Galvão Bueno na Band: relembre capa de PLACAR com ‘a voz do futebol’
Em agosto de 2000, revista acompanhou rotina do então narrador da Globo e detalhou sua relação de amor e ódio com os telespectadores
![Galvão Bueno na Band: relembre capa de PLACAR com ‘a voz do futebol’](https://placar.com.br/wp-content/uploads/2021/09/capa_galvao_bueno4826479870_8559fca58a_b.jpg)
Galvão Bueno está de volta à Band após 44 anos. O maior ((e mais controverso) narrador da história do esporte nacional acertou seu retorno à TV aberta, para apresentar um programa, Galvão e Amigos, às segundas-feiras, além de ser uma espécie de mestre de cerimônias das transmissões da Fórmula 1, segundo informações do portal F5 nesta quinta-feira, 13.
Aos 74 anos, Galvão segue arrastando uma multidão de fãs (e de haters). Afinal, se você nunca reclamou de algum comentário do jornalista durante uma transmissão, você não deve acompanhar muito o futebol. Ao mesmo tempo, as transmissões sem Galvão e seus bordões que nos acompanharam em inesquecíveis alegrias perderam muito da graça.
A “voz do futebol”, como classificou a capa da edição 1166 de PLACAR, lançada em agosto de 2000, já tratava deste dilema há 25 anos. Como o narrador mais marcante do Brasil, o profissional dividia – e ainda divide – opiniões: se ele é tão odiado assim, porque as pessoas continuam acompanhando os jogos pelo canal?
PLACAR acompanhou um dia de trabalho de Galvão e revelou o “estrelismo” do locutor número 1 do país. Não no sentido pejorativo, mas em relação ao perfeccionismo que exigia no serviço. Os funcionários da Globo contaram sobre como ele cobrava que tudo estivesse em ordem. Se não, era bronca na certa. “Ainda vou brigar com uns três ou quatro antes do jogo”, dizia tranquilamente o narrador antes da vitória da seleção brasileira sobre a Argentina por 3 a 1, em jogo das Eliminatórias da Copa do Mundo de 2002.
Galvão havia acabado de renovar o contrato com a Globo até 2006. “Depois disso pretendo descansar um pouco”, dizia, achando que hoje já estaria bem longe dos microfones. A estimativa é que as cifras girassem entre os 3 milhões de reais anuais, salário acima do que recebiam os principais diretores da emissora carioca. “Não falo sobre isso, nem se é mais, ou se é menos”, esquivava-se o locutor.
A relação de amor e ódio do torcedor com ele se comprovou em pesquisa feita no site de PLACAR na época. Na eleição do pior narrador, Galvão venceu disparado com 47,6% dos votos. Porém, foi o segundo mais votado como o melhor por 24,7% do público, praticamente empatado com o líder Luciano do Valle, da Band, que teve 25,5% dos votos.
A prova de seu sucesso vinha de outros números. A Globo teve 44 pontos de média no Ibope durante o clássico sul-americano. A Band, com Luciano do Valle, mal passou dos sete. Para efeito de comparação, a novela Laços de Família, campeã de audiência do canal carioca em 2000 marcava 42 pontos de média. A final de Roland Garros daquele anos, com Guga no auge e exclusiva da Bandeirantes, chegou aos 20.
A reportagem ainda trazia curiosidades da vida de Galvão Bueno, do início da relação com a ainda namorada Desirée, a esperança em ter um filho piloto de Formula 1 e a amizade com Vanderlei Luxemburgo, que era o técnico da seleção brasileira. A entrevista na íntegra está disponível aqui.
![Reportagem sobre Galvão Bueno na PLACAR Reportagem sobre Galvão Bueno na PLACAR](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/01/galvao.jpg?quality=70&strip=info&w=650)
A voz do futebol
Por André Fontenelle e Marcelo Costa Colaborou Sérgio Xavier Filho
Pode ser um jogo da Seleção ou uma final de campeonato. Não importa quem esteja em campo, é sempre o mesmo timbre. O vozeirão que sai da TV do vizinho de cima, do boteco ou do seu próprio aparelho é dele: Galvão Bueno, o locutor que fala demais, opina demais e que ninguém consegue desligar
Vamos embora, Arnaldo, olha a hora!”
