Aplausos, vaias e triunfo: o reencontro do ídolo Fábio com o Cruzeiro
Dispensado por Ronaldo, goleiro de 41 anos voltou ao Mineirão e foi importante na classificação do Fluminense às quartas da Copa do Brasil
BELO HORIZONTE – Quando a CBF sorteou os confrontos das oitavas de final da Copa do Brasil, em 7 de junho, entre tantos clássicos, um jogo tinha um apelo especial. O duelo entre Cruzeiro e Fluminense gerou ansiedade pelo reencontro do goleiro Fábio com a torcida cruzeirense. O “casamento” de 17 anos e 976 partidas chegou ao fim no início deste ano por empecilhos contratuais, contra a vontade do veterano, que nesta terça-feira, 13, viveu uma doce vingança na classificação do tricolor com triunfo por 3 a 0.
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No estádio em que mais foi ovacionado durante a carreira, Fábio saiu classificado, mas desta vez com outra camisa. Ouviu reações diferentes das arquibancadas. Entre vaias e aplausos, justificou em campo que, aos 41 anos, ainda tem lenha para queimar, seja onde for.
Pela primeira vez em 18 anos, Fábio volta ao Mineirão sem a camisa do Cruzeiro. Entre os torcedores que já estão dentro do estádio, houve aplausos e homenagens.
Ainda assim, quando Rafael, atual goleiro cruzeirense, entrou para aquecer, a torcida o chamou de melhor do Brasil. pic.twitter.com/WDLeBzbJ0H
— Guilherme Azevedo (@guiazevedo31) July 12, 2022
Fim de uma longa relação
Fábio Deivson Lopes Maciel chegou ao Cruzeiro em 2005, vindo do Vasco. Desde então, venceu sete campeonatos mineiros, duas Copas do Brasil e dois Brasileiros. Ainda esteve no gol do time mineiro na final da Libertadores de 2009, amargou o rebaixamento em 2019 e os dois anos seguintes na Série B.
No final de 2021, o goleiro chegou a firmar renovação contratual com o Cruzeiro, mas a transição da gestão anterior para a SAF, em que Ronaldo Fenômeno é sócio majoritário, culminou no fim de uma longa história, em janeiro deste ano.
Fábio se manifestou com mágoa após a decisão. “Tentei com todo meu coração permanecer no Cruzeiro. Sempre fui transparente e vocês saberão a verdade agora.” O arqueiro ainda afirmou que aceitaria reduzir o salário para seguir e completou. “Com coração apertado, com lágrimas e dor, preciso aceitar que não contam comigo.”
Dias após o pronunciamento do goleiro, Ronaldo respondeu e expôs a versão do clube: “Todo esforço que a gente podia ter feito para manter o Fábio e oferecer a ele um período para ele se despedir da torcida, despedir da casa que foi sua, foi feito. Uma pena que não chegamos a esse acordo.” A lenda da seleção brasileira ainda afirmou que nenhum jogador é maior que o Cruzeiro.
Ele voltou, mas não estava de volta
Fora do Cruzeiro, o jogador se negou a pendurar as luvas e foi em busca de novos desafios. O destino foi o Fluminense, clube em que recebeu espaço e disputou as principais competições do cenário sul-americano. Com a camisa Tricolor, já fez 35 partidas, duas dela com gosto especial.
No Maracanã, em 23 de junho, foi a vez de Fábio defender o gol contra o Cruzeiro, pela primeira vez em 19 anos. O goleiro não enfrentava o time azul de Belo Horizonte desde 2003, quando estava no Vasco.
A partida, que contou com maioria da torcida do Fluminense, terminou em 2 a 1 para os cariocas. A primeira parte do reencontro terminou com vantagem para o goleiro, mas a grande parte do episódio ficou justamente para o Mineirão, no jogo decisivo, que definiu o classificado para as quartas de final.
Roteiro de (anti) herói
Mais de 58.000 pessoas estiveram no Mineirão para a partida e as arquibancadas acinzentadas foram pintadas por camisetas azuis. Mas antes mesmo de grande parte deste público chegar, Fábio subiu as escadas dos vestiários e pisou no gramado do estádio para trabalho de aquecimento.
A reação foi mista. Pequenas vaias, alguns aplausos, postos como coadjuvantes quando a torcida do Fluminense, provocativa, elegeu o goleiro como o “melhor do Brasil.” Bastou o ímpeto dos cariocas diminuir que a parte mandante do Mineirão homenageou Fábio com uma salva de palmas e o mesmo cântico dos tricolores.
Todo esse carinho durou pouco. Bastou Rafael Cabral, atual dono da meta cruzeirense, entrar para aquecer. Logo o nome de Fábio foi substituído e, para os cruzeirenses, o melhor goleiro do país passou a ser o que, hoje, defende as cores azul e branca. Entretanto, a maior mudança no tom das reações aconteceu quando o goleiro do Fluminense dominou a bola pela primeira vez. Naquele momento, só se ouviu vaia. E a situação se repetiu, até o apito final.
Mas, como o assunto central é o futebol, o mais importante aconteceu durante os 90 minutos. Ainda na primeira etapa, o Cruzeiro chegou com perigo ao gol Tricolor e só não abriu o marcador em razão de Fábio. O lance que podia mudar a lógica da partida parou no goleiro. Outras cinco finalizações cruzeirenses foram defendidas pelo camisa 12.
Quando o árbitro Raphael Claus assoprou o apito para encerrar o jogo e oficializar a classificação do Fluminense, o goleiro Fábio conseguiu mais uma noite de sucesso no Mineirão. Desta vez, no entanto, o símbolo não era o do Cruzeiro e o público não o ovacionava. Um dos últimos passos do goleiro nesta passagem terminou, inclusive, com uma atitude lamentável: um copo que voou na direção do ídolo. O experiente jogador imediatamente demonstrou insatisfação e gesticulou negativamente.
Enquanto Fábio deixava o campo, um copo foi atirado em sua direção. O goleiro, em gesto de reprovação, gesticulou para a torcida de seu ex-clube.
— Guilherme Azevedo (@guiazevedo31) July 13, 2022
Fábio virou herói para o lado grená, verde e branco do Rio de Janeiro, mas foi anti-herói para aqueles que o acompanharam durante esmagadora parte da carreira. A análise da importância foi de Fernando Diniz, treinador do Fluminense, que, na coletiva de imprensa pós-jogo, exaltou seu líder: “Se foi vaiado, uma pena. Mas era um jogo simbólico e ele foi importante: fez defesas difíceis. Ele é gigante, um dos maiores goleiros da história do país. Merecia a classificação, o simbolismo do jogo.”
Capitão, ídolo, defensor de pênaltis e decisivo em 17 anos de Cruzeiro, Fábio pode nunca mais reencontrar o clube em que fez história. Aos 41 anos, o atleta tem contrato apenas até o fim deste ano, o que aumenta ainda mais o peso do duelo da última terça-feira.
A noite terminou com uma brincadeira do Fluminense nas redes social. “Obrigado, fenômeno! Paredão tricolor”, escreveu o clube, em uma mensagem com duplo sentido, como se agradecesse a Ronaldo por ter dispensado o novo goleiro.
OBRIGADO, FENÔMENO! PAREDÃO TRICOLOR! 👊🏼🇭🇺 pic.twitter.com/khkXfMgQuo
— Fluminense F.C. (@FluminenseFC) July 13, 2022
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