Publicidade
#TBT Placar ícone blog #TBT Placar Toda quinta-feira, um tesouro dos arquivos de nossas cinco décadas de história

‘Quem não tem Kuki tem medo’: o ídolo do Náutico na PLACAR

"Gaúcho do Ceará", artilheiro do Timbu foi perfilado pela revista em 2001 e contou sua inusitada trajetória no futebol, de quem começou tarde e virou ídolo

Sílvio Luiz Borba da Silva. Quem vivenciou o futebol na década de 2000 certamente se lembra deste artilheiro, conhecido pelo apelido, Kuki, e por seus gols com a camisa do Náutico. Na edição de junho de 2001, PLACAR traçou o perfil deste “gaúcho do Ceará” que marcou época no Timbu.

Publicidade

Na época, mais do que apelido (inspirado em cuque, ou cuca, nome de um bolo de origem alemã, típico do sul), chamava mais atenção de PLACAR o fato do atacante, então com 30 anos, ter iniciado a carreira bastante tarde.

“Chegou a Pernambuco aos 29 anos e não passava de uma aposta. Endividado, o clube não tinha dinheiro para investir num atacante de renome para impedir o hexacampeonato do Sport. Por ironia, Kuki chegou a ser oferecido aos dois tradicionais rivais, mas Sport e Santa Cruz o desprezaram, temendo possíveis represálias das torcidas por confiar a tarefa de goleador a um ilustre desconhecido. Melhor para o Timbu”, contou o repórter Leonardo Guerreiro.

Publicidade

O técnico do Náutico, Muricy Ramalho, rasgava elogios a seu atacante. “O Kuki é um jogador raro, de velocidade incrível. Hoje existem poucos como ele no futebol brasileiro e acho que sua baixa estatura é compensada pela rapidez. A maioria dos atacantes atuais não tem altura elevada. Foi uma surpresa bastante agradável.”

Kuki encerrou a carreira em 2009, com 389 jogos e 184 gols, que fazem dele o terceiro maior artilheiro da história do Náutico – o maior é Bita, com 223 tentos. O blog #TBT PLACAR, que todas as quitas recupera um tesouro de nossos arquivos, reproduz o texto na íntegra.

Quem não tem Kuki tem medo

Aos 30 anos um jogador pode virar revelação? O artilheiro do Náutico, um dos líderes da Chuteira de Ouro de PLACAR, está provando que sim

Publicidade

Por Leonardo Guerreiro

No ano passado, o Brasil reconheceu o talento de Adhemar, do São Caetano, no auge de seus 29 anos. Este ano já há outro candidato ao mesmo feito. E não é uma simples promessa. A torcida do Náutico que o diga. Baixinho, 30 anos, chegou a Recife praticamente desconhecido. Mas Sílvio Luiz Borba da Silva, ou simplesmente Kuki, vem impressionando: velocidade, chute, impulsão, raça e, sobretudo, facilidade em fazer gols. Esse ano, já balançou as redes adversárias 24 vezes, metade no Nordestão e a outra metade pelo Pernambucano. Como se não bastasse, é um dos líderes da Chuteira de Ouro de PLACAR (veja na seção “Abrindo o Jogo”) e foi escolhido para a seleção dos melhores do regional ao final da competição.

Por que um jogador demora tanto para despontar? Como Adhemar, que foi vendido ao futebol alemão, Kuki estourou tarde na carreira. Chegou a Pernambuco aos 29 anos e não passava de uma aposta. Endividado, o clube não tinha dinheiro para investir num atacante de renome para impedir o hexacampeonato do Sport. Por ironia, Kuki chegou a ser oferecido aos dois tradicionais rivais, mas Sport e Santa Cruz o desprezaram, temendo possíveis represálias das torcidas por confiar a tarefa de goleador a um ilustre desconhecido. Melhor para o Timbu.

Até chegar aos Aflitos, o cartão de apresentação de Kuki era a marca de maior artilheiro de Santa Catarina em todos os tempos, pelo Inter de Lages, com 32 gols marcados na segunda divisão, ano passado. A sua contratação foi uma indicação de Júlio Espinosa, ex-técnico do Náutico, que assistiu a uma partida em que o atacante fez dois gols.

Aliás, marcar gols sempre foi a especialidade de Kuki. Desde o modesto Encantado, clube da cidade de mesmo nome, da segunda divisão gaúcha, onde começou a carreira em 1993, aos 22 anos. Isso mesmo. Ele não seguiu a trajetória comum à maioria dos jogadores, passando pelas divisões de base. Não foi falta de tentativa. Kuki foi reprovado, aos 17 anos, em testes nos juniores, tanto no Grêmio quanto no Internacional. “Me acharam baixo para o estilo do futebol gaúcho, de muita força. Comecei tarde, é verdade, mas tinha de ser assim. O fato é que trabalhei e hoje estou bem aqui no Náutico”, diz.

A verdade é que Kuki nunca se intimidou com as dificuldades. Em Encantado, por quatro meses, trabalhava durante o dia numa fábrica de bolsas, treinava à noite e jogava nos finais de semana. Tudo por pouco mais de um salário mínimo. “Eu fazia o acabamento e gostava muito. Já recebia as bolsas prontas, colocava as fivelas e coisas do tipo. Acho que qualquer trabalho enobrece”. Depois do início no Encantado, passou por Taquariense, Palmeirense, Ypiranga, Veranópolis, Lajeadense e Grêmio Santanense, todos do interior gaúcho. Além desses, jogou também no Brusque e no Internacional de Lages, em Santa Catarina.