Não, não é só no ar que Galvão Bueno gosta de atazanar a vida de seu comentarista de arbitragem. Caíra o símbolo da Globo do paletó de Arnaldo César Coelho, que corria atarantado pelos corredores da Globo à procura de outro. Ainda faltam duas horas e meia para o início de Brasil x Argentina, mas o narrador da Globo não perde a oportunidade de pôr pilha no colega e nele próprio, espécie de ritual que o ajuda a entrar no clima de cada transmissão. “Ainda vou discutir com três ou quatro antes do jogo”, diz, já na van da emissora a caminho do estádio.
Os três ou quatro já sabem disso, estão acostumados. Faltou um papel? O som não está perfeito? Qualquer coisa é pretexto para o showzinho. Ele é uma estrela, uma prima-dona e nunca procura disfarçar isso. Ele só viaja de primeira classe, hospeda-se em hotéis do porte do parisiense Ritz (sim, aquele mesmo da princesa Diana).
Se a cama não estiver macia, troca de hotel na mesma hora e dá um esporro no funcionário da Globo que o colocou ali.
Se não fosse assim Galvão Bueno não seria o que é, o locutor que divide o Brasil em dois partidos: os que o amam e os que odeiam. Prova disso é a enquete que PLACAR fez em seu site (www.placar.com.br) em julho: o público considera Galvão ao mesmo tempo o pior locutor (47,6%) e o segundo melhor (24,7%), praticamente empatado com Luciano do Valle, da Bandeirantes (25,5%).
Outra prova são as faixas, a favor e contra, que proliferam feito praga nos estádios onde ele dá as caras. Vão da inocente “Galvão, filma eu” até uma sacana “Galvão, vá pentear macacos”, desenrolada aos poucos e que por isso acabou escapando à vigilância dos editores de imagens e foi ao ar. O locutor virou a estrela dos jogos: cinqüentão desde o dia 21, Galvão Bueno está no auge da carreira.
A Globo sabe o que isso significa: acaba de fazer dele o locutor mais caro da história da televisão brasileira. O contrato assinado até dezembro de 2006, comenta-se, é de 3 milhões anuais. Muito dinheiro, muito mesmo, difícil de acreditar que um narrador ganhe tudo isso. Sobretudo quando se sabe que um diretor de rede da emissora fatura 600 mil reais/ano e a própria Marluce Dias da Silva, chefona da Globo, recebe algo perto de 2 milhões de reais/ano. Ele ri quando se toca no assunto, desconversa. “Três milhões de quê?” De reais, Galvão, mas o contrato o impede de comentar. “Não falo sobre isso, nem se é mais, nem se é menos.”
O salário do locutor pode ser segredo, mas o que a Globo ganha com ele em suas fileiras é conhecido. Na quarta-feira, 26 de julho, a emissora conseguiu média de 44 pontos no Ibope durante a transmissão de Brasil 3 x 1 Argentina. Isso é muito, muito mesmo. A novela “Laços de Família”, campeã de audiência da emissora, é responsável por 42 pontos de média. Então Galvão é garantia de Ibope na lua? Não necessariamente. No esporte os números refletem a combinação do evento, de quem transmite e em qual emissora. Brasil x Argentina é um tremendo evento, Galvão tem prestígio e a Globo garante telespectadores mesmo com uma tela toda azul. É difícil dizer qual dos três itens faz o ponteirinho do Ibope se mexer mais. O fato é que a Bandeirantes, que também transmitia a partida na voz de Luciano do Valle, não passou de 7 pontos, e o SBT conquistou 14 pontos com o programa humorístico “Ô coitado”. Se o evento não for campeão também não tem jeito. Sem Senna e com Barrichello, a Globo mal chega a 20 pontos de média nos domingos de Fórmula 1. A prima pobre Record, em uma transmissão mambembe de um esporte sem tradição na TV, conseguiu 24 pontos, na final de Roland Garros. A explicação? Quem estava em quadra era o brasileiro Guga. A transmissão podia não ser de primeira, mas o evento era ótimo.
Só que a Globo tem um enorme balaio de eventos. A maioria deles de grande interesse. Copa do Mundo, Olimpíadas, Brasileirão de futebol, Liga Mundial de vôlei, Fórmula 1 etc. E fez questão de pagar bem para ter o mais valioso narrador do país. O que envaidece Galvão Bueno não é o valor do contrato, é tê-lo assinado numa idade em que, no Brasil, as pessoas costumam ser descartadas. Enquanto seu antecessor como narrador 1 da Globo, Luciano do Valle, prepara a aposentadoria aos 53 anos (veja texto ao lado), Galvão, que achava que estaria “caquético” aos 50, vai em frente.
