Scott Machado, o ‘brazilian-american’ que vai jogar na NBA
Nascido nos EUA, filho de um casal que trocou Porto Alegre por NY, o armador do Rockets se prepara para desafio e já avisa: quer defender a seleção brasileira
“Escolhi defender a seleção brasileira, pois meus pais e meus irmãos mais velhos nasceram no Brasil. Eu cresci dentro da cultura brasileira. O basquete do Brasil está crescendo e eu quero ajudar”
A temporada 2012-13 da NBA, a liga profissional de basquete dos Estados Unidos, começa no próximo dia 30 de outubro e já conta com cinco brasileiros contratados: Anderson Varejão (Cleveland Cavaliers), Fabrício Melo (Boston Celtics), Tiago Splitter (San Antonio Spurs), Nenê (Washington Wizards) e Scott Machado (Houston Rockets). Para quem não acompanha o esporte de perto, o último nome pode soar estranho. O que é perfeitamente compreensível, até porque Scott Machado não nasceu no Brasil – filho de um casal que trocou Porto Alegre pelos EUA, ele escolheu ser brasileiro. Depois de realizar o desejo de entrar para a melhor liga de basquete do mundo, ele mira em outro objetivo: vestir a camisa da seleção, de preferência na Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016.
Nascido no Queens, tradicional bairro nova-iorquino, o novo armador do Rockets cresceu longe das quadras brasileiras. Seus pais, Luís Mauro e Solenir, foram para os EUA no fim da década de 1980. Scott Michael Machado naturalizou-se brasileiro durante uma das poucas visitas que fez ao país. É um autêntico “brazilian-american”, como são chamados os americanos de origem brasileira. De acordo com o último censo demográfico americano, há mais de 350.000 deles no país. Mas Scott Machado não quer deixar de lado as origens brasileiras. Pelo contrário: aos 22 anos, ele não planeja participar da seleção americana de basquete – ele sonha mesmo é em derrotar o Dream Team vestindo a camisa verde-amarela. “Escolhi defender a seleção brasileira, pois meus pais e meus irmãos mais velhos nasceram no Brasil. Eu cresci dentro da cultura brasileira. O basquete do Brasil está crescendo e eu quero ajudar”, avisa o atleta, dono de uma voz grave, em português, mas com forte sotaque americano.
Em meados deste ano, ele chegou a ser convocado pelo técnico da equipe nacional, Rubén Magnano, para a disputa do Sul-Americano de Basquete, na Argentina, mas acabou tendo de pedir dispensa para se dedicar ao draft, tradicional evento de recrutamento de jovens talentos pelas equipes da NBA. Ao ser questionado sobre a possibilidade de atuar pela seleção americana no futuro, Machado é categórico: “Não, claro que não! Um dia eu quero ganhar dos Estados Unidos!” Mas antes mesmo que esse desejo se concretize, Machado vive a expectativa de defender um time de ponta da NBA. Ao seu lado estará Jeremy Lin, um dos destaques da temporada passada, quando defendia o New York Knicks. Assim como Lin, o contrato de Machado na equipe texana tem duração de três anos. Mas os valores são muito diferentes. Enquanto o armador de ascendência asiática receberá cerca de 25 milhões de dólares até 2015, Machado embolsará exatos 2 milhões de dólares, o equivalente a 4 milhões de reais.
Peneira – Apesar da satisfação com a perspectiva de encarar o desafio de jogar na NBA, o novato do Rockets revelou certa mágoa por ter sido esquecido pelas grandes franquias no período acadêmico. “Eu fui para uma faculdade pequena e meu nome não era muito conhecido. Mas aqui tem muita política. Eles nem me deram a chance de ir jogar diante deles’, desabafou Machado, referindo-se aos chamados tryouts, os testes de seleção das equipes. Até fechar com o Rockets, Machado – que estudou na Faculdade de Iona, em Nova York – esteve na mira do San Antonio Spurs, do Cleveland Cavaliers e até do New York Knicks, seu time do coração. “Eles até chegaram a ligar para o meu agente e disseram: ‘Manda o Scott para cá que a gente quer trabalhar com ele’. Pensei que eles iam me escolher”, contou o jogador sobre a sondagem da equipe de Nova York. “Mas as oportunidades, aqui no Houston, são melhores. É um time novo e eu posso ocupar um lugar de destaque no futuro”, acrescentou Machado, que acabou ficando fora do draft.
Mesmo tendo se destacado no NCAA, a liga universitária, Machado acabou sendo preterido na peneira da NBA. O único brasileiro draftado foi o pivô Fabrício Melo, que ganhou a chance de vestir a camisa do Boston Celtics. Melo, aliás, é o brasileiro com quem Machado tem mais contato na liga. “A gente assiste aos jogos, vai para as baladas e joga videogame.” Para driblar o revés no draft, Machado recorreu à NBA Summer League, torneio disputado em Las Vegas, que serve para que as franquias observam os recém-contratados e mirem em novos talentos. Machado, que defendeu o Rockets no evento, foi bem. Chegou a anotar 20 pontos na vitória sobre o Chicago Bulls e 10 assistências quando seu time bateu o Sacramento Kings. O jogador fechou o campeonato de verão com média de 8 pontos e 5,6 assistências por jogo.
Quando o assunto é ídolo no basquete, o novato nova-iorquino tem uma longa lista, mas destaca os armadores Tim Hardaway, ex-Miami Heat, e John Starks, ex-Knicks, como os favoritos. Quando ouve o nome do lendário Michael Jordan, Machado confessa: no auge da carreira do craque do Bulls, não aguentava mais ouvir falar nele. “Quando eu era pequeno, eu não gostava do Jordan (risos). Ele sempre ganhava quando jogava contra o Knicks. Até pedi para os meus pais pararem de me chamar de Michael e trocar por Scott. Agora eu respeito ele, por tudo que ele fez. Gosto muito dele.” Formado em Marketing, Machado revela que o idioma falado na casa dos pais é o português e a culinária brasileira é a preferida do seu cardápio. “Adoro bife à ‘milanês’ (sic), com arroz, feijão e salada de batatas, e de churrasco, pastel e coxinha. Eu amo a comida brasileira!”, crava o brazilian-american.