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Aos 54 anos, Mike Tyson anuncia a volta aos ringues

O campeão dos pesados retorna em luta de exibição, mas não perde a esperança de reconquistar o mundo

No verão de 2018, o ex-boxeador Mike Tyson saiu para uma caminhada na praia em Newport Beach, na Califórnia, quando teve um estalo. E se voltasse a lutar? A ideia parecia absurda para um cinquentão barrigudo e visivelmente cansado, mas ele era Mike Tyson, “o homem mais malvado do planeta”, o velho “Iron Mike”, que destroçou rivais a vida inteira e que não tinha medo — ou fingia não ter — de ninguém no mundo. Tyson retornou às pressas para casa e anunciou os novos planos para a mulher. “Ela achou que eu estava chapado”, disse. “Eu tinha fumado um baseado, mas nunca raciocinei com tanta clareza. Precisava voltar e mostrar ao mundo que estava pronto novamente.” Dois anos depois, o que parecia ser apenas um devaneio ganhou ares de realidade. O regresso de Tyson está marcado para 12 de setembro, em Los Angeles, em luta contra o também cinquentão e ex-campeão mundial dos pesos pesados Roy Jones Jr.

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Como tudo o que envolve Mike Tyson, é preciso analisar os fatos sob diferentes perspectivas. Sim, ele vai retornar aos ringues, mas a luta não será para valer. Ela terá apenas oito rounds (o normal são doze), os boxeadores usarão luvas de doze onças em vez de dez (luvas mais pesadas oferecem maior proteção) e não haverá jurados para atribuir pontuação aos lutadores. “Sinto-me imparável agora”, disse Tyson. “Os deuses da guerra me despertaram, inflamaram meu ego e querem que eu lute. Sou jovem de novo.” Aos 54 anos, Tyson continua tão insolente quanto sempre foi, e fará de tudo nos próximos dias para promover o embate — até inventar histórias, se for preciso. Ele diz que perdeu 60 quilos ao se preparar nos últimos dois anos, mas colegas de treino garantem que foram 30, e jura que não receberá um centavo sequer pelo confronto, no entanto especula-se que o cachê será entre 10 milhões e 20 milhões de dólares. Com os devidos descontos, a verdade é que a boa forma de Tyson impressiona. Basta dar uma espiada nos vídeos no YouTube para notar como ele está magro (pesa os mesmos 100 quilos de quando se tornou campeão mundial) e forte, o que provavelmente lhe dará a confiança para subir ao ringue depois de quinze anos sem lutar.

O confronto tem gerado expectativas. “Vou gostar de ver essa luta e acredito que o Tyson vença”, disse a VEJA o lendário pugilista brasileiro Eder Jofre. Ele é um exemplo de boxeador que voltou da aposentadoria em grande estilo. Jofre brilhou na categoria galo na década de 60, ficou parado durante três anos e retornou para competir no peso-pena, tornando-se campeão mundial aos 37 anos. “Entre os pesos pesados, Muhammad Ali e George Foreman voltaram depois de encerrar as suas carreiras e conquistaram novamente o título mundial”, diz o ex-boxeador olímpico e comentarista de boxe Sidnei Dal Rovere. Foreman foi campeão pela segunda vez em 1994, aos 45 anos, e lutou até os 46. Tyson, lembre-se, tem 54, o que certamente faz muita diferença. Em 1986, quando se sagrou campeão mundial pela primeira vez, passou a ser, aos 20 anos, o boxeador mais jovem a deter o cinturão dos pesados. À época, disse que seria o mais velho a alcançar a façanha. O primeiro passo — ou o primeiro soco — será dado em breve.

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Mike Tyson é um dos boxeadores mais sórdidos de todos os tempos. “Aos 6 anos, seu conceito de travessura era cortar o braço do irmão mais velho com uma gilete enquanto ele dormia e aos 10 estava assaltando velhinhas e atirando em multidões por prazer”, escreveu o jornalista David Remnick em um perfil publicado na revista The New Yorker. Nos ringues, sempre foi uma máquina de destruição. Depois de nocautear um oponente, disse que gostaria de atingi-lo mais uma vez no nariz para “ver o osso penetrar no cérebro”. Se perdia uma luta, era capaz de qualquer coisa, como arrancar um naco da orelha do adversário, exatamente como fez com Evander Holyfield. Fora do esporte, a violência jamais o abandonou. Passou três anos em uma prisão por estuprar uma adolescente, crime que sempre negou, e envolveu-se em brigas de rua. Sua vida financeira é uma tragédia. Segundo a revista Forbes, Tyson torrou 400 milhões de dólares com festas, tigres de estimação, carros e mansões nababescas. Agora, é dono de uma empresa que fabrica produtos à base de cannabis. Parece que o negócio vai bem. “A maconha me tornou uma pessoa melhor”, diz, “mas não apagou o meu desejo de derrubar o idiota que tiver a coragem de me enfrentar num ringue”. Ele está de volta.

Publicado em VEJA de 5 de agosto de 2020, edição nº 2698

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