Bola parada, a solução para a falta de espaços na Copa da Rússia
Dos 161 gols marcados até agora no Mundial de 2018, 69 deles (quase 43%) nasceram de cobranças de pênalti, falta, escanteio e, acredite, até de lateral
MOSCOU – É oficial: não está sendo fácil vestir a camisa 9 na Copa do Mundo da Rússia. Quem atestou a esse fato foi alguém que tem propriedade para fazer tal análise, o ex-atacante holandês Marco Van Basten, um dos maiores atacantes do futebol mundial. “Vimos algumas partidas em que os defensores estavam tão compactados perto da área que simplesmente não havia espaço para dominar a bola e criar uma chance”, afirmou o ex-craque de Milan e Ajax, que hoje ocupa o cargo de chefe de desenvolvimento técnico da Fifa, a Federação Internacional de Futebol.
O antídoto encontrado para o mal dos ferrolhos modernos tem sido um velho conhecido: os gols oriundos de bolas paradas. Dos 161 gols marcados até a segunda semifinal deste Mundial, 22 deles foram marcados de pênalti. Outros sete surgiram de cobranças de falta diretas ao gol. Mas em outras 40 oportunidades, o tento nasceu de cobranças de escanteio e faltas alçadas na área. Tivemos até dois gols nascidos a partir de arremessos na lateral.
Trata-se de uma alta inédita: 69 gols foram oriundos de jogadas de bola parada – algo com 42,8% do total. Nas últimas cinco Copas, o número mais alto havia sido o da edição de 1998 (quando 38% dos gols surgiram dessa foram). “Na temporada passada, na Liga dos Campeões da Europa, os números mostravam que eram necessários 45 escanteios para se alcançar um gol. Nessa Copa, até o momento, temos o número aproximado de 30 escanteios até chegar a um gol. Isso mostra uma eficácia tremenda”, afirma o escocês Andy Roxburgh e que trabalha com Van Basten no grupo de estudos técnicos, batizado com a sigla em inglês TSG, organizado pela Fifa – em setembro, o grupo, do qual também faz parte Carlos Alberto Parreira, o treinador da seleção brasileira tetracampeã em 1994, apresentará um relatório sobre os principais aspectos técnicos e táticos da competição.
A porcentagem dos gols de bola parada nas últimas seis Copas do Mundo
Em entrevista realizada nesta quinta-feira no Estádio Lujniki, palco da grande final, no próximo domingo, Roxburgh fez questão de ressaltar o grande campeão no quesito bola parada na Copa de 2018. “Os treinadores também devem ser lembrados. O caso da Inglaterra, por exemplo, treinada por Gareth Southgate. Acho que dos 12 gols que marcaram, nove foram de bola parada. Os ingleses foram os reis dos escanteios por aqui.” De fato, um levantamento feito por VEJA, os campeões mundiais de 1966, conhecidos historicamente pelo hábito de alçar bolas na área adversária, lideram a “artilharia” da bola parada (veja os números das 32 seleções no quadro abaixo).
Outro fator crucial que colabora para a quantidade elevada de gols a partir de escanteios (24) e de gols de cabeça (33) é a presença do VAR, o árbitro assistente de vídeo, uma das principais novidades dessa edição da Copa do Mundo. “Depois que a competição passou de sua fase inicial, os empurrões e faltas dentro da área foram praticamente eliminados. Ou seja, agora há mais espaço para se mover”, diz Andy Roxbourgh. Fora isso há a quantidade elevada de pênaltis assinalados com a ajuda da tecnologia.
Tanto Parreira quanto Marco Van Basten fizeram questão de ressaltar a força das defesas no Mundial de 2018, algo que definitivamente não é atraente ao público (principalmente aquele habituados aos jogos eletrizantes, cheios de gols, nas fases eliminatórias das competições europeias). Mas o holandês, que comandou sua seleção na Copa de 2006, na Alemanha, deu a explicação para tal comportamento das equipes. “Nos clubes você tem praticamente 46 semanas de trabalho. Na Copa você tem um nível muito similar entre as seleções, é um outro tipo de competição”, conclui. “Os espaços do campo estão ficando cada vez menores, por isso os jogadores precisam evoluir não só fisicamente como taticamente.”
Os gols das 32 seleções do Mundial da Rússia por sua origem