Kuki, do Náutico, durante jogo contra a Portuguesa pela série B do Campeonato Brasileiro, no estádio do Canindé – Renato Pizzuto/PLACAR

Gaúcho do Ceará

A família do jogador mora em Roca Sales, a 146 quilômetros de Porto Alegre. Ele adotou a cidade ” onde foi criado pela avó Irene ” pois era filho de militar e as mudanças eram freqüentes. Assim, Kuki saiu de Crateús ” distante 282 quilômetros de Fortaleza ” e, aos 7 meses de vida, acabou tendo de se acostumar ao frio do sul, enquanto seus pais moravam na Bahia e em Goiás. Lá, recebeu o apelido com o qual é chamado até hoje – cuque, ou cuca, é o nome de um bolo de origem alemã, típico do sul.

A cada gol seu, chovem telefonemas dos amigos do interior gaúcho. “Em algumas cidades da região já se acompanha mais o Campeonato Pernambucano do que o próprio Gauchão”, afirma, exagerado. Todos querem notícias do artilheiro. Seu primeiro chamado, entretanto, é sempre para Dona Irene. Quando não está treinando, Kuki se divide entre escutar seus CDs de samba no quarto do flat que divide com o zagueiro André Turatto, em Boa Viagem, e a leitura da Bíblia. De lá, ele só sai para fazer as refeições num shopping próximo, apesar de garantir que a comida feita por Turatto “até quebra o galho”. Às vezes, arrisca um futevôlei em frente ao Acaiaca, tradicional ponto dos esportes de praia no Recife.

Kuki gosta de samba. Mas há também espaço para as raízes gaúchas do “Galpão Crioulo”. “Quando ligava o rádio lá no Sul, tinha sempre muita música típica. Já achei um Centro de Tradições Gaúchas por aqui, mas ainda não tive tempo de ir”, diz o jogador, que não vê a hora de a avó chegar trazendo a cuia e a erva-mate para fazer um chimarrão. Por azar, o lateral-direito Rafael, o outro gaúcho do elenco, também esqueceu os apetrechos.

Kuki, do Náutico, ouvindo CD´S em sua casa – Alexandre Belem/PLACAR

Falta de chimarrão, derrota no Nordestão. Kuki teve poucos momentos ruins na cidade e garante que todos foram superados. “Ninguém esperava sair do Campeonato do Nordeste daquela forma (derrota de 1 x 0 para o Sport), mas já aconteceu, não podemos ficar com a cabeça naquele jogo. Tivemos a decisão do primeiro turno contra o Santa Cruz que foi completamente diferente, pois entramos com mais determinação.”

Kuki acha que a partida chave para a arrancada do turno foi a vitória de 2 x 1 sobre o Sport, em plena Ilha do Retiro, no jogo de volta da fase inicial, logo após a queda de Valdyr Espinosa. “No jogo contra o Sport, a estréia de Muricy Ramalho, ficamos com um jogador a menos a partir dos 34 minutos do primeiro tempo e nos doamos ao máximo. A força interior de cada um pesou bastante.”

Foi com essa mesma “força” que cobrou o pênalti que levou o Náutico à final do Pernambucano, quebrando um tabu de seis anos, na vitória de 1 x 0 sobre o Santa Cruz, nos Aflitos. Seu próximo desafio é tirar o time da fila de 11 anos sem títulos e, ao mesmo tempo, defender a maior conquista do clube: o hexa pernambucano, jamais igualado pelos adversários. Mas quer ficar longe da pressão: “Costumo dizer nas entrevistas que chegamos agora. Portanto, não somos culpados deste jejum, nem da história de morrer na praia.”

Seu conselheiro dentro do clube é o experiente Sangaletti, que sempre o orienta a deixar de lado o temperamento explosivo. “Teve muita confusão na final do turno, mas eu não me meti”, afirma Kuki. Curiosamente, o próprio Sangaletti foi quem acabou expulso.

Kuki está realmente tranqüilo em Recife. E com moral. Palavras de Muricy, que não economiza elogios “O Kuki é um jogador raro, de velocidade incrível. Hoje existem poucos como ele no futebol brasileiro e acho que sua baixa estatura é compensada pela rapidez. A maioria dos atacantes atuais não tem altura elevada. Foi uma surpresa bastante agradável.”

Até chegar aos Aflitos, o cartão de apresentação de Kuki era a marca de maior artilheiro de Santa Catarina em todos os tempos, pelo Inter de Lages, com 32 gols marcados na segunda divisão, ano passado.

Kuki, do Náutico, no telefone, em sua casa – Alexandre Belem/PLACAR

Kuki
Silvio Luiz Borba da Silva
Nascido em: Crateús (CE), em 30/4/1971
Peso e altura: 70 kg, 1,86 m
Carro: Fiat Siena
Orgulho: Maior artilheiro de Santa Catarina, com 32 gols, pelo Inter de Lages em 2000
Música: Zeca Pagodinho, Jorge Aragão, Almir Guineto e Fundo de Quintal

Para fazer parte da nossa comunidade, acompanhe a PLACAR nas mídias sociais.

Publicidade