Só os mais críticos acham que ele acertou a previsão. Impossível, no entanto, dizer de bate-pronto que Galvão é mau narrador. Não é. Ele tem uma voz vibrante, enxerga bem quem está com a bola, sabe as regras e, mais do que tudo, consegue transformar partidas modorrentas em “jogaços” sem que o telespectador perceba isso. Ninguém gosta de ser enganado, mas o trabalho do locutor esportivo é tão simples quanto cruel: impedir que o incauto mude de canal ou desligue a TV. E nisso Galvão é muito bom. Mesmo quem fala mal se derrete pelo personagem. “Votei nele na enquete de PLACAR. Como o melhor e o pior”, conta o colunista da Folha de S.Paulo José Simão, um dos que mais pegam no pé do locutor: “Ele é a multidão, a tradução da multidão. Fala muita merda, mas não tem graça assistir sem ele.” Simão é um dos poucos cujas críticas Galvão diz acompanhar diariamente. Saco-de-pancada preferencial de sua época, ao lado de Ronaldinho, Fernando Henrique, Xuxa, ele aceita esse fardo como preço da fama. Mas se incomoda quando considera gratuita a crítica: “Quando eu digo que “o gol saiu na hora certa” e alguém escreve “e existe hora errada de sair o gol?”, aí já é predisposição para falar mal.”
Os críticos que Galvão ouve são os amigos, alguns deles do tempo em que dirigia um minúsculo Dodge Polara, morava na Selva de Pedra (condomínio de classe média do Leblon) e rachava o preço da pizza com os amigos. Hoje ele tem dois Mercedes, uma Blazer e um Audi, mora num dúplex milionário em frente à praia do Pepê, na Barra (“Nunca pensei em ter um, mas quando vi esse me apaixonei”, disse certa vez), e faz questão de pagar a conta para a equipe da Globo nos jantares pós-transmissão. Isso muda um homem? Mário Jorge Guimarães, editor no departamento de esporte da Globo, andou com ele no Dodge Polara e no Mercedes e assegura que não: “Do caboman ao repórter tarimbado, todos têm grande simpatia por ele.”
Alguns amigos são mais recentes, embora ele os cruze há tempos. Na decisão do Campeonato Carioca de 1977, entre Vasco e Flamengo, Galvão estreava no microfone da TV Guanabara (atual Bandeirantes) e Wanderley era o reserva de Júnior na lateral esquerda do Flamengo (entrou no lugar de Merica naquela partida). Vinte e três anos depois, muita coisa os aproxima, e não é só por serem os alvos principais da torcida: compartilham o gosto por um bom charuto Hoyo de Monterrey, cubano, ou uma taça do vinho Sassicaia, italiano. Os dois se falam sempre, pessoalmente ou por telefone. Antes do jogo contra a Argentina, Luxemburgo ligou para Galvão para lhe desejar boa sorte ” embora quem estivesse precisando de sorte naquela noite fosse o técnico.
“Essa amizade dele com o Luxemburgo é um problema sério”, diz um amigo. Não que seja proibido o maior locutor esportivo do país ser amigo do treinador da Seleção, mas… Galvão não teme que a proximidade dê margem a dúvidas sobre sua imparcialidade? “A mim não me importa.” Ele garante que o relacionamento entre os dois nunca teve, nem terá, influência sobre o tom das transmissões. E sobre os furos jornalísticos? Foi Galvão quem anunciou em primeira mão para todo o país, na noite de 10 de agosto de 1998, pouco antes do “Jornal Nacional”, que Wanderley Luxemburgo havia aceitado o convite da CBF para substituir Zagallo no comando da Seleção Brasileira. Informação do próprio Luxemburgo? Galvão protege a fonte. “Isso foi um furo jornalístico e não tenho obrigação de revelar.” Mas lembra que, diferentemente da maioria dos colegas, ele vai a treinos, conversa com jogadores e membros da comissão técnica. E isso acaba lhe rendendo outras notícias exclusivas.
