Além de Tifanny, outros casos de diversidade de gênero no esporte
A discussão sobre a participação de Tiffany na Superliga Feminina não é inédita em competições mundiais. Há vários outros casos que ficaram famosos
O caso da jogadora Tifanny Abreu, do Vôlei Bauru, a primeira trans a atuar na elite do vôlei brasileiro, despertou críticas das adversárias por causa da diferença de força física. A discussão é tão séria que o próprio COI (Comitê Olímpico Internacional) modificou há dois anos a resolução sobre transexuais em competições oficiais, determinando, entre outras coisas, o fim da obrigatoriedade de cirurgia de mudança de sexo e fixando para as mulheres trans uma quantidade de testosterona que não pode ultrapassar 10 nanomol por litro de sangue, nos doze meses anteriores à competição. Essa resolução, porém, será reavaliada após a Olimpíada de Inverno de PyeongChang, em fevereiro.
Mas a história do esporte mundial mostra outros episódios ruidosos envolvendo atletas com diversidade de gênero ou problemas de alteração hormonal que os impediam de competir. Relembre casos que provocaram acaloradas discussões envolvendo atletas trans, hermafroditas ou com disfunções hormonais:
Renee Richards (tênis)
Renée Richards foi a primeira transexual a disputar um torneio profissional de tênis. Nascida Richard Raskind, integrou a equipe universitária de tênis na Universidade de Yale (EUA), nos anos 50, até abandonar o esporte e dedicar-se à carreira de médico oftalmologista. Em 1975, aos 40 anos, fez a cirurgia de adequação sexual e voltou a disputar torneios profissionais de tênis. Seu principal resultado foi a final do torneio de duplas do Aberto dos Estados Unidos em 1977, e sua melhor posição no ranking mundial, 20º lugar.
Edinanci Silva (judô)
Antes da Olimpíada de Atlanta, em 1996, foi revelado que a judoca brasileira Edinanci Silva era portadora de uma anomalia genética, em que apresentava características dos dois sexos (intersexualidade), com uma quantidade de hormônios acima do permitido. Fez uma cirurgia para a retirada dos testículos e reconstrução do clitóris, foi aprovada no teste de feminilidade e representou o judô brasileiro na Olimpíada. Foi duas vezes medalhista de bronze no Campeonato Mundial de judô, em 1997 e 2003.
Dutee Chand (atletismo)
A indiana Dutee Chand, do atletismo, precisou enfrentar os dirigentes da Associação das Federações Internacionais de Atletismo (Iaaf) pelo direito de competir. Em 2014, foi proibida de disputar os Jogos da Comunidade Britânica e os Jogos Asiáticos, por causa dos exames que apontavam altas taxas de testosterona. Após recorrer à Corte Arbitral do Esporte, foi autorizada a competir, pois não havia consenso sobre a relação da presença do hormônio com a melhora de sua performance . Chand participou da Olimpíada Rio-2016 – foi eliminada na qualificatória, ficando em penúltimo ligar em sua bateria.
Caster Semenya (atletismo)
Em 2009, a sul-africana Caster Semenya, que compete na prova dos 800 metros. causou espanto ao vencer com facilidade sua prova no Mundial de Berlim. Depois, descobriu-se que ela tem uma disfunção chamada hiperandrogenismo, distúrbio endócrino que a faz produzir mais testosterona que o normal nas mulheres. A Iaaf chegou a proibi-la de competir, mas após diversos exames (que nunca tiveram os resultados divulgados) foi liberada para competir normalmente. Semenya conquistou com facilidade a medalha de ouro nos 800m na Rio-2016.
Érika Coimbra (vôlei)
A ponteira Erika Coimbra, quando ainda era juvenil no vôlei, não passou no teste de feminilidade realizado pela FIVB (Federação Internacional de Vôlei), antes do Mundial juvenil de 1997. Detectou-se excesso de testosterona, por causa de uma má-formação dos aparelhos reprodutores. Precisou passar por cirurgia e tratamento hormonal antes de ser liberada para jogar. Em 2000, integrou a seleção brasileira que foi medalha de bronze na Olimpíada de Sydney.
Fallon Fox (MMA)
A americana Fallon Fox causou grande confusão no MMA, por ser a primeira transexual a participar da modalidade. Após fazer a cirurgia de adequação sexual, estreou no octógono em 2012. Participou de seis combates na carreira e venceu cinco. Porém, encontrou resistência nas outras lutadoras, entre elas a estrela Ronda Rousey, que se recusou a enfrentá-la, assim como a brasileira Beth Correia. Sem rivais, Fox não disputa uma luta desde 2014.
Laurel Hubbard (levantamento de peso)
O levantamento de peso também quebrou barreiras em 2017, graças à medalha de prata obtida por Laurel Hubbard, de 39 anos, primeiro transgênero a subir no pódio de uma competição oficial da modalidade, no Campeonato Mundial em Anaheim, nos Estados Unidos. Ela ficou em segundo lugar na categoria 90 kg feminino, somando um total de 275 kg no arranque e arremesso.
Chris Mosier (duatlo)
O americano Chris Mosier foi o primeiro transgênero a se qualificar, em 2015, para a equipe dos Estados Unidos no Mundial de duatlo (ciclismo e corrida), no ano seguinte, na Espanha. Ele iniciou sua transição em 2010 e desde então tornou-se ativista para inclusão de atletas transgêneros em diversas ligas esportivas. Mosier tentou mas não conseguiu a qualificação para a Rio-2016 no triatlo (que incluí também a natação).