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A influência de Arsene Wenger na seleção brasileira em Sochi

Inspirado pela sensibilidade de seu ex-chefe durante tragédia familiar, gerente Edu Gaspar busca “humanizar” o ambiente da equipe na Rússia

SOCHI – O técnico francês Arsene Wenger, que deixou o Arsenal após 22 anos neste verão europeu, jamais pisou no luxuoso Swissôtel de Sochi, mas é uma figura influente na estrutura montada pela seleção brasileira em seu quartel-general na Copa do Mundo da Rússia. Edu Gaspar, o coordenador de seleções da CBF e homem por trás de toda a logística e organização do time de Tite, não hesita em apontar Wenger como seu principal mentor no futebol. O vínculo entre eles foi intenso desde o início devido a uma tragédia na família Gaspar. A sensibilidade do francês até hoje emociona Edu, que se inspira no ex-chefe para “humanizar” o ambiente da seleção.

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Wenger, que sempre gostou de garimpar jovens talentos, viajou a São Paulo para analisar atletas no ano 2000 e se encantou com o volante canhoto de bom passe, que rapidamente foi vendido pelo Corinthians ao Arsenal. Edu já estava de malas prontas para Londres quando recebeu a pior notícia de sua vida. Sua irmã, Fabrícia, morreu em um acidente de carro em Jacareí (SP), em dezembro daquele ano. Edu tinha 22 anos, quatro a menos que a irmã, uma de suas grandes incentivadoras. Apesar do baque, o hoje coordenador da CBF encarou o desafio e contou com o apoio daquela figura paterna, com pinta de professor e carregado sotaque francês.

Tabela completa de jogos da Copa do Mundo de 2018

“Quando perdi minha irmã, o Arsene cuidou de mim desde o início e aquilo me fez tão bem. Nos primeiros meses, ele dizia que não se importava se eu estava jogando bem, estava preocupado comigo, com a minha mãe”, contou Edu, ainda na sede da CBF, em entrevista no início do ano.

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Duelos improváveis do futebol
Edu Gaspar pelo Arsenal, contra Cristiano Ronaldo, em 2004 Laurence Griffiths/Getty Images

A forma como o Arsenal de Wenger lidou com seu problema pessoal serve de inspiração para o cartola, que, assim como Tite, tem na facilidade para se relacionar com os atletas e passar-lhes confiança um de seus trunfos.

“Quando faço o planejamento, penso no atleta, não em mim. Passei por todas as situações pelas quais um jogador pode passar e isso me ajuda. Além de eu ter feito cursos de gestão, li muito, busquei informações. No Arsenal, eu conversava com todos, do Arsene ao jardineiro, sempre busquei entender como as coisas funcionam”, contou o dirigente de 40 anos.

Edu reservou um hotel anexo ao do time em Sochi para os familiares e amigos dos atletas. As visitas devem ocorrer nas folgas ou em momentos autorizados pela CBF, como o fim de alguns treinos. “Meu modo de trabalhar é baseado no que vivi na Europa, na maneira com que eu e minha família fomos tratados no Arsenal e no Valencia. Trazemos esse processo para a seleção, porque vamos ficar muito tempo fora de casa.”

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A medida foi amplamente aprovada pelos atletas. “Família é tudo para a gente né, são eles que estão ao nosso lado, nos momentos de alegria e de frustração. Tê-los aqui dá uma força maior, é um problema a menos não ter saudade”, afirmou o goleiro Alisson nesta terça-feira.

O cuidado de Edu e Tite com os atletas da seleção no último ciclo de Copa incluiu visitas pessoais e ligações. “Queremos humanizar nosso dia a dia, deixar mais natural. É o lado do carinho, da preocupação, conforto do atleta. Para que ele possa atuar bem, tem uma série de fatores por trás. Fazemos visitas aos jogadores, porque eles também gostam. Não é cobrança, ao contrário.”

Edu garante que não haverá exageros na abertura aos atletas, como ocorreu em outros Mundiais, especialmente o de 2006, na Alemanha. Mas também busca espantar o ambiente carregado que acompanhou a seleção antes da chegada da atual comissão técnica. “O objetivo é voltar a ser aberto. Quando fecha demais não é Brasil. O brasileiro é um povo sorridente, acessível, simpático. Queremos voltar a ser assim. Algumas coisas mudaram, mas podemos voltar às nossas raízes. Temos de ser naturais e existe momento para tudo.”

A primeira Copa do Mundo, enfim

Edu foi um jogador de destaque e por muito pouco não disputou uma Copa. Campeão brasileiro e mundial com o Corinthians, também conquistou títulos nacionais no Arsenal ao lado de craques como Denis Bergkamp e Thierry Henry e chegou à seleção brasileira. Tinha grandes chances de ser convocado por Carlos Alberto Parreira para o Mundial de 2006, mas uma lesão, quando atuava pelo Valencia, frustrou seus planos.

Edu, no entanto, conta que sempre pressentiu que disputaria uma Copa, ainda que fora de campo. “Quando me machuquei em 2005, eu sabia que estava fora da Copa, foi duro. Mas é engraçado que eu sempre senti que iria participar de um Mundial. Não era um sonho, era uma intuição mesmo.”

De volta ao clube do coração, Edu se aposentou em 2010 pelo Corinthians e logo iniciou uma meteórica carreira de sucesso como dirigente. Fez um curso de gestão na Inglaterra, mas acredita que seu sucesso na nova área se deva mais às experiências como atleta e ao dia a dia no escritório. “Fui aprendendo as questões administrativas sob demanda. Qual o tamanho do meu elenco, quanto custa isso? Criei meus próprios procedimentos. Quando você senta na carreira vê que é tudo bem diferente. Não posso negar a minha satisfação de ocupar o cargo que ocupo, fico envaidecido por chegar onde cheguei.”

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