Derrota na estreia e ataque de Coudet à diretoria ameaçam projeto do Galo
Treinador argentino do Atlético-MG reclamou de "promessas não cumpridas" na montagem do elenco e de copo de cerveja atirado por torcedor
Não é segredo para ninguém que o objetivo do Atlético-MG em 2023, o ano da inauguração da Arena MRV, é reconquistar o título da Copa Libertadores depois de uma década. Para isso, o clube contratou jogadores experientes e um treinador badalado. No entanto, o comandante argentino Eduardo “Chacho” Coudet não está nada satisfeito com a formação de seu elenco, algo que ficou escancarado depois da derrota por 1 a 0, em pleno Mineirão, para o paraguaio Libertad, na estreia da fase de grupos da competição continental, na última quinta-feira, 7.
Coudet não poupou críticas à direção e até à torcida – ele foi vaiado e atingido por um copo de cerveja – e chegou a cogitar deixar o cargo em razão de “promessas que não foram cumpridas.” Isso tudo às vésperas da segunda final do Campeonato Mineiro, diante do América, depois de o Galo ter vencido a ida por 3 a 2. Os ataques foram direcionados ao diretor de futebol, Rodrigo Caetano, ao presidente Sérgio Coelho e aos chamados 4R’s, os mecenas do Atlético, Rubens Menin, Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador.
Sem o capitão e ídolo Hulk, suspenso, o Atlético levou um gol de Gómez no início, após falha de Otávio, e não conseguiu reverter o resultado que lhe complica no grupo G, pelo qual Athletico-PR e Alianza Lima empataram sem gols na rodada. Depois da partida, Coudet surpreendeu pelo tom com o qual fez duras críticas. Ele se mostrou especialmente incomodado com a venda de Eduardo Sasha para o Red Bull Bragantino.
“O diretor esportivo falou do grupo, me buscaram, teve um tanto de coisa que estavam sobre a mesa. Não vim pelo dinheiro, nem por nada, venho pelo desafio esportivo, porque gostei do clube. Mas tudo mudou. Ou vocês não sabem que tudo mudou? Eu fiz as últimas vendas? Eu aprovei alguma venda? Ou não souberam que a última venda que não era para acontecer. Era mais fácil colocar o Sasha hoje ou estrear um jovem na Libertadores?”
Para esta temporada, o Atlético contratou nomes como Edenílson, Patrick, Igor Gomes, Renzo Saravia, Christian Pavón, Bruno Fuchs, Rodrigo Bataglia e o atacante Paulinho, destaque do time na fase pré-Libertadores, entre outros. No entanto, perdeu outros tantos destaques, como Nacho Fernández, Keno, Sávio, Jair, Ademir e Sasha, o que desagradou o treinador. “Estou todo dia trabalhando melhor, tentando trazer quatro jogadores de graça, pedindo aos investidores por favor que tragam um volante. A equipe jogou muito mal, sim, mas assim é difícil. Com 20 jogadores, não teremos dificuldades com três competições? Ou acreditam que não era importante segurar jogadores?
Coudet citou nomes para detalhar sua frustração com a mudança de perfil de contratações. “Mudou o projeto. Se passamos do Felipe, [zagueiro] do Atlético de Madri, e Gilberto [lateral] do Benfica, para depois trazer Lemos e Rodrigo de graça…. Parece que mudou ou não? Tentamos fazer o possível. O diretor está comigo todo dia. Os jogadores ligam, ele liga. Que saiam bom e barato, é o que temos de possibilidade. Tentamos cuidar disso da melhor maneira.”
O treinador argentino revelou ainda que pediu uma cláusula que facilite a sua saída. “O único que pedi é uma cláusula de saída, porque trocou tudo. É a única coisa que pedi aos investidores e diretores. Porque não é o que me prometeram quando me buscaram. Os clubes grandes são difíceis. Mas é o que há. Eu assinei por dois anos. E agora, o que faço?”
O treinador argentino, com passagens recentes por Inter e Celta de Vigo, demonstrou mágoa por ter sido atingido por um copo plástico de cerveja. “Estamos numa final do Estadual e ganhamos o primeiro jogo. É normal isso? Os investidores acompanham até a morte os diretores e os jogadores. Mas meu contrato está na mesa. Que façam o que quiserem. (…) “Agradeço os torcedores que empurram até a morte. Mas vivi hoje algo que nunca tinha visto, meu próprio torcedor atirando copo de cerveja. Isso é normal com 10 partidas vencidas?” desabafou. “Posso suportar pressão, um tanto de coisa que pode acontece, mas essa situação é muito diferente.”
Ele, no entanto, disse que voltará suas atenções ao título mineiro. “Vamos trabalhar e vamos reverter a situação. Tenho bons jogadores. Poucos, mas muito bons. Vamos tentar jogar da melhor maneira. Vamos nos preparar para jogar a final de domingo”. Atlético e América decidem o título a partir das 16h30 (de Brasília), no Mineirão.