UFC: Dana White e a arte de promover uma luta milionária
Em entrevista exclusiva, o presidente do torneio fala sobre o momento de ouro da franquia, discute a imagem dos lutadores brasileiros e elogia Chael Sonnen
“Os fãs estão nas arenas querendo que eles lutem, e não que recitem poesia. Claro que um lutador talentoso e que fala bem com a imprensa é maravilhoso”, afirma Dana White
Depois de amargar enormes problemas financeiros (chegou a ficar com um rombo de 44 milhões de dólares na conta), o UFC conseguiu dar a volta por cima e agora vive dias de glória – o valor da franquia hoje supera os 2 bilhões de dólares. Consolidado nos Estados Unidos, Canadá, Brasil e Grã-Bretanha, o torneio se despediu dos tempos em que precisava apostar tudo em eventos gigantescos para tentar fechar o ano no azul. Às vésperas de completar 20 anos, em novembro, o UFC lucra como nunca antes, resultado de um semestre recheado de lutas memoráveis (e com potencial para quebrar todos os recordes de venda de pay-per-view, uma receita-chave para a empresa). O evento comemorativo de aniversário terá o canadense Georges St-Pierre lutando contra Johny Hendricks e Chael Sonnen desafiando Rashad Evans. Mas se engana quem pensa que Dana White aposta nessa noite festiva como a principal edição de 2013. “Será um evento de alto nível, é claro, mas acho que os recordes serão quebrados na revanche entre Anderson Silva e Chris Weidman, em 28 de dezembro”, diz o presidente do UFC, que aposta todas suas fichas no evento de fim de ano. “Será o mais sensacional de 2013.” Antes disso, a trupe de White também encherá os cofres com outra revanche, entre Júnior Cigano e Cain Velasquez, em 19 de outubro.
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Na última segunda, em São Paulo, Dana White conversou com a reportagem do site de VEJA minutos antes de participar do último evento de promoção da luta entre Anderson e �Weidman, o fim de uma maratona que passou por sete cidades em sete dias, nos EUA e no Brasil. Se estava cansado, não aparentava: falando alto e gesticulando bastante, falava com empolgação sobre qualquer assunto relacionado ao momento de ouro de sua companhia. Apesar de exigir viagens quase ininterruptas, a função parece ser extremamente fácil para ele. Talvez por isso, o chefão do UFC seja tão rigoroso na hora de cobrar o envolvimento de seus lutadores na promoção das lutas, seja nas entrevistas, seja na gravação dos programas especiais que alimentam o interesse pelos milionários combates organizados pela franquia. Dana White garante que não exige que nenhum lutador vire dublê de ator ou apresentador só para aumentar a expectativa da torcida por uma luta. O executivo não nega, porém, que esse tipo de trabalho é uma das chaves para o sucesso do torneio. Para ilustrar isso, recorre ao exemplo do boxeador Floyd Mayweather, que faturou nada menos que 95 milhões de reais em sua última luta.� “Tenho lutadores no UFC que esperam ganhar milhões, igual ao Floyd Mayweather, mas ao mesmo tempo não querem promover suas lutas passando por sete cidades em sete dias, como acabamos de fazer com Anderson e Weidman”, alfinetou. O próprio Anderson é um dos astros da companhia que resistem a esses compromissos.
Alguns dos mais importantes lutadores brasileiros no UFC não falam inglês e não gostam de promover suas lutas. Isso é um problema para você? O UFC está em expansão e apostamos cada vez mais no mercado internacional. Esse tipo de coisa sempre será um problema fora dos Estados Unidos. Por exemplo: temos lutadores na Rússia que também não falam nenhuma palavra em inglês e não gostam do contato com a imprensa. Para ser sincero, não me preocupo com isso. Os fãs enchem as arenas para ver esses caras lutando, não recitando. Mas é claro que um lutador talentoso e que sabe conversar bem com a imprensa é maravilhoso para nós.
O UFC faz algum treinamento específico para melhorar a desenvoltura dos lutadores diante das câmeras? Sim, fazemos o que achamos possível. Por incrível que pareça, o reality show The Ultimate Fighter é muito bom para melhorar nesse quesito, pois os lutadores convivem com as câmeras durante todo o dia e são obrigados a participar das entrevistas. Eu converso pessoalmente com alguns e tento explicar a importância da imprensa na promoção dos grandes eventos. Mas também preciso entender o lado deles, que se cansam de ouvir sempre as mesmas perguntas sobre as lutas.
