Brasil x Argentina: cancelamento e ‘clássico da Anvisa’ acirram rivalidade
Amistoso cancelado na Austrália foi assunto sensível após a convocação desta quarta-feira; reencontro tenso acontecerá em 22 de setembro
“Tenho opinião, mas vou guardar…”. O técnico Tite, da seleção brasileira, resumiu com breves palavras, mas sem esconder a visível expressão de descontentamento aos questionamentos pelo cancelamento do amistoso com a Argentina, que seria disputado em 11 de junho, na Austrália, anunciado pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) minutos antes da convocação para as partidas diante da Coreia do Sul e Japão, marcados para 2 e 6 de junho, em Seul e Tóquio, respectivamente. O tema foi assunto sensível na coletiva e acirra, ainda mais, a rivalidade entre os países.
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“Não é o fato de jogar contra a Argentina, ou não. É todo um planejamento. Temos que planejar antes, tem a logística de viagem. Isso não é de uma hora para outra. É prejudicial esse jogo ser cancelado. Em relação ao jogo de setembro, estamos ainda discutindo internamente e juntamente com a presidência. Tivemos a resolução da Fifa”, explicou o coordenador da seleção Juninho Paulista.
O rival seria o terceiro adversário da série de três amistosos planejados para a Data Fifa. A CBF, agora, busca convencer uma seleção africana, em jogo que deve ser disputado na Europa.
“Há o mundo ideal e o mundo real. A gente lutou para fazer o jogo contra o vice-campeão europeu. Vai ter Argentina x Itália e tentamos enfrentar a Inglaterra, buscamos todas as alternativas. Gostaríamos que fosse um europeu. Inglaterra, Bélgica, Holanda, Alemanha, Espanha, mas não dá. Procuramos a melhor opção possível para fazermos o enfrentamento”, disse Tite.
“A gente sempre se prepara para os próximos compromissos. É desta maneira que entendíamos e teremos que ajustar para um próximo adversário. Estávamos preparados e não vai acontecer. Futuramente, vindo a enfrentá-los, nos prepararemos novamente”, completou o auxiliar César Sampaio.
Ainda não foram expostos os motivos para o cancelamento, que segundo Juninho foi comunicado pela Pitch, empresa que organiza os amistosos das duas seleções, mas é notório que causou impactos diretos no planejamento e alavancou ainda mais a rivalidade entre as seleções, já potencializada nos últimos anos. Em abril, quando o amistoso foi anunciado pelos australianos, a federação argentina admitiu ter sido pega de surpresa.
‘Clássico da Anvisa’
Ainda é assunto polêmico o jogo abandonado em 5 de setembro de 2021, pelas Eliminatórias da Copa, quando fiscais da Anvisa invadiram o campo da Neo Química Arena em São Paulo, nos primeiros minutos de bola rolando. Jogadores ainda tentaram conversar com os agentes sanitários para que o jogo continuasse, mas logo os argentinos saíram de campo, e a partida foi cancelada.
Havia a expectativa de que o jogo na Austrália pudesse valer estes pontos das Eliminatórias, mas a Fifa ordenou que o confronto fosse disputado em outra data – acontecerá em 22 de setembro – e ainda multou a CBF e a Associação do Futebol Argentino (AFA) pelos incidentes ocorridos antes e durante a partida. A CBF recebeu uma multa total de 550 mil francos suíços, pouco mais de 3 milhões de reais, enquanto a AFA terá que pagar 250.000 francos suíços, ou 1,4 milhão de reais.
Por fim, o goleiro Emiliano Martínez e o meia Emiliano Buendía, do Aston Villa, o zagueiro Cristian Romero, do Tottenham, e o meia Giovani Lo Celso, que na ocasião também jogava no Tottenham, e hoje defende o Villarreal, da Espanha, foram suspensos por dois jogos por descumprirem o protocolo da Fifa para a Covid-19 em partidas internacionais.
Tite já fez diversas críticas aos argentinos pelo episódio e se mostrou a favor da remarcação. “Precisa, é bom, é correto, é justo e deva ser. Independentemente do risco que se corra. Eu podia estar numa situação muito confortável e colocar ‘não, deixa assim, vamos protelar para a Copa’. Não, tem que que fazer o que é correto, tem que ter o enfrentamento contra a Argentina”, disse o técnico em entrevista ao SporTV no último dia 5 de abril.
“No meu entender deveria ser no Brasil, no meu particular. O justo seria no Brasil. Não é? Vamos em qualquer que seja o lugar, vamos para medir forças. Inclusive serve de preparação para a Copa do Mundo”, acrescentou.
O cancelamento do amistoso é visto como nocivo já que este será o maior período em que jogadores ficarão reunidos antes da estreia da Copa quando terão dez dias entre a apresentação e a primeira partida, diante da Sérvia, em 24 de novembro.
Esquenta ainda mais o clima entre as seleções recentes desavenças como a polêmica discussão entre Tite e Messi, em 15 de novembro de 2019, durante partida amistosa em Riade, na Arábia Saudita. Os dois chegaram a trocar insultos em campo.
“Eu só reclamei porque era para ele tomar cartão e ele me mandou calar a boca, depois eu mandei ele calar a boca. E acabou. Não quero responder isso para não colocar situações”, explicou Tite na ocasião.
Meses antes, o treinador já havia subido o tom contra a declaração do craque argentino de que a Copa América estava arranjada para o Brasil vencer. “Um pouco mais de cuidado e respeito”, rebateu.
No último ano, a seleção argentina fez história ao conquistar em pleno Maracanã, diante do próprio Brasil, a 47ª edição da Copa América encerrando um jejum de 28 anos sem conquistas e, de quebra, igualando o Uruguai como maior campeão do torneio, com 15 títulos.
Em novembro, o empate sem gols entre Brasil e Argentina, pela 14ª rodada das Eliminatórias, ficou marcado pelo polêmico lance entre o zagueiro Nicolás Otamendi e o atacante Raphinha. O defensor argentino acertou uma cotovelada no rosto do jogador brasileiro, que passou a sangrar imediatamente após o golpe. A análise do VAR entendeu apenas como um “golpe de intensidade média”, passível de cartão amarelo.
Tite não escondeu sua revolta com a arbitragem. O treinador gaúcho tratou como “inconcebível” o fato de o VAR não ter recomendado a expulsão do jogador argentino. “É impossível, vou repetir: é impossível não ver a cotovelada do Otamendi no Raphinha. Não estou falando de resultado de jogo, mas quem quer ter isenção na análise, ela é muito clara”, esbravejou Tite. O treinador da seleção brasileira evitou relacionar o resultado ao lance, ocorrido ainda no primeiro tempo. “Isso ia determinar o resultado? Não sei. Foi um grande jogo, com qualidade técnica, tradição… Mas tem um componente que tem de ser igual para os dois.”
Vale lembrar que Brasil e Argentina não se enfrentam em Copas do Mundo desde 1990, ano da fatídica eliminação com assistência de Diego Armando Maradona e gol de Caniggia. Antes, venceu o rival por 2 a 1 em 1974, empatou sem gols em 1978 e voltou a vencer novamente em 1982 por 3 a 1, no histórico time comandado por Telê Santana.