Se Luxemburgo não influencia Galvão, Galvão influencia Luxemburgo? A estrela global admite que dá pitaco sobre a Seleção. Quem conhece os dois sabe que o técnico volta e meia leva em conta os palpites do amigo ” caso da surpreendente convocação de Sávio para o jogo Brasil x Uruguai, no Maracanã. Ambos assistiram juntos à final da Liga dos Campeões, entre Real Madrid e Valencia, em Saint-Denis, e Galvão deixou o Stade de France comentando a boa atuação da ex-promessa do Flamengo. Até que ponto esses comentários foram determinantes na convocação de Sávio, só entrando na cabeça do treinador para saber.
Até hoje, ter sido amigo de algumas das estrelas de suas transmissões (Ayrton Senna foi o caso mais notório) parece não ter afetado a popularidade de Galvão Bueno, conquistada lentamente ao longo dos anos. Desde o início da carreira ele fixou como objetivo o Himalaia dos locutores esportivos, a Rede Globo. “Assim como o objetivo de um jogador é disputar uma Copa do Mundo, o meu era chegar à Globo”, diz. A escalada levou um tempo relativamente curto: sete anos entre o concurso da Rádio Gazeta de São Paulo, que lhe valeu um emprego em 1974, e a estréia na Globo, narrando um Jorge Wilstermann x Flamengo pela Libertadores de 1981. Dono de um estilo bastante próximo ao do Luciano do Valle de então, Galvão se tornara o nome perfeito para secundar o próprio Luciano.
Com a saída do titular da Globo, após a Copa do Mundo de 1982, Galvão se tornava aos 32 anos o primeiro narrador da emissora. Ainda não tinha, porém, nem a popularidade nem o cacife do antecessor: quando chegou o mundial seguinte, no México, em 1986, a Globo preferiu apostar no carisma de Osmar Santos, deixando Galvão novamente como número dois. Desprestigiado, ele quis sair. Foi convencido a ficar e não se arrependeu. Na Copa, até narrou alguns jogos da Seleção ” o colega teve problemas digestivos. A entrada de Osmar não rendeu a audiência esperada e Galvão reassumiu de vez o trono. E decolou, sobrevivendo até a uma malograda aventura na Rede OM, em 1992.
Algumas vezes no passado ele anunciou a data em que ia parar, e nunca cumpriu nenhuma. Desta vez afirma que a partir de 2007 pretende dedicar-se apenas a seus negócios, hoje administrados pela filha, Letícia, de 26 anos, e pelo genro, Claudinei Graminho. Mas Galvão já quer tempo para se dedicar a Galvão Bueno. Está namorando a ex-modelo Desirée Soares, depois de separar-se da primeira mulher, Lúcia. Dona de um curso de manequim em Londrina (Paraná), Desirée tem 32 anos e parece ter virado a cabeça de Galvão. A ponto de ele ter feito uma furiosa dieta em que perdeu 22 quilos, uma plástica para tirar bolsas sob os olhos e uma lipoaspiração. Muito trabalho significa menos tempo para descobrir charmosos restaurantes no interior da França, menos tempo para se torrar em praias das ilhas gregas, menos tempo para sentar à frente de sua TV de 63 polegadas e curtir uma novelinha.
Hoje Galvão tem uma empresa que cuida de sua imagem, uma equipe de stock car (aquela categoria de vovôs bons de braço que ele tem ajudado dando espaço na Globo); e o projeto de um site na internet, por ora em paz com a Globo (que tem o seu globo.com), ao contrário de outro ícone global, Xuxa.
Depois de Piquet, Senna, Romário e Ronaldinho, que heróis ele estará glorificando em 2006, último ano de seu contrato? Quem sabe o filho caçula, Popó (Paulo Eduardo), de 22 anos, que está na segunda temporada da Fórmula Chevrolet. A trajetória de Popó é voltada para um dia chegar à Fórmula 1, talvez por volta de 2004. O outro filho, Cacá (Carlos Eduardo), de 24 anos, também é piloto, mas, grande demais para fazer sucesso na F-1 (onde ser baixinho e magro é uma grande vantagem), enveredou pelas corridas de marcas e turismo.
Se narrar uma vitória de Popó na F-1, Galvão estaria seguindo os passos de Wilson Fittipaldi, que transmitiu ao vivo o título do filho em 1972. Tempo para tal não falta. Enquanto isso, Arnaldo vai ter que ouvir muito.
