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Alex: ‘A Libertadores se joga em campo e nos bastidores’

Campeão em 1999, ídolo do Palmeiras relembra duelos com Corinthians e Boca Juniors e revela curiosidades e polêmicas da maior competição do continente

Alex de Souza é o maior artilheiro da história do Palmeiras na Copa Libertadores (12 gols) e também um dos protagonistas da única conquista alviverde do torneio, em 1999. Aos 42 anos, aposentado dos campos há cinco, o ex-meio-campista fala com propriedade sobre a competição que disputou quatro vezes – chegou a duas finais e uma semifinal pelo Palmeiras e caiu nas oitavas em 2004 pelo Cruzeiro. Também brilhou na Liga dos Campeões da Europa pelo Fenerbahce e garante: não cabe comparação entre os torneios.

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“Na Libertadores o jogo começa nos bastidores, tem de ter cuidado com o que vai comer, com o que vai beber, com arbitragem, com estádios… a Champions se resolve no campo”, afirma o ex-camisa 10. Alex recorda com riqueza de detalhes a campanha de 1999, incluindo uma sonora vaia que recebeu no velho Palestra Itália e o momento de virada em sua carreira, uma atuação de gala em São Januário.

Os métodos de Felipão e as vitórias sobre o Corinthians, com direito ao que chamou de “menosprezo” do rival, e as polêmicas de arbitragem nas derrotas para o Boca Juniors também são lembranças bem vivas para o ex-craque canhoto. Segundo ele, o Palmeiras dirigido por Vanderlei Luxemburgo, que nesta terça-feira 10 encara o Guaraní, do Paraguai, no Allianz Parque, é um dos candidatos a tentar destronar o Flamengo em 2020.

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PLACAR lançará o Guia da Libertadores 2020 neste mês e preparou uma série de entrevistas especiais com os craques que marcaram as campanhas históricas dos times brasileiros (clique aqui para ler todas). Confira, abaixo, o papo com Alex:

O Palmeiras tentará encerrar um jejum que já dura mais de duas décadas. Qual foi a chave daquele título de 1999? Foi uma campanha de crescimento. Não dá para falar da Libertadores de 1999 sem falar da Copa Mercosul de 1998, que também vencemos. O Felipão usou esse torneio como um aprendizado para os que não tinham tanta experiência internacional. Enfrentamos times grandes, ambientes hostis, isso tudo serviu de aprendizado para os mais jovens. Tivemos um início irregular num grupo duro, naquela época os times do mesmo país jogavam na mesma chave, terminamos atrás do Corinthians e à frente dos paraguaios (Cerro e Olimpia). Passamos a acreditar no título só depois das oitavas, quando passamos pelo Vasco, que era atual campeão. A partir dali o time foi ganhando consistência.

Qual é a sua melhor lembrança da competição? Tenho várias. Participei bem dos jogos desde a primeira fase, mas era um momento que o Felipão não tinha tanta segurança em mim. Aos 21 anos, a cada minuto que entrava eu tinha de provar, comecei alguns jogos do banco. Me lembro bem do primeiro jogo com o Vasco, no Palestra. Passei anos achando que eu tinha jogado mal, porque levei uma vaia espetacular da torcida, mas anos depois revi o jogo e vi que não era bem assim. Na semana seguinte, em São Januário, fiz dois gols e aquilo foi uma virada para mim, foi quando realmente as dúvidas ficaram para trás. E a semifinal contra o River Plate está entre os top 3 da minha carreira, tudo funcionou muito bem.

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Tem também duas vitórias sobre o Corinthians. Como foi eliminar o maior rival em 1999 e 2000? Encarávamos como um campeonato dentro de outro campeonato, era o adversário maior, o que a gente mais queria vencer. Tínhamos um respeito absurdo, porque o Corinthians tinha um timaço – principalmente o de 2000, que era superior ao nosso. Jogávamos à morte, sabendo o que tínhamos de fazer para superar. Em 1999 era bem equilibrado, em 2000 eles acabaram nos menosprezando.

