de 2022.
Jogadores denunciados
Eduardo Bauermann (Santos)
Gabriel Tota (ex-Juventude, atualmente no Ypiranga)
Victor Ramos (ex-Portuguesa, atualmente na Chapecoense)
Igor Cárius (ex-Cuiabá, atualmente no Sport)
Paulo Miranda (ex-Juventude, atualmente no Náutico)
Fernando Neto (ex-Operário, atualmente no São Bernardo)
Matheus Gomes (Sergipe)
Apostadores e organizadores denunciados
Bruno Lopez de Moura
Ícaro Fernando Calixto dos Santos
Luís Felipe Rodrigues de Castro
Victor Yamasaki Fernandes
Zildo Peixoto Neto
Thiago Chambó Andrade
Romário Hugo dos Santos
William de Oliveira Souza
Risco de banimento: quais as possíveis punições?
De acordo com o Código Brasileiro de Justiça Desportiva, caso o envolvimento do atleta em manipulações de resultado seja comprovado, ele deve pagar uma cláusula indenizatória a seu clube, além de multa que pode chegar 100.000 reais, e pode encarar uma suspensão de 360 a 720 dias (um a dois anos).
Há ainda o risco de os envolvidos receberam punições no âmbito penal, conforme explica a PLACAR Mariana Chamelette, advogada e procuradora do Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol de São Paulo.
“Os atletas podem ser penalizados pela Justiça Penal, tendo em vista os artigos previstos no Estatuto do Torcedor, que criminalizam as condutas relacionadas à manipulação de resultados, previstas nos artigos 41 c, 41 d, 41 e”, afirma Mariana Chamelette. As punições vão de dois a seis anos de reclusão, além de multa.
Os envolvidos ainda podem ser penalizados no âmbito das entidades estaduai, nacionais e até mesmo da Fifa, o que pode levar até à exclusão geral do futebol.
“O próprio Código de Ética da Fifa traz previsões de penalidades que chegam no limite ao banimento do esporte. O artigo 30 do Código de Ética da Fifa traz expressamente a possibilidade de o órgão máximo do futebol adjudicar para seu comitê disciplinar a possibilidade de penalizar caso de manipulação de resultados”, completa Mariana Chamelette, que também é vice-presidente do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo.