Natália Lara: ‘Copa do Mundo vem para valorizar e incluir as mulheres’
Aos 28 anos, jornalista paulista será uma das mais jovens a narrar uma Copa do Mundo com o desejo de ajudar a abrir mais portas para as mulheres
A primeira mulher a transmitir uma Copa do Mundo pelo SporTV, Natália Lara, 28 anos, é também uma das mais jovens a fazê-lo. A narradora, já conhecida por seu trabalho nos Jogos de Tóquio, no game Fifa 23 e por trazer pautas inclusivas, como linguagem neutra e audiodescrição, agora se prepara para cobrir o maior evento esportivo do mundo.
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Em entrevista a VEJA, ela falou sobre os sentimentos às portas do maior desafio da carreira aliado a um desafio particular: valorizar e incluir ainda mais o trabalho das mulheres.
Qual sua expectativa para a Copa? É a transmissão dos sonhos. Quando comecei a narrar e traçar os planos para o futuro, não imaginava que estaria na Copa de 2022. É um sentimento de ansiedade e apreensão, que ficarão de lado quando chegar o momento. Estou com muita expectativa para o torneio, meu trabalho e a seleção.
A agitação política pode estragar o clima? Vivemos um momento muito polarizado. Cada um demonstra seu lado político. Apesar disso, a Copa do Mundo pode ser um momento de reunião. E que seja mesmo. Espero todos unidos no sonho de conquistar um título. Vejo potencial não só no evento, mas no esporte como um agente transformador. Pode ser utópico, mas torço para que essa festa sirva para que as pessoas repensem valores que nos desagregam.
A sua escolha revela que a Globo também está repensando seus valores? Quando entrei, em 2021, tinha pouquíssimos dias de casa e já narrei as Olimpíadas. Foi algo muito intenso e uma oportunidade de vislumbrar um grande evento. Essa construção foi feita não só pelos resultados do meu próprio trabalho, mas pelo momento que vivemos dentro da emissora com a chegada de mais mulheres em diversas áreas e introdução de modalidades femininas. A Copa do Mundo vem, também, para valorizar e incluir nosso trabalho, algo que poderia ter sido feito anos atrás.
Como é ser um dos rostos dessa representatividade feminina? Desde que comecei a trabalhar, principalmente com televisão, recebo mensagens muito legais de meninas que têm o sonho de narrar. Acho curioso também que algumas pessoas ficam felizes em ter um cabelo cacheado ou usar óculos, parecendo comigo. É muito recompensador. Dias atrás, uma mulher que estava assistindo a final do Brasileirão feminino, que eu narrei em em Porto Alegre, falou para mim e para Renata Mendonça e disse: ‘Vocês fizeram acreditar que posso virar uma narradora. Eu quero ser e vou atrás disso’. Fico imaginando que a minha presença nesse momento vai fazer com que outras gerações comecem a enxergar a presença da mulher nesse universo como algo cada vez mais natural.
É por isso a introdução em sua narração de pautas alheias, até então, ao esporte? Minha maior prioridade é tratar as pessoas com respeito. Por exemplo, nas Paralimpíadas, eu estava narrando algo que muitos deficientes visuais estariam acompanhando. Poxa, nada mais justo do que dentro desse evento trazer acessibilidade. Faz falta no esporte e no nosso dia a dia. Vejo pouquíssimo alcance ainda, então trago isso como uma missão. Até porque sou uma mulher que está dentro de um mercado que por muitos anos foi muito masculino. Temos que trabalhar cada vez mais para que todas as pessoas se sintam representadas.
Qual o sentimento de narrar uma Copa em um país que tem se mostrado totalmente contrário aos seus ideais? Cada país tem a sua cultura e forma de lidar com questões religiosas, e isso não nos diz respeito. Temos uma tarefa muito importante dentro dessa Copa do Mundo que é passar informação e não trazer um ponto de vista. Há uma linha tênue entre cultura e visões de mundo e é necessário cuidado ao abordar isso. Se a Fifa disse que as pessoas serão respeitadas pelos pelo que elas são, e realmente forem, então está tudo certo. É preciso alinhar as expectativas de quem for também. Não podemos querer mudar os costumes de um povo só porque queremos visitá-lo.
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