Os dois brasileiros que hoje são campeões do UFC, José Aldo e Renan Barão, estão entre os melhores atletas de MMA do mundo, mas ambos são arredios com os meios de comunicação. Isso pode atrapalhar a expansão do torneio no Brasil? Não discordo dessa afirmação, mas não acho que seja um grande problema. De qualquer forma, é engraçado, porque sou obrigado a escutar o André Pederneiras, treinador da Nova União, reclamando que o Barão não consegue bons patrocínios porque não é o único campeão dos galos (ele está com o cinturão interino enquanto o dono do título linear, Dominick Cruz, se recupera de lesão). Renan Barão é um monstro dentro do octógono, um cara extremamente talentoso. Mas é um caso parecido com o do Chuck Liddell, que hoje está no Hall da Fama mas passou um tempo quase despercebido no UFC. Depois de anos, explodiu de repente. Acho que ainda vai acontecer a mesma coisa com José Aldo e Renan Barão.
Não é ruim para a imagem do torneio colocar um lutador em atividade – como Chael Sonnen, que aparece nos programas oficiais do UFC na TV americana -, para comentar as lutas de possíveis adversários? Não. Chael Sonnen é muito bom como comentarista. Ele é excelente na televisão. Sabe como promover suas lutas e deixar os torcedores animados também para os outros confrontos, falando de estratégia e estilo de combate. Mas é claro que às vezes ele passa do limite e acaba irritando algumas pessoas.
Mas a opinião de um comentarista como ele não acaba influenciando no casamento das próximas lutas? Não acredito nisso. E sobre o Sonnen, sempre haverá os dois lados da moeda, as pessoas que amam o Chael e as que o odeiam.
Trabalhar na TV pode ser um bom caminho para os lutadores que se aposentam? Sim, eu adoro quando isso acontece, ainda mais agora, com todos os contratos de transmissão que fechamos em vários países. E com isso voltamos à sua primeira pergunta. Alguns atletas sabem naturalmente como agir com a imprensa, eles parecem prontos para trabalhar na televisão. E falando em promoção de lutas, existe alguém melhor que o Floyd Mayweather nesse quesito?
Por falar em Mayweather, você o comparou recentemente com o Renan Barão, certo? Eles são parecidos no talento para lutar, mas não na promoção das lutas. Mayweather faz toda a mídia das suas lutas, ele conversa com todos e divulga o combate. E ainda tem aquele estilo que os fãs adoram, de ganhar muito dinheiro e se mostrar gastando esse dinheiro. Tenho lutadores no UFC que esperam ganhar milhões, igual ao Floyd Mayweather, mas ao mesmo tempo não querem promover suas lutas passando por sete cidades em sete dias, como acabamos de fazer com Anderson e Weidman.
Existe algum lutador no UFC que promove suas lutas tão bem quanto Floyd Mayweather? Chael Sonnen.
Qual foi o momento mais difícil que você enfrentou em treze anos trabalhando no UFC? Foi no UFC 33, em 2001, quando estouramos o tempo previsto para o sinal de pay-per-view. A transmissão parou durante o evento. Tivemos de devolver o dinheiro a todas as pessoas que não conseguiram assistir até o fim.
E o melhor momento? São vários. Poderia citar o fechamento dos contratos de transmissão com a Fox e com a Globo, por exemplo. Ou quando voltamos a fazer eventos em pay-per-view.
Nenhum que não seja relacionado às finanças do UFC? Olha, é muito gratificante quando você assume um negócio que acumula uma dívida de 44 milhões de dólares e consegue recuperá-lo. Também é muito bom acompanhar o crescimento da modalidade, chegando com força a países que a gente apostava havia muito tempo.
2012 foi difícil para o UFC, que teve de lidar com o cancelamento de vários eventos importantes por causa de lesões de lutadores. Como foi essa experiência? Ano passado foi péssimo. Nem sei como explicar. Mas no fim, até fiquei grato por ter acontecido tudo aquilo. Achávamos que nunca iria acontecer. Agora, sabemos que é possível encarar um ano com tantos problemas. Se passamos por isso uma vez, podemos passar por qualquer coisa.