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Que tipo de menosprezo? Eles faziam o resultado com facilidade e paravam de atacar e marcar, afrouxavam, não matavam o jogo. Aconteceu no jogo de ida e no de volta. Nessa afrouxada deles, nós crescemos e passamos de fase nos pênaltis.

Alex, do Palmeiras, contra Gamarra, do Corinthians, no jogo da Libertadores de 1999.
Alex, do Palmeiras, contra Gamarra, do Corinthians, na Libertadores de 1999 ./Dedoc

Qual é a maior dificuldade que a Libertadores impõe? Para mim era a logística. Os clubes brasileiros na época não tinham condição para fretar aviões, então fazíamos voos de carreira, picados, tínhamos de ir correndo de um jogo para outro. Na altitude não sofri tanto. Já a arbitragem é diferente, o que no Brasil é falta às vezes na América do Sul não é. É uma arbitragem que deixa o jogo correr mais, o choque é mais liberado, essa é uma dificuldade para o brasileiro.

A “tal “catimba” estrangeira também atrapalha? Não. Catimba é questão de escola. Os caras fazem isso desde criança, não adianta a gente querer copiar porque não é a nossa. Para ganhar a Libertadores o time brasileiro tem de competir bem e quando tiver a bola usar a qualidade dos seus jogadores, que segue sendo maior. E nosso time também tinha suas artimanhas. Éramos comandados por um treinador que gostava disso. O Felipão ganhou a vida tirando dos jogadores o melhor que eles podiam dar, sendo pragmático, jogando com o regulamento, isso é nato dele.

A bola parada com você e com o Arce também era uma arma importante… Sim, era uma preocupação grande nossa, tanto na parte defensiva quanto a de ataque. Tínhamos jogadores rápidos e habilidosos na frente para sofrer as faltas. O Arce tinha uma batida quase perfeita e ainda contávamos com bons cabeceadores.

Suas derrotas no torneio pelo Palmeiras foram contra o Boca Juniors, na final de 2000 e semifinal de 2001. O time argentino tem uma força diferente junto a Conmebol? Tem, isso é óbvio. É curioso que nesse período, entre 1998 e 1999, jogamos seis vezes com o Boca, empatamos cinco e ganhamos um, e eles nos eliminaram duas vezes nos pênaltis. A grande dificuldade que tivemos nos jogos da Libertadores foi a arbitragem, o que fizeram conosco foi covardia. Em condições normais, seriam duas eliminatórias dificílimas, como foram, mas venceríamos, seríamos bicampeões em 2000. Olhando para trás, 20 anos depois, fica ainda mais claro como a arbitragem correu a favor deles, disparado, teve um peso muito grande.

Não temos um bicampeonato da Libertadores desde aquele Boca de 2001. Acredita que o Flamengo possa conquistar a hegemonia no continente? Tem time para isso, mas também tem bons adversários para tentar evitar. A própria final da Libertadores mostra como é difícil, o Flamengo perdia para o River Plate até o minuto 89. Tem condições de vencer novamente, mas são os detalhes que definem os mata-matas, se você piscar a classificação pode escapar pelos dedos.

Vê o Palmeiras em condições de bater de frente? Sim, é um dos candidatos. O Palmeiras é um time bem treinado, com bons jogadores e vai correr atrás disso. Se o Flamengo não mantiver a concentração, haverá outros batendo na porta.

Liga dos Campeões ou Libertadores, qual dá mais prazer de jogar? Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Na Champions, você só entra no ambiente na hora do jogo, você viaja tranquilo para o outro país, chega e joga. Aqui o jogo começa nos bastidores, tem de ter cuidado com o que vai comer, com o que vai beber, existe um bastidor de arbitragem grande, maior participação do torcedor, estádios ruins. A Champions se resolve no campo. A Libertadores é mais apaixonante. São mundos distintos, não cabe muita comparação.

Em 1999, foi a vez do Palmeiras comemorar o título.
Alex (de boné, à esq.) celebra o título da Libertadores de 1999 . veja.com/VEJA
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