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Falcão, 60 anos: tristeza com Inter e confiança na seleção

Ex-craque comemora seu aniversário à espera de bom convite para voltar a treinar uma equipe. Demissão do clube que o revelou ainda provoca mágoa

“A saída do Inter foi muito ruim. O jeito que foi feito, a maneira como isso foi tratado pela diretoria, machuca muito. Ninguém entendeu direito.”

Titular absoluto da histórica seleção brasileira de Telê Santana na Copa do Mundo de 1982, ídolo incontestável do Internacional e chamado de “Rei de Roma” na capital italiana, Paulo Roberto Falcão completa 60 anos de idade nesta quarta-feira e não esconde o desejo de voltar a trabalhar em uma grande equipe brasileira. Sem clube no momento, o treinador segue planejando sua carreira para os próximos anos, mas não esconde a decepção com a sua passagem pelo clube que o revelou. Falcão revela que ainda não compreende os motivos que culminaram em sua demissão. “Não houve nenhuma consistência na argumentação para a minha demissão. Foi uma coisa maluca.” O ex-volante acredita que foi vítima de problemas políticos e escancara sua tristeza ao falar sobre o trabalho de poucos meses no Inter, ameaçando não comparecer à reabertura do Estádio Beira-Rio, marcada para abril do próximo ano. Ao relembrar sua carreira vitoriosa, Falcão, que fez muito sucesso no futebol europeu, também deu um conselho aos jovens jogadores que tentam brilhar no exterior: ir “com a cabeça e com o corpo” para a Europa.

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Em 15 temporadas como jogador, além dos trabalhos já feitos como treinador, qual foi o momento mais marcante de sua carreira no futebol? É difícil dizer, mas o que me ocorre é quando eu fui convocado para a seleção brasileira de amadores, quando eu tinha 18 anos, foi uma coisa maluca para mim. Era muito difícil na época, pois não tinha competição para se mostrar. O título do Roma, que não ganhava há 42 anos, também foi uma coisa fantástica, a cidade parou. Depois que eu voltei lá, o estádio inteiro ficou em pé para me aplaudir. Foi uma manifestação fantástica. Os três títulos pelo Inter também foram importantes, evidentemente.

A seleção de 1982 foi o melhor do time do qual você fez parte ao longo da carreira como treinador? Também foi a maior decepção? Sim, foi o melhor. Teve a decepção, mas teve um reconhecimento fantástico hoje da mídia. O reconhecimento trinta anos depois é algo fantástico. Todo mundo fala dessa seleção. Eu diria que foi uma seleção que jogou e ficou na história, independente da colocação. Foi uma seleção brilhante.

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Você chegou ao futebol europeu na década de 80, quando o intercâmbio ainda era menor. O que você classifica como fundamental para uma boa adaptação na Itália, onde você se tornou o Rei de Roma? Quando eu fui para Europa só era permitido um estrangeiro por time, era muito difícil a adaptação, não tinha ninguém para conversar, você tinha que aprender a língua. Hoje é mais fácil, mas eu tive que aprender o idioma rapidinho, porque eu sempre joguei falando, nunca joguei quieto. Para mim foi difícil, mas, ao mesmo tempo foi muito gratificante.

Como um jogador que fez sucesso no futebol europeu, quais conselhos você poderia dar para os jovens brasileiros que tentam fazer a carreira no exterior? É difícil dar conselho, mas o que posso dizer é que fui com a cabeça e com o corpo. Às vezes, eles vão apenas com o corpo. Eu fui sabendo que era difícil. O mercado italiano não abria havia dize anos, então eu sabia que precisava fazer um bom trabalho para abrir mercado a outros jogadores. Tanto que depois foram outros jogadores, como o Edinho, o Zico, o Júnior e o Cerezo. Eu pensava: “Não posso voltar sem ter sucesso”.