Luciano cansou
Luciano do Valle está pedindo arrego. Aos 53 anos, o locutor da Bandeirantes, que foi o Galvão Bueno dos anos 70 cansou. Quer dedicar mais tempo à mulher, Luciana Mariano, com quem se casou em setembro passado, e à casa em Porto de Galinhas (Pernambuco). Ofereceu-se à Globo (e, de resto, à emissora que se interessar) para ser uma espécie de narrador fixo no Nordeste. “Viagem, só até Salvador”, disse recentemente a conhecidos, sintetizando Uma coisa é certa: Luciano ainda é popular o suficiente para conseguir emprego sem dificuldade, a julgar pela votação que teve na enquete de PLACAR (abaixo). Participaram 6 904 pessoas (cada computador só podia votar uma vez).
O melhor
Luciano do Valle 25,5%
Galvão Bueno 24,7%
Cléber Machado 17,3%
Milton Leite 9,8%
Sílvio Luiz 8,1%
Luiz Carlos Júnior 6,8%
Nivaldo Prieto 4,3%
Luís Roberto 2,0%
Fernando Solera 1,4%
O pior
Galvão Bueno 47,6%
Sílvio Luiz 18,8%
Fernando Solera 10,6%
Luciano do Valle 8,5%
Cléber Machado 4,4%
Luís Roberto 3,5%
Luiz Carlos Júnior 2,7%
Nivaldo Prieto 2,0%
Milton Leite 1,9%
“99% gostam do que faço”
Galvão Bueno fala a PLACAR do amor e do ódio dos torcedores, da amizade com Luxemburgo e dos planos para quando encerrar a carreira
Você concorda que Galvão Bueno desperta amor e ódio?
Sim, mas sei que é muito mais amor do que ódio. Tanto que a maioria das faixas para mim é com mensagens positivas. Só uma negativa me marcou. Foi quando uns garotos, que até falaram antes da partida, de brincadeira, que pensaram numa faixa engraçada para mostrar no ar, durante o jogo. Eles a abriram e estava escrito: “Galvão, vá pentear macacos.” Mas a maioria das manifestações é positiva.
Então nada contra as faixas nos estádios?
Não, nada contra. Só vou interpelar judicialmente uma agência de publicidade que, em uma propaganda de um automóvel, fez uma alusão a mim com uma faixa dizendo “Gavião”. Eles vão ter de se explicar com os meus advogados.
Você é assediado como os grandes ídolos?
Sim, sem dúvida. Não me preparei para isso, mas adoro o contato com os fãs. Quem diz que não gosta disso é hipócrita. Detesto quem fica com ar blasé, dizendo que não gosta de dar autógrafos e posar para fotos com o público. Mas existem os fãs, que são senhores, senhoras, crianças, que são magníficos. E existem a tietagem, que pode ser gostosa ou doentia.
Já teve problemas?
Sim, é preciso é ter muito cuidado ao lidar com isso. Não vou revelar o nome da pessoa, mas é uma mulher de mais ou menos 40 anos que me mandava muitas cartas e, de repente, começou a surgir em todos os lugares que eu estava. Fosse no Rio, em São Paulo, ela sempre aparecia do nada. Até que quando eu estava chegando ao hotel da Seleção em Foz do Iguaçu, local da concentração para a Copa América do ano passado, ela estava na porta. No dia seguinte, já tinha passado pela segurança e estava no hall. Senti um certo desequilíbrio nela. Então conversamos bem, mostrei a ela que estava se afundando, gastando muito dinheiro à toa, e acabou a perseguição.
Depois dos seis anos de contrato que tem a cumprir, você continuará narrando os principais eventos esportivos dentro e fora do Brasil?
Olha, depois disso eu pretendo descansar um pouco. Não parece, mas é uma vida cansativa, já que fico mais de seis meses por ano viajando. Até dezembro de 2006 serão mais duas Copas do Mundo, duas Olimpíadas, três Copas América e pelo menos mais cem Grandes Prêmios. Mas, mesmo depois que acabar o meu contrato, não quero me afastar totalmente do esporte.
E o que você pretende fazer?
Quero me dedicar ao site Virtual Sports, que será ligado ao portal globo.com (até o fechamento desta edição o contrato estava sendo finalizado). É um projeto maravilhoso para a Internet. Depois de tanto tempo vivenciando os momentos mais importantes da vida esportiva, quero diminuir um pouco a carga.
