UFC: por que Anderson Silva não aceita qualquer oponente
Campeão tem contrato para duas lutas. Rivais o acusam de ‘vetar’ adversários e até de manipular a franquia. Nada disso: é só uma boa estratégia de carreira
O brasileiro tem apenas dois combates a cumprir em seu contrato com UFC. Ao invés de realizar lutas com apelo limitado – principalmente no quesito venda de pacotes pay per view, responsável por boa parte da remuneração do astro -, Anderson está com a cabeça voltada para eventos de grande porte
O UFC movimenta montanhas de dinheiro e não para de crescer, tanto nos Estados Unidos como no exterior. Por incrível que pareça, uma das tarefas mais difíceis na administração dessa franquia de enorme sucesso é realizar os combates do principal nome da companhia, o maior lutador de MMA de todos os tempos. Anderson Silva tem fama de difícil nos bastidores do evento. Não pelo temperamento – sempre brincalhão, simples e carismático, o Spider é um dos grandes patrimônios do UFC. O que costuma ser uma dor de cabeça para Dana White não é a conduta do atleta, mas sim convencer Anderson a aceitar as lutas propostas pelo torneio. O brasileiro, é fato, não aceita lutar com qualquer um, o que rendeu a ele uma reputação injustificada entre os fãs mais radicais de MMA – e até entre alguns dos lutadores. Nesta semana, por exemplo, o veterano Dan Henderson, rival de Lyoto Machida no UFC 157, no sábado, na Califórnia, chegou a dizer que Anderson “manipula” o UFC para estender seu domínio na categoria dos médios e evitar que alguém ameace seu reinado. Mas o próprio Henderson já teve sua chance de destronar o brasileiro. Durou apenas dois rounds antes de ser finalizado de forma espetacular.
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O próprio Dana White costuma alfinetar o Spider quando é questionado a respeito do assunto. Numa das últimas ocasiões em que tratou do tema, porém, ele deixou mais do que claro: “Anderson Silva luta contra qualquer um, em qualquer lugar”. O problema, diz ele, é acertar os termos de um combate e fechar negócio com o brasileiro, que se notabilizou nos últimos anos por uma grande habilidade na condução de sua carreira. Transformado em ídolo internacional por seus próprios méritos, Anderson Silva sabe que não pode colocar seu legado e sua imagem em jogo em qualquer situação. Sua importância no mundo das lutas é tão grande que, caso aceitasse alguns dos oponentes propostos pela franquia, sua carreira ficaria empacada – de que adiantaria, afinal, acumular mais um nocaute contra um lutador mediano? Anderson não pisa no octógono desde outubro de 2012, quando subiu para os meio-pesados para nocautear e aposentar o americano Stephan Bonnar. Aos 37 anos, o campeão dos médios já venceu os principais nomes da sua categoria e está com a agenda de lutas vazia. É provável que seu próximo compromisso seja contra Chris Weidman, americano de bom cartel, mas ainda com pouca relevância no MMA – o atleta, de 28 anos, especializado em wrestling, jamais derrotou um grande nome do UFC.
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Por que, então, Dana White tenta colocar Weidman na fila do Spider? Não é difícil entender a posição do presidente do UFC. Cada luta do brasileiro é uma enorme fonte de receita para a franquia. Colocá-lo em ação sempre que possível, portanto, é algo muito lucrativo. Weidman é americano, jovem e tem muitos fãs. Dar a ele uma chance de disputar o título é garantia de casa cheia em qualquer arena de Los Angeles ou Las Vegas. Anderson e seu staff, no entanto, já pensam de outra forma – até porque sabem que já estão em outro patamar no mundo das lutas. O brasileiro tem apenas dois combates a cumprir em seu contrato com UFC. Ao invés de realizar lutas com apelo limitado – principalmente no quesito venda de pacotes pay per view, responsável por boa parte da remuneração do astro -, Anderson está com a cabeça voltada para eventos de grande porte – como, por exemplo, a superluta com Georges St-Pierre, um desejo que ele não esconde de ninguém. Pouco conhecido fora dos EUA e sem um histórico significativo no MMA, Weidman não seria um desafio capaz de seduzir o Spider e convencê-lo a ficar longe da família durante meses para treinar. Ainda assim, dá sinais de que pode aceitar a luta com o americano, até mesmo pela falta de opções a curto prazo.
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De acordo com pessoas ligadas a Anderson, o staff do lutador tem extremo cuidado na hora de planejar o futuro do atleta, sempre com o objetivo de que ele não regrida na carreira justamente em sua reta final como esportista. Aos 37 anos, Anderson ainda não se definiu sobre a possibilidade de assinar um novo contrato com o UFC (ao contrário do que foi noticiado há algumas semanas, ele não fechou um novo acordo para realizar mais dez lutas na franquia). O compromisso atual prevê cachês relativamente baixos – principalmente diante da importância e da fama do lutador. Anderson tem lucrado mesmo é com o pay per view de suas lutas (ele ganha uma porcentagem, não revelada publicamente, da venda dos pacotes). Em meio aos pedidos para que lutasse com Weidman, um de seus empresários, Ed Soares, chegou a ventilar que o vietnamita Cung Le poderia ser um bom rival para o brasileiro. A ideia pode ser maluca para os fãs de lutas, mas faz sentido pelo lado do marketing e das finanças. Le seria, na verdade, o adversário de Anderson numa nova edição do reality show The Ultimate Fighter. O vietnamita tem enorme apelo no mercado asiático, onde Anderson ainda pode crescer muito. Além disso, Le vende bem seus confrontos nos Estados Unidos, já que participou de muitos filmes de ação em Hollywood. A chance de mostrar seu trabalho primeiro na TV americana, no TUF, e depois numa luta de enorme projeção internacional, na final do programa, seria positiva para a carreira do brasileiro.
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