Afinal, para quem torce o presidente Jair Bolsonaro?
A resposta parece na ponta da língua, mas não é tão simples. Já Lula resumiu parte de sua paixão: “A torcida do Vasco, é nós; a do Flamengo, é eles”
O ex-presidente e candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva nunca escondeu seu apreço pelas metáforas relacionadas ao futebol. Na sabatina a que foi submetido pelo Jornal Nacional, da Rede Globo, ele voltou a usar a analogia. Instado a comentar uma de suas posturas mais recorrentes no embate político brasileiro – o nós contra eles – disse o seguinte: “Feliz era o Brasil e a democracia brasileira quando a polarização era entre PT e PSDB. A gente era adversário político, trocava farpas, mas se a gente se encontrasse num restaurante eu não tinha nenhum problema de tomar uma cerveja com o Fernando Henrique Cardoso, com o José Serra ou o Alckmin. Porque a gente não se tratava como inimigo. A gente se tratava como adversário. A militância é como torcida organizada. Mas torcida organizada não é a torcida do Flamengo, do Vasco, aquela que briga, que vaia o time. Não sei se você viu o jogo do São Paulo ontem (quarta-feira), o Raphinha que jogava no Flamengo ontem engrossou lá, e (depois) ele e outro do Flamengo se abraçaram. Porque política é assim. Você tem divergência, você briga, mas você não é inimigo”.
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William Bonner, que o entrevistava ao lado de Renata Vasconcellos, pediu mais clareza. “Mas, candidato, o senhor passou anos repetindo uma expressão que se consolidou no seu governo dividindo o Brasil entre nós e eles. É um fato”. Lula retrucou: “Você já foi em campo de futebol? Você torce para algum time?. Bonner disse que “não nesse momento”. E então, o ex-presidente soltou uma frase que, minutos depois, grassaria pelas redes sociais como meme: “Eu já fui junto com outros companheiros. É nós e eles. A torcida do Vasco, é nós; a do Flamengo, é eles”. Resultado: os petistas vascaínos gostaram, os não petistas vascaínos também, embora um pouco menos e com alguma ironia. Os opositores de Lula que são torcedores do rubro-negro deram um sorriso amarelo. Os flamenguistas anti-Lula, é claro, ficaram bravos.
Ao citar clubes de futebol, bem ao seu feitio, Lula autoriza uma indagação: para quem ele torce? É sabido ser corintiano de ir ao estádio e nunca escondeu essa predileção – aliás, deu ajuda para além da conta na construção do estádio alvinegro em Itaquera. É menos conhecida sua paixão pelo Vasco. Aliás, em 1989, na véspera da eleição que perderia para Fernando Collor, Lula foi ao estádio do Morumbi torcer pelo time da cruz-de-malta contra o São Paulo. Recebeu severas críticas, por ter demonstrado apoio ao time carioca na casa do paulista.
E o presidente Jair Bolsonaro, para quem torce? A resposta é um pouco mais complicada. Ele sempre se disse palmeirense. Em 2018, chegou a posar com o time na festa pela vitória do Brasileirão. Há poucos dias, esteve com a presidente do clube, Leila Pereira. Nunca escondeu que seu nome é homenagem a um craque esmeraldino do passado, Jair da Rosa Pinto. Mas, mas… em 2021, em um evento militar no Rio, ele conclamou os presentes a torcer pelo Flamengo na final da Libertadores da América, contra, contra… o Palmeiras. Disse Bolsonaro: “Assim como falei em 2019 e deu certo, amanhã somos todos Flamengo! Deus, pátria e família!”, bradou.
Em tempo, respondendo a Lula: William Bonner no Rio é Vasco. Em São Paulo é tricolor.