As lágrimas de Cristiano Ronaldo: craque dá seu melancólico adeus à Copa
Ídolo chegou ao Catar em baixa, fez só um gol de pênalti e até virou reserva. Aos 37 anos, ele não pôde mais ser o herói de Portugal
Cristiano Ronaldo deu provavelmente o seu adeus às Copas do Mundo com a derrota de Portugal para o Marrocos, neste sábado, 10, pelas quartas de final do Mundial do Catar. Aos 37 anos, o maior jogador da história do futebol português não conseguiu ser o herói de quem sua seleção tantas vezes dependeu. Em baixa na carreira, imerso em polêmicas, ele deixou o campo às lágrimas, inconsolável – o retrato de uma participação melancólica, em que perdeu até mesmo a titularidade e marcou só um gol, de pênalti, na primeira fase.
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Maior artilheiro da história do futebol de seleções, com 118 gols em 196 jogos, Cristiano chegou ao Catar no pior momento da carreira. Reserva no Manchester United, ele havia entrado em atrito com o clube ao forçar uma saída no meio do ano, sem sucesso, com o objetivo de ampliar seus recordes na Liga dos Campeões. Nenhum grande time da Europa se interessou. Quando a Copa começou, uma entrevista-bomba que o jogador havia gravado com um jornalista amigo foi ao ar; nela, ele lançou um caminhão de críticas contra o técnico Erik ten Hag, a diretoria e até colegas de equipe. O United não teve escolha senão rescindir seu contrato.
Dois dias depois, agora desempregado, Cristiano fez sua estreia na Copa diante de Gana. O jogo seguiu um roteiro bastante familiar das exibições recentes do craque – ele participou pouco, errou lances que não costumava errar, mas protagonizou um momento decisivo. Sofreu e converteu um pênalti para abrir o placar da vitória por 3 a 2. A atuação, porém, foi ofuscada pela de Bruno Fernandes, seu ex-colega de United, autor de duas belas assistências.
Nos 2 a 0 sobre o Uruguai, mais um jogo apagado de Cristiano. A explosão e a agilidade que lhe renderam cinco troféus de melhor jogador do mundo não apareciam mais. O atacante só conseguia finalizar com perigo se a chance vinha limpa, clara. No terceiro jogo, já classificado, o técnico Fernando Santos escalou um time quase todo reserva diante da Coreia do Sul. Um dos poucos titulares mantidos, é claro, foi Cristiano Ronaldo, sempre sedento por gols e marcas históricas.
Ronaldo jogou mal de novo e foi substituído no segundo tempo da derrota por 2 a 1. Na saída de campo, uma câmera flagrou o craque reclamando e falando palavrões. Ele garantiu que os impropérios eram dirigidos a um jogador sul-coreano, e não ao treinador. Fernando Santos, após ver as imagens, admitiu que “não gostou nada”, mas que o assunto estava resolvido internamente. E aí veio a bomba: pela primeira vez em Copas do Mundo, Cristiano Ronaldo seria reserva, e justo em um jogo decisivo, nas oitavas de final contra a Suíça.
Sem o veterano em campo, Portugal se transformou. O jovem Gonçalo Ramos, promessa do Benfica, que entrou no lugar do ídolo, infernizou a defesa suíça com sua movimentação e marcou três gols. Cristiano entrou no segundo tempo com o jogo já resolvido e teve mais uma exibição apagada, cheia de erros técnicos. A seleção venceu por 6 a 1, mas ele não marcou.
Fernando Santos admitiu que Cristiano não recebeu bem a notícia de que seria reserva contra a Suíça. A federação portuguesa teve que desmentir publicamente uma reportagem do jornal Record que afirmava que o capitão ameaçou até abandonar o time e ir embora do Catar. Nas redes sociais, Cristiano tentou enviar uma mensagem de união e espírito de equipe. Mas a cada vez em que era filmado no banco de reservas, o desconforto da lenda com a situação era nítido.
O último suspiro foi diante do Marrocos. Desta vez, a presença de Ronaldo no banco não foi surpresa para ninguém. Os portugueses sofreram contra a feroz marcação dos africanos e saíram atrás no fim do primeiro tempo, com gol de En-Nesyri em falha do goleiro Diogo Costa. Cristiano entrou no segundo tempo com o time perdendo. Era a hora do script já visto tantas outras vezes: o camisa 7 ao resgate, salvando Portugal de novo com um gol decisivo. Era inevitável.
Só que Cristiano Ronaldo não é mais inevitável. Limitado a esperar cruzamentos na área, o capitão mal conseguiu incomodar a excepcional defesa marroquina. Na melhor chance que teve, se movimentou bem para receber um passe em profundidade pela direita e chutou de primeira, em um lance que já terminou no fundo da rede dezenas, talvez centenas de vezes. Desta vez, a bola não foi tão no canto, nem tão forte. O goleiro Bono defendeu.
No apito final, o mais vaidoso dos craques não fez força para disfarçar o choro. No adeus, Cristiano Ronaldo, que em tantos jogos decisivos pareceu ser invencível, mostrou que também pode ser vulnerável. Um dos maiores jogadores da história do futebol não terá um título de Copa do Mundo no currículo, como tantos outros gênios.
No fim das contas, nada disso diminui o tamanho de CR7. Vale lembrar que ele foi crucial no primeiro título da história da seleção, praticamente arrastando Portugal com seus gols até a final da Eurocopa em 2016, quando o time foi campeão sem o craque lesionado em campo. É o maior ídolo de seu país. Mas a dura realidade é que o tempo passa para todo mundo. Até para os heróis.