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Em 2009, Palmeiras montou time caro, mas deixou título escapar na reta final

Assim como o Botafogo, Verdão viu vantagem desmoronar entre a 28ª e 33ª rodada do Brasileirão; Flamengo foi o campeão na ocasião

O Palmeiras, de Abel Ferreira, segue sonhando com o 12º título do Campeonato Brasileiro. Mesmo depois da derrota por 3 a 0 diante do Flamengo, o Verdão mantém a perseguição ao Botafogo pela liderança da competição ao lado de Red Bull Bragantino, Grêmio e Flamengo. Curiosamente, o Fogão tenta evitar um “derretimento” de vantagem parecido com o vivido pelo próprio alviverde, em 2009.

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Sem conquistar a competição nacional desde 1993, para tirar o time da fila da competição nacional o então presidente Luiz Gonzaga Belluzzo não poupou esforços: 69,5 milhões de reais, contratando Vágner Love do futebol russo com um salário de 400.000 mensais, além de nomes como Diego Souza, Cleiton Xavier e o técnico Muricy Ramalho, tricampeão brasileiro com o São Paulo entre 2006 e 2008.

O time também abriu larga vantagem para o segundo colocado, cinco pontos para o São Paulo a dez rodadas do fim. Até ali, na era dos pontos corridos, jamais uma diferença igual ou maior havia sido revertida.

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Verdão 'quebrou o porquinho' para tentar por fim a incômodo jejum - Reprodução/Placar
Verdão ‘quebrou o porquinho’ para tentar por fim a incômodo jejum – Reprodução/Placar

Em 2003, o Cruzeiro tinha 12 de diferença para o Santos, e manteve. Mesmo caso do Corinthians em 2005, com cinco de vantagem para o Internacional, e do São Paulo, em 2006 e 2007, que também se sagrou campeão.

O derretimento da vantagem, curiosamente, aconteceu da 28ª a 33ª rodada – quase no mesmo período da botafoguense. Na 34ª, exatamente na atual, o time perdeu a liderança ao ser derrotado para o Fluminense. O título acabou nas mãos do Flamengo.

O Botafogo chegou a abrir até 12 pontos de diferença, mas com a campanha no returno vem perdendo cada vez mais força na competição. Na atual temporada, o time gastou pouco: 5,8 milhões de euros (30,5 milhões de reais).

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Mas a montagem do elenco começou ainda na anterior quando investiu 12,5 milhões de euros (65,7 milhões de reais). Os dados são do Transfermarkt.

A equipe terá uma espécie de final antecipada diante do Grêmio nesta quinta-feira, 9, às 20h (de Brasília), em São Januário.

Confira a matéria publicada na íntegra:

Quebrando o porquinho

Quanto vale o título brasileiro para um clube que não vence um campeonato importante desde 1999? PLACAR abre as contas do Palmeiras e mostra o preço salgado desse sonho

Arnaldo Ribeiro, Bernardo Itri e Ricardo Perrone

Tirar o Palmeiras da fila no Brasileirão, antes que o jejum complete 15 anos, não tem preço. Vale gastar em oito meses 5,1 milhões de reais a mais do que as receitas do futebol e usar todo dinheiro que sobrava no cofrinho (de 1,5 milhão de reais em aplicações que o clube tinha em janeiro, só restaram 77400 reais).

“Quanto vale o título brasileiro? Para o Corinthians, que venceu a Copa do Brasil, não é muito importante. Para nós, vale muito”, diz o gerente Toninho Cecílio, explicando a ousadia na janela de transferências. “Estamos fazendo de tudo. Não é à toa que contratamos o tricampeão brasileiro [Muricy Ramalho]”, afirma Gilberto Cipullo, vice de futebol.

A aposta é que o título gere dinheiro para cobrir os gastos. O Clube dos 13 dará cerca de 5 milhões de reais ao campeão. A patrocinadora Samsung oferece 300000.

“A torcida vai consumir mais. Se você não põe dinheiro, lá na frente não ganhará”, declara Fábio Raiola, vice financeiro. Dinheiro antecipado não falta. São 2,8 milhões de reais da Adidas e 9 milhões da Federação Paulista. No caso da FPF, a conta é salgada: em média, 550000 reais mensais de juros são pagos à entidade. Dá para o salário de Vágner Love e sobram 150000 reais.

O plano, assinado pelo presidente Luiz Gonzaga Belluzzo, formado em direito e doutor em economia, é visto com desconfiança até por alguns diretores, que apelidaram a estratégia de “belluzzionismo”. A oposição ataca. “Eles falam que têm que gastar para ser campeão, como se jogador fosse mercenário. Não adianta gerar receitas, é preciso conter gastos”, afirma o ex-presidente Mustafá Contursi. Veja nas próximas páginas como a língua afiada de Belluzzo, a complexa relação com a Traffic e o acaso moldaram esse Palmeiras vitaminado.

As contas do Palmeiras em 2009 - Reprodução/Placar
As contas do Palmeiras em 2009 – Reprodução/Placar

Vágner Love

Que tal contratar o jogador mais caro do time sem saber direito onde conseguir o dinheiro para seus salários? Foi assim que o Palmeiras acertou com Vágner Love, por 400 000 reais mensais. A diretoria planejava pagar a maior parte dessa quantia com as receitas geradas pela venda de patrocínio no calção, que não tinha sido feita até o fechamento desta edição. A operação é bem dificil de ser realizada porque a Samsung precisa abrir mão dos direitos que tem em relação ao short. “Ainda vamos viabilizar isso”, disse Fábio Galdão Raiola, vice financeiro. A ousada contratação começou com uma inusitada abordagem ao jogador, feita por Adilson, mais conhecido como Moeda, amigo e uma espécie de faz-tudo de vários atletas palmeirenses. “Ele frequenta a minha casa no Rio. A diretoria pediu para ele me perguntar se eu queria voltar. O Moeda ajudou a me convencer e participou de toda a negociação”, afirmou o atacante, indiretamente responsável pelo aumento no preço dos ingressos nos jogos do Palmeiras. O clube decidiu que, para conseguir pagar seus salários, também teria que reajustar os preços (os bilhetes mais baratos passaram de 30 para 40 reais). “A diretoria do Palmeiras está arriscando, mas do jeito certo”, diz o jogador. A vinda de Love não estava nos planos. Savério Orlandi, diretor de futebol, teve a ideia quando Keirrison saiu. Gilberto Cipullo, vice de futebol, deu sinal verde, apesar de considerar o negócio impossível. Aí Orlandi procurou Moeda…

Diego Souza

O aumento que o Palmeiras deu a Diego Souza não foi um esforço do clube para segurar seu melhor jogador. O contrato do meia previa um reajuste no segundo semestre deste ano. A cláusula foi uma fórmula encontrada pelos agentes do jogador para assegurar uma melhora salarial, caso o atleta não fosse vendido. Diego, que ganhava 120000 mensais e passou a receber pelo menos 30000 a mais, não teve proposta oficial durante a janela, contrariando o que esperava a Traffic. Apesar de sua boa fase, ele só recebeu sondagens, uma delas da Rússia. Avaliou que ficaria escondido por lá e suas chances de disputar a Copa 2010 despencariam. Na mesma intensidade com que a diretoria do Palmeiras deseja o título do Brasileiro, o meia quer