A beleza interior do Estádio Olímpico de 1,5 bilhão de reais
Formas não seduzem e acabamento é de construção temporária (e é justamente isso que ela é). Do lado de dentro, porém, estádio guarda muitas boas surpresas
O jeitão sem graça acaba escondendo as virtudes do projeto, orçado em 483 milhões de libras. E pontos positivos não faltam ao estádio – pelo menos quando se entra nele
Se existisse uma Olimpíada de arquitetura contemporânea, a Grã-Bretanha ficaria no topo do quadro de medalhas. O Michael Phelps do assunto é Norman Foster, que tem título de cavaleiro do império britânico e um currículo que inclui a transformação do Reichstag, em Berlim, e a construção do novo Estádio de Wembley, em Londres. E o Usain Bolt da matéria é Richard Rogers, cujos principais feitos são os projetos do Centro Pompidou, em Paris, e do novo terminal do Aeroporto de Barajas, em Madri. Nenhum deles, porém, está envolvido no maior projeto urbanístico em curso no território britânico: a renovação da capital para os Jogos Olímpicos, que começam em menos de uma semana. E a peça central do pacote de obras, no coração do Parque Olímpico, em Stratford, leste de Londres, pode ser considerada uma grande decepção para essa nação de craques da prancheta. Costuma-se dizer que um grande projeto arquitetônico é aquele que inspira e fascina ao mesmo tempo em que atende todas as necessidades de seus usuários. Pois o Estádio Olímpico londrino, um primor de funcionalidade e pragmatismo, fracassa de forma retumbante na tentativa de capturar os olhares do público. Seu desenho despojado, de formas pouco atraentes, destoa na sequência de belos estádios construídos para as últimas edições dos Jogos – com destaque, é claro, para o extraordinário Ninho do Pássaro, que deixou de queixo caído quem visitou Pequim na Olimpíada passada. A menos de uma semana da cerimônia de abertura, Londres sabe que o palco maior da festa não vai arrancar suspiros.
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Entre as opções colocadas na mesa estava a manutenção do local como praça de competições e treinamentos de atletismo, alternativa preferida do Comitê Olímpico Internacional (COI) – como o futebol domina as preferências dos europeus, o número de estádios aptos a receber eventos da modalidade no continente é relativamente pequeno. Essa saída também estaria alinhada à promessa britânica de deixar um “legado esportivo” ao país, aumentando o número de praticantes das modalidades olímpicas e oferecendo instalações adequadas à evolução desses atletas novatos. Mas o futebol, sempre ele, apareceu como candidato mais atraente do ponto de vista econômico. Dois grandes clubes da capital, Tottenham e West Ham United, candidataram-se a assumir o estádio depois da Olimpíada. Travaram uma guerra judicial que segue indefinida – o West Ham chegou a ser declarado vencedor, mas ainda não recebeu um parecer definitivo em seu favor. Estivesse decidido o assunto, com a saúde financeira do projeto já assegurada e contribuintes aliviados em saber que não gastarão dinheiro para manter um gigante desocupado, talvez pouco se falaria sobre a estética simplória do local, cujo desenho é assinado pela equipe da Populous, um megaescritório de arquitetura que tem como especialidade justamente estádios e ginásios. Na lista de projetos da empresa, cuja base fica nos Estados Unidos, estão os elogiados Yankee Stadium, em Nova York, o Emirates Stadium, na região norte de Londres, e o Soccer City, palco da última Copa do Mundo, em Johannesburgo, na África do Sul. A repercussão de seu projeto olímpico, portanto, destoa do resto do portfólio da companhia, para decepção dos britânicos.
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preparava o cenário da cerimônia de abertura