Em relação à seleção, você acredita que o time de Luiz Felipe Scolari está pronto para conquistar uma Copa do Mundo em casa ou ainda vai precisar de alguns meses para estar no nível de outras seleções? Essa seleção cresceu e recuperou o prestigio com o torcedor. Eu diria que o marco disso foi o jogo contra a Espanha. Embora a Espanha estivesse um pouco cansada, era o melhor time do mundo. E o Brasil fez um jogo brilhante. Mesmo que a Espanha estivesse bem, não ganharia aquele jogo. Isso deu uma expectativa muito grande de conquista para o torcedor. Eu acho que o Brasil chega forte à competição. Claro que teremos outros times fortes, mas eu acho que o torcedor passou a acreditar mais na possibilidade de vitória.

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Neste atual elenco do Felipão, tem algum jogador que se assemelha ao volante Falcão da década de 1980? É difícil de dizer isso. Eu gosto do Hernanes, gosto do Paulinho. Gosto do volante que chega na frente, tem condição de chegar no espaço vazio. Não gosto do jogador que fica plantado lá atrás. Eu gosto do jogador que sai para o ataque, desde que tenha organização para isso.

Quais são os favoritos para 2014? É difícil apontar. Eu colocaria o Brasil, a Argentina, a Itália, a Alemanha, a Inglaterra, Holanda e ficaria de olho na Rússia.

Como treinador, quais são os seus principais projetos? Você já tem proposta de algum clube em mãos neste momento? Agora até tem essas propostas, pois os times de baixo querem mexer, mas você não consegue fazer milagre, enquanto os times de cima não mexem. O ideal era pegar um time agora em outubro ou novembro e preparar para o ano que vem, não perder tempo. É aquela história: você tem que entrar em janeiro, na pré-temporada, com o time pronto.

Você pensa em voltar a treinar a seleção? Não penso nisso, não.

Você acredita que, como técnico, já teve tempo e espaço para mostrar aquilo que sabe, ou foi atrapalhado por essa cultura de resultados imediatos no futebol brasileiro? Não deu muito tempo, né? Mas, no Bahia, nós conseguimos vencer um Estadual que não era conquistado havia onze anos, e a gente ainda conseguiu chegar entre os oito melhores da Copa do Brasil. Isso porque, infelizmente, jogamos contra o Grêmio todo demolido. Foi um desgaste muito grande no Baiano, era um título que a diretoria queria ganhar a qualquer custo. Na Copa do Brasil, eles não pensavam em chegar tão longe, e, no Brasileiro, eles só não queriam cair. Neste sentido, sim, eu gostaria de ter um Bahia um pouco mais firme para enfrentar o Brasileiro.

E em relação ao Inter? O Inter foi uma coisa muito rápida. Eu fiquei três meses, ganhamos o segundo turno do Gaúcho e depois conquistamos o Estadual em cima do Grêmio, dentro do Olímpico, sendo que havia dezoito anos o Inter não ganhava um título no Olímpico. Então foi muito rápido. Eu fiquei apenas dez rodadas no Brasileiro.

Faltou paciência dos dirigentes? Cara, eu tenho tanta coisa para falar… Na verdade, foi um problema político em que eu acabei sendo envolvido. Eu fiz dez rodadas, nós estávamos a quatro pontos no G-4, com muitos jogadores machucados, sem ninguém, eram vários problemas.

O Inter já confirmou que não vai deixar de fora nenhum ídolo de sua história na festa de reabertura do Beira-Rio. Você guarda alguma mágoa com o clube após sua passagem como treinador? A saída foi muito ruim. O jeito que foi feito, a maneira como isso foi tratado pela diretoria, machuca muito.

Mas você estará na reabertura do Beira-Rio? Eu não sei. Eu só sei que estarei em Porto Alegre nesta quarta-feira para comemorar meu aniversário. O resto eu não sei.

O Dunga e o Fernandão também não conseguiram agradar aos dirigentes colorados. O fato de ser um ídolo no comando provoca uma expectativa maior com relação ao trabalho? No meu caso, ninguém entendeu direito a saída. Eu não posso analisar o caso do Fernandão ou do Dunga, eu posso falar sobre o meu caso, que ninguém conseguiu entender. Foi uma coisa maluca. Minha situação é essa que eu estou dizendo: não houve nenhuma consistência na argumentação para a minha demissão.

(Com agência Gazeta Press)

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