O ouro que valia uma Copa do Mundo para Mano Menezes
A ambição pela medalha era muito grande e a prata desanimou cartolas da CBF
Quando o presidente da CBF, José Maria Marin, anunciou que gostaria de ver a lista de convocados da seleção com 48 horas de antecedência, às vésperas da Olimpíada de Londres, a conclusão imediata era de que Marin não tinha confiança no treinador de dois anos no cargo. Na entrevista do anúncio de convocação dos atletas que tentariam buscar o ouro em Londres, Mano foi pragmático: “Vocês acham que os outros presidentes não sabiam antes? Vocês acham que o presidente do Banco Central baixam os juros sem comunicar o presidente?” Simples assim. Questão de hierarquia, organização e para atender a um pedido do chefe. E o último foi nesta sexta-feira: Mano está fora da seleção.
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Muricy Ramalho: ‘Não saio sem a permissão do Santos’ Fala mansa, gestos também, pequenos intervalos na fala para buscar as melhores palavras, Mano Menezes passou mais da metade da sua gestão procurando cartel de peso que o garantisse até a Copa de 2014. Tanto ele quanto Marin repetiram que a medalha de ouro não valia como fiel de sua permanência no cargo. Mas a inédita medalha de ouro podia ajudar o ex-treinador do Corinthians a finalizar sua missão em 2014.
Roupas de corte justo, físico bem cuidado, sem excessos na cintura, Mano Menezes aceitou comandar a seleção num sábado de sol, 24 de julho de 2010, depois de Ricardo Teixeira não conseguir tirar Muricy Ramalho do Fluminense. “Temos muitos bons profissionais no Brasil. Eu me orgulho de ser o segundo da lista entre os melhores do país”, disse Mano, simploriamente, afirmando estar mais que pronto para o desafio. Em seu primeiro jogo – com Neymar, Ganso, Pato, Hernanes, David Luiz, Thiago Silva, Daniel Alves, Lucas e Ramires estreando o espetacular estádio de New Meadowlands, em Nova Jersey -, Mano deu um calor ainda maior na seleção americana numa noite quente de agosto: 2 a 0, gols de Neymar e Pato. Parecia um começo de muitas vitórias recheadas de shows dos jovens jogadores mais que promessas para uma medalha de ouro olímpica dois anos depois e uma Copa do Mundo, quatro mais tarde. Na primeira semana de trabalho com a seleção, Mano fez os garotos e os nem tão jovens correrem, suar, bater falta, escanteios, conversou, conversou e conversou muito com todos os jogadores. Nada de família Menezes, ou de gritarias histéricas, ou ainda submissão – pelo menos explícita – a candidatos a estrelas no time. A caminho dos dois maiores objetivos, Mano deu de cara com a Copa América, há pouco mais de um ano, e amargou uma triste desclassificação nas quartas, jogando mal, perdendo nos pênaltis para o Paraguai – a seleção perdeu quatro pênaltis com Elano, Fred, Thiago Silva e André Santos… Não se tratava de perder amistosos para times tradicionais, como França e Alemanha, mas sim ser eliminado do torneio sul-americano de forma humilhante. A partir daí acendeu-se a luz de advertência para Mano – a dele próprio e da chefia na CBF.
E uma nova situação fora de campo fez com que Mano tivesse de responder cada vez mais frequentemente se seu emprego estava ameaçado: a mudança na presidência da CBF, com a saída de Ricardo Teixeira, que o contratou, e a chegada de José Maria Marin. Este último, também repetidamente, dizia que não pensava em troca de treinador nem que a medalha de ouro fosse sinônimo de estabilidade. Mano transitava bem entre os cartolas da CBF e trabalhava junto com o diretor de seleções Andrés Sanches, que o levou ao Corinthians, quando era presidente, com a missão de tirar o clube da Série B do Campeonato Brasileiro na temporada de 2008. Mano ainda foi treinador de Ronaldo, que chegou ao Corinthians em 2009 e com quem fez grande amizade até virar técnico da seleção. Ronaldo é integrante do Conselho de Administração do Comitê Organizador da Copa de 2014. Referências de peso não faltavam a Mano para que Marin realmente não pensasse em troca de treinador. Uma medalha de ouro poderia dar a Mano a tranquilidade para trabalhar com o foco todo na disputa da Copa das Confederações, na segunda quinzena de junho, aqui no Brasil, numa prévia da Copa do Mundo. Poderia concentrar-se em preparar a maioria dos seus jovens jogadores e deixá-los no ponto para pensar no título em casa. Mas a seleção perdeu para o México, por 2 a 0, no estádio de Wembley, em Londres, e começou a jogar água nos sonhos de Mano. A base de Mano de imediato parava nas dúvidas de um goleiro e de um centroavante. Os testes no gol não pararam e ainda não tinha um goleiro que desse confiança a todo o time. Vários jovens foram chamados, como Diego Alves, Jefferson, Victor, mas nenhum ganhou a confiança da comissão técnica. Leandro Damião, Pato e Fred fizeram as vezes de centroavante e nenhum conquistou Mano. Seu maior desafio era conseguir que o time ganhasse entrosamento e estivesse tinindo em 2014 sem enfrentar a preparação forçada das eliminatórias – como país-sede está automaticamente classificado. O torneio classificatório seria uma grande chance de colocar à prova o time numa competição que valeria vaga e ainda serviria como nunca para testar alguns jogadores contra adversários sempre difíceis como Argentina, Uruguai e Chile. Mano jogou amistosos, que sem conotação classificatória perderam o poder de exigir superação dos atletas em momentos importantes e decisivos das partidas.