Galvão Bueno torce pelo Flamengo?
Isso é você quem está dizendo…
Mas então qual o seu time?
Isso eu não revelo nem sob tortura. O torcedor é passional demais, ora ele pensa que você é flamenguista, ora que é corintiano, ora que é palmeirense, ora que é vascaíno. A gente mexe com muitas emoções.
Falando em mexer com as massas, você teve problemas com a torcida do Palmeiras. Como foi isso?
Foi no Palmeiras x Corinthians, pela Libertadores do ano passado. O Palmeiras se classificou, mas o Corinthians foi melhor, tanto que venceu no tempo normal e perdeu nos pênaltis. Mas a atuação corintiana empolgou mais, a gente acaba indo no embalo. E os palmeirenses acabaram se insuflando contra mim por estímulo do Felipão, que falava que os gols do Corinthians eram narrados com mais emoção. E como era transmissão exclusiva nossa… O Luiz Felipe sabe como ninguém mexer com a emoção da torcida.
Então o técnico jogou a torcida do Palmeiras contra você?
É, mas o episódio já foi contornado. Nos encontramos depois disso e falei que quem tem amigos como ele não precisa de inimigos (risos). Ficou tudo numa boa, sem problemas.
Você acha que exagera na dose de emoção? Não existe um ufanismo exarcerbado nas suas narrações da Seleção?
Não, nem um pouco. Não fico acompanhando as medições de audiência, às vezes me informam (na verdade, Galvão é informado da evolução dos índices várias vezes durante as partidas e anota tudo numa folha de papel), mas sem dúvida sou líder de audiência disparado. Isso já comprova que não exagero, que 99% da população gosta do que faço. E eu sou chorão mesmo, fico emocionado também. Quando o Brasil joga eu estou torcendo mesmo pela Seleção, para que esconder? Só não posso é distorcer os fatos. Isso eu não faço mesmo.
E a sua pinimba com o Arnaldo César Coelho, que comenta as arbitragens na Rede Globo?
O Arnaldo é um grande amigo, não existe pinimba nenhuma. Ele é uma figura engraçada, que representa a polêmica. Então eu o cutuco sempre, às vezes eles se sai bem, às vezes não. Mas não há briga. Só faço isso porque o telespectador gosta.
Quem foram seus ídolos, quem o inspirou como locutor?
Citar um apenas seria injusto. Prefiro usar uma frase que está na mesa do meu escritório, que me foi passada por um grande amigo chamado Ayrton Senna: “Não tenho ídolos, tenho admiração por trabalho, dedicação e competência.”
Apesar de você ter tido grande ligação com Senna, de ter sido amigo dele, não acha que o cita demais?
Pelo contrário, acho até que devia falar mais dele. O Ayrton Senna merece ser lembrado sempre. Foi um esportista maravilhoso, o maior piloto que já vi, além de ser uma pessoa fantástica. Ele extrapolou a condição de ídolo, foi um herói nacional.
Rubens Barrichello tem chances de um dia chegar a tanto?
Chegar ao que representou o Senna é impossível. O Rubinho tem potencial de vencedor, mas querer alguém como o Senna é a mesma coisa que querer que nasça outro Pelé. Ele é um grande piloto, tem que esperar o momento certo, pois ele chegará.
Você é bem íntimo de Wanderley Luxemburgo, não? Era assim com os treinadores anteriores?
Sou, o Wanderley tem um estilo de ser parecido com o meu, temos quase a mesma idade, além de termos em comum o fato de lutarmos muito para vencer na vida. O Zagallo, o Parreira, o Lazaroni, todos também foram vencedores, mas o Wanderley é mais parecido comigo. Gostamos de nos vestir bem, de um bom vinho, de um bom charuto. Isso nos aproxima.
Você tem privilégio no acesso às informações sobre a Seleção? Como ficou sabendo em primeira mão que ele seria o treinador da Seleção?
Isso foi um furo jornalístico e não tenho obrigação de revelar. Quantos aos privilégios, não os tenho mesmo. Se a Seleção fica 40 dias em Foz do Iguaçu, eu fico todo o tempo lá. Converso sempre não só com o Luxemburgo, mas com toda a comissão. Por isso eu tenho de ter alguma informação antes dos outros. Porém não por ter privilégio e sim por correr atrás da notícia.