Publicidade
Publicidade

A mulher que fez o jogador Bernardo perder a cabeça

Dayana Rodrigues, 23 anos, está com o traficante Menor P. há dois anos e também foi punida pela ‘traição’. Na favela, bandido ganhou apelido de “Tufão”

A forma como o caso chegou à 21ª DP (Bonsucesso) é praticamente uma confissão de crime: a mãe, o pai e uma irmã de Dayana foram à delegacia acompanhados pelo advogado Nilson Lopes dos Santos – o mesmo que defende Menor P. das acusações de tráfico. A alegação: Dayana teria sido atingida por “sete balas perdidas”

“Deixa ela passar. Não olha nem mexe. Sabe quem tá passando? É a mulher do chefe”. Popular nos bailes das favelas do Rio, o funk Mulher do Chefe traz, no refrão, uma brincadeira com uma das leis do tráfico de drogas. Flertar, brincar ou, como no caso do jogador Bernardo, envolver-se com a mulher de um chefe do tráfico é um delito punido com tortura, fuzilamento e desaparecimento do corpo da vítima. Bernardo, o meia vascaíno que escapou da morte no Complexo da Maré, foi salvo pela fama. O bandido Marcelo Santos das Dores, o temido “Menor P” e chamado também de “Astronauta”, foi alertado por outro jogador, o tricolor Wellington Silva, sobre as consequências óbvias da morte de uma figura conhecida nacionalmente: em resposta ao crime, a favela seria ocupada pela polícia e, como tem ocorrido nos últimos quatro anos, receberia uma UPP, algo que faz minguar os lucros do tráfico de drogas.

Publicidade

Acompanhe VEJA Esporte no Facebook

Siga VEJA Esporte no Twitter

Bernardo cometeu um erro que já levou para o “microondas”, como é chamada a fogueira de pneus onde corpos são incinerados, um número incalculável de vítimas no Rio. A mulher que fez o jogador perder a noção do perigo é Dayana Rodrigues, de 23 anos, mãe de um menino de 6, filho de um traficante que já morreu. A criança chama Menor P. de pai, o que indica o grau de envolvimento do bandido com Dayana. Apesar de ser “mulher do chefe”, Dayana ainda mora com o pai e a irmã, em um apartamento na favela Vila dos Pinheiros, às margens da Linha Amarela. Como manda o figurino, Dayana gosta de ostentar riqueza e poder nas redes sociais – o que se traduz em joias douradas, poses em baladas, exibição de presentes caros e uma tatuagem, uma singela letra M, em homenagem ao amor com o traficante.

“Bernardo é um menino bom”, diz o pai

Bernardo, do Vasco, foi capturado por traficante de favela do Rio

Dele, recebe mimos, e já ganhou pelo menos dois carros. O último deles um Peugeot 308 branco. No início do ano, Menor P. montou uma loja de sapatos para a amada. Os dois estão juntos há pelo menos dois anos – uma relação duradoura, se considerada a vida curta dos traficantes e a alta rotatividade dos relacionamentos no mundo do crime. No último dia 10, o apartamento da ‘segunda dama’ (sim, o traficante tem uma esposa e outras duas namoradas na favela) foi alvo de uma operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope), após receberem a denúncia de que o bandido estaria escondido ali, o que não se confirmou.

Publicidade
Continua após a publicidade

Balas perdidas? – Dayana também foi punida: ela foi atingida por cinco tiros nas pernas e dois no pé esquerdo, mas está fora de perigo e recebeu alta do hospital. A forma como o caso chegou à 21ª DP (Bonsucesso) é praticamente uma confissão de crime: a mãe, o pai e uma irmã de Dayana foram à delegacia acompanhados pelo advogado Nilson Lopes dos Santos – o mesmo que defende Menor P. das acusações de tráfico. A alegação: Dayana teria sido atingida por “sete balas perdidas”.

Bernardo, nas redes sociais, negou ter sido torturado, apesar de ter contado a história para o supervisor Renê Simões, na última quarta-feira. A própria mãe recusa-se a dizer se o filho, de fato, foi agredido. O depoimento do atacante estava previsto para hoje, mas acabou não acontecendo. Ele deve falar à polícia na semana que vem, quando finalmente apresentará sua versão sobre os momentos de terror na favela, que frequentava, como tantos outros jogadores, por ter amigos de outras épocas. Exemplo recente disso foi o atacante Adriano, que teve o nome envolvido com traficantes por ter presenteado a mãe de um deles com uma moto e doado 60.000 reais para a quadrilha da Vila Cruzeiro.

Empréstimo – Bernardo tinha tanta intimidade com bandidos da favela que chegou a pedir dinheiro emprestado ao traficante Menor P., em um dos momentos de atraso de salários do Vasco. Ele pegou com o bandido 40.000 reais e saldou a dívida quando voltou a receber do clube.

Publicidade

O caso de Bernardo vem à tona no momento em que corre, em Minas Gerais, o júri do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, acusado de ser o assassino da jovem Eliza Samudio, que namorou o ex-goleiro Bruno Fernandes, do Flamengo. O novo episódio deixa claro, além do risco que persiste nas favelas cariocas, a atração incontrolável que os craques da bola têm pelo perigo.

Bernardo tem dito a amigos que jamais pisará na favela da Maré outra vez. É uma decisão sábia, diante do problema que criou. O bandido Menor P. passou a ser, depois do episódio, ainda mais visado pela polícia. E está enfurecido: além de amargar a traição, tem sido desmoralizado na favela, onde recebeu o apelido de “Tufão”, em referência ao personagem interpretado por Murilo Benício na novela Avenida Brasil, sempre traído pela mulher, Carminha (Adriana Esteves). Muros da favela passaram a ser pichados com o novo apelido.

O bandido Nos quatro últimos anos, desde que assumiu o controle de quase todas as favelas do Complexo da Maré, localizado às margens da Linha Vermelha e da Avenida Brasil, rotas obrigatórias para turistas que chegam ao Rio de Janeiro pelo Aeroporto do Galeão, o traficante Marcelo Santos da Dores, conhecido como Menor P., expandiu seus tentáculos de poder usando e abusando da violência. Extorquiu (2 milhões de reais) empreiteiras que faziam obras públicas que passavam em seu reduto, capitaneou disputas pelo território que deixaram quase uma centena de mortos e puniu traidores com a morte. O criminoso adotou também políticas assistencialistas, distribuindo gás, remédios e presentes para moradores da favela em datas festivas como Natal, Dia das Crianças, promoveu shows de artistas famosos, como o cantor Naldo, e grandes cultos evangélicos para angariar a simpatia de todos os gêneros. Tudo isso, misturado à corrupção de parte das forças policiais a quem paga.

Menor P. – ou Astronauta – era tão confiante que gostava de dar recados no baile. Numa das gravações que foram parar no youtube, ele pede a união de todos os moradores e reclama que a polícia e o Diabo tentaram ‘ceifar sua vida’. E em seguida cita uma passagem bíblica: “Eu sou que nem o Monte Sião, que não se abala nunca mas permaneço para sempre”. O traficante encerra seu discurso demagogo pedindo gritos mais altos dos presentes ao baile: “Quero ouvir toda a comunidade gritando, porque quem manda na comunidade é vocês (sic), a gente só administra”.

Continua após a publicidade

Publicidade