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Recife: muitos gastos, retorno baixo e imagem manchada

Cidade deu sorte na definição dos grupos, mas sofreu críticas pelo trânsito e falta de estrutura – e ainda lucrou pouco, já que os visitantes foram escassos

“Era esperado um Brasil mais moderno, mais estabelecido, melhor organizado para a Copa das Confederações”, disse um jornalista espanhol

As autoridades do Recife comemoraram quando a cidade foi escolhida, junto com Fortaleza e Salvador, para representar o Nordeste na Copa das Confederações. Antes do anúncio, feito em São Paulo, havia a dúvida sobre a conclusão da Arena Pernambuco a tempo, sem falar na grande preocupação de parte de boa população com as obras de infraestrutura da cidade. Alheio à preocupação, Ricardo Leitão, secretário extraordinário da Copa de 2014 em Pernambuco, disse que a Recife seria um modelo dentro do torneio e que os estrangeiros ficariam plenamente satisfeitos com o que encontrariam. Na hora da definição dos grupos, a cidade deu sorte, pegando partidas de três das quatro principais seleções do torneio, incluindo o clássico entre Espanha e Uruguai, o jogo mais aguardado entre todas as partidas que não terão a presença da seleção brasileira. Espanhóis e uruguaios, porém, não chegaram a comemorar sua estadia no Recife. A partida, na noite de domingo, transcorreu sem problemas para os times – a Espanha venceu, 2 a 1. Antes da estreia, no entanto, os times tiveram problemas com os treinamentos, reclamaram da distância até a arena (que fica em São Lourenço da Mata, cerca de 20 quilômetros do centro de Recife, pouco mais de 40 minutos de carro a partir da praia de Boa Viagem) e criticaram, por exemplo, o fato de seu hotel não ter nem sequer uma academia em boas condições. Jornalistas de ambos os países criticaram as condições oferecidas pela cidade, prejudicando o plano dos pernambucanos de aproveitar o evento para lucrar alto com os turistas e divulgar sua imagem no exterior.

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Para receber a Copa das Confederações e a Copa do Mundo, foram investidos 532 milhões de reais apenas no estádio para 46.100 pessoas, com cerca de 400 milhões de reais de financiamento federal. A ideia era usar o estádio para estimular o surgimento da Cidade da Copa, um complexo com comércio, lazer e moradia. O plano esbarra logo de cara em um problema óbvio: São Lourenço da Mata é distante do centro da cidade e ainda está longe de deslanchar como um novo pólo de desenvolvimento. O entorno do estádio é vazio, com vastas plantações, e o acesso é bastante complicado. Antes do primeiro jogo na Arena Pernambuco, uma ameaça de greve expôs a fragilidade do sistema de transporte montado para chegar até a arena. No Recife, quase todos reclamam da dificuldade enfrentada para alcançar o estádio. O problema poderia ter sido ainda maior caso o número de torcedores de fora fosse superior. Mas os estrangeiros estão em minoria na sede pernambucana do torneio. Apenas 2,9% dos ingressos para jogos na cidade foram vendidos para fãs de outros países, e Recife não ficou entre os destinos mais procurados do Brasil na competição. O comércio e a rede hoteleira ainda não têm um balanço oficial do evento, mas estima-se que os números sejam modestos no decorrer do evento.

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Desgaste – A seleção mais prejudicada e que mais reclamou com as falhas estruturais dos anfitriões do torneio foi a do Uruguai. O problema começou já no aeroporto de Manaus, quando o voo da delegação atrasou por causa de um problema no reabastecimento da aeronave. Cansados com a demora na viagem, os jogadores não conseguiram fazer o primeiro treino marcado para Recife, pois os gramados oferecidos à equipe estavam encharcados em função dos temporais na cidade. Não se pode reclamar do tempo: as chuvas são comuns no Nordeste entre março e julho, ou seja, já se sabia que os campos deveriam ter um melhor sistema de drenagem. Os uruguaios cancelaram o reconhecimento do gramado no sábado, véspera do jogo, alegando que demorariam quase duas horas para chegar ao local e voltariam quase no início da madrugada de domingo. A solução foi mandar os atletas para academia do hotel. Mas qual academia? O local onde o Uruguai estava hospedado não tinha a estrutura desejada e os atletas foram obrigados a treinar em uma academia próxima do hotel, também na praia de Boa Viagem. Com todos esses problemas, Óscar Tabárez, treinador do Uruguai, mostrou sua insatisfação, pedindo melhores condições de trabalho aos protagonistas da festa: “A possibilidade de treinar, o descanso dos jogadores, tudo isso deve ser colocado em primeiro plano. É para o benefício do brilho do torneio, simples assim”, ensinou.

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Torcedores uruguaios no Recife: perdidos
Torcedores uruguaios no Recife: perdidos VEJA

Campeões também no quesito diplomacia, a seleção da Espanha não deixou de lado o fair play e elogiou a organização do torneio e da cidade, fugindo das polêmicas. Já os jornalistas do país não pouparam críticas aos brasileiros. Juan Castro, do diário Marca, o mais famoso jornal esportivo espanhol, criticou Recife em seu blog. “Era esperado um Brasil mais moderno, mais estabelecido, melhor organizado para a Copa das Confederações. Para quem acompanhou o crescimento desse país nos últimos anos, esperava-se mais”, escreveu o colunista – que, apesar dos percalços, não perdeu a esperança para 2014. “Tomara que este seja apenas o começo e que na Copa do Mundo o básico esteja pronto.” Apesar de ser espanhol, Castro também reclamou do ocorrido com a seleção do Uruguai. “Não havia um gramado disponível no estado. Imagina se ocorrer a mesma coisa com Itália ou Inglaterra em 2014? Resumindo, a desordem por aqui é frequente”, disparou. Além dos problemas com as seleções, alguns turistas também têm reclamado da desorganização em Recife. “O mais difícil para a gente é a falta de informação. Na orla, região onde há mais estrangeiros, está tudo bem sinalizado. Mas é impossível andar pelo centro sem se perder. Não tem nenhuma placa indicando o que devemos fazer”, reclamou Francisco Oliveira, uruguaio que está no país para acompanhar sua seleção.

Copa das Confederações
Copa das Confederações VEJA
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