‘Assino tudo o que meu pai manda’, diz Neymar em depoimento na Espanha
Atacante brasileiro negou irregularidades em sua saída do Santos e disse que preferiu o Barcelona ao Real Madrid em nome de um sonho de criança
O atacante brasileiro Neymar, do PSG, retornou ao tribunal de Barcelona nesta terça-feira, 18, para prestar depoimento sobre sua controversa transferência do Santos para o Barcelona, ainda em 2013. O jogador e outras oito partes, incluindo seus pais, são acusados de fraude e corrupção pela empresa DIS, que detinha 40% do valor do passe do atleta na época. O atleta de 30 anos se defendeu dizendo que apenas assina o que seu pai e empresário, Neymar da Silva, lhe pede.
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“Não participei da negociação. Sempre meu pai que cuidou e sempre será. Assino tudo que ele me manda”, afirmou Neymar, repetindo um discurso já usado por Lionel Messi ao ser acusado de fraude fiscal na Espanha. Neymar agradeceu pelo fato de ter sido liberado da primeira audiência, na segunda, quando estava cansado, e respondeu a uma série de perguntas.
Questionado se havia outras equipes interessadas em comprá-lo, confirmou e disse que só acertou com o Barcelona em 2013, o ano de sua saída do Santos. “Sabia, por causa dos rumores, que havia clubes que me queriam. Mas meu sonho era jogar no Barça. Em 2013 tomei a decisão. Tive de decidir entre Barcelona e o Real Madrid. Havia outras equipes interessadas, mas no final a decisão foi entre esses dois. Meu coração sempre teve clareza de que queria jogar pelo Barcelona. Era meu sonho, desde criança queria jogar lá”.”.
O pai de Neymar também prestou depoimento e manteve a versão do filho. “Ele nunca participa de negociações. Isso não quer dizer que ele é alienado, pelo contrário. Fazemos a vontade dele. Nós trabalhamos. Criamos uma proteção com advogados tributários, comerciais, civis, para dar segurança não apenas para Neymar, mas para toda a família.”
Ao falar de um dos pontos mais sensíveis, o fato de ter assinado um pré-acordo com o Barcelona ainda em 2011, dias antes da final do Mundial de Clubes justamente entre o Santos e a equipe catalã, sem o conhecimento da DIS, Neymar pai negou se tratar de um contrato de venda. “Não teve uma compra. Foi um acordo de prioridade para que, se o Neymar saísse livre em 2014, sem multa no contrato, ele poderia assinar como agente livre”, afirmou.
Entenda o caso
Os promotores espanhóis pedem uma pena de prisão de dois anos e uma multa de 10 milhões de euros (51 milhões de reais pela cotação atual) para Neymar. Além do atacante, são réus no processo os ex-presidentes do Barcelona, Sandro Rosell e Josep Maria Bartomeu, os pais de Neymar, Neymar da Silva e Nadine Gonçalves, o ex-presidente do Santos, Odílio Rodrigues, o Santos, o Barcelona e a empresa N&N Consultoria. A Promotoria pede 5 anos de prisão para Rosell.
A DIS cobra indenização de 149 milhões de euros e quer que o jogador seja desqualificado de jogar pela duração de qualquer sentença proferida. A empresa alega que o custo real da transação entre Santos e Barcelona chegou a 82 milhões de euros. Na época, a transferência foi oficializada em apenas 17 milhões de euros, dos quais 6,8 milhões foram para a DIS.
“Neymar, com a conivência de seus pais e dos conselhos de administração do Barcelona e do Santos, traiu a confiança dos meus clientes”, disse o advogado da DIS, Paulo Nasser, em entrevista coletiva em Barcelona na semana passada.
A defesa de Neymar, por sua vez, diz que o jogador não cometeu nenhum crime (os pagamentos extras seriam bônus aos quais a DIS não teria direito) e que os eventos que estão sendo julgados ocorreram no Brasil, de modo que os tribunais espanhóis não teriam competência para processar a família Neymar.
Em julgamentos anteriores, Josep Maria Bartomeu e Sandro Rosell admitiram à Justiça da Espanha que fecharam um pré-contrato com Neymar em dezembro de 2011,com o pagamento de um adiantamento de 10 milhões de euros, dos quais a DIS não teve conhecimento. Pré-acordos nestes moldes são proibidos pela Fifa.
Em 2017, Neymar perdeu um recurso sobre o caso no Supremo Tribunal da Espanha, abrindo caminho para o julgamento atual, que pode levar algumas semanas e vem em péssima hora. Dentro de um mês, o atleta se apresentará à seleção brasileira que disputará a Copa do Mundo do Catar.
A promotoria também vai colher depoimentos de André Cury, ex-olheiro do Barça no Brasil, cujo depoimento sobre as negociações de transferência deve ser central para o caso. O julgamento acontece entre hoje e 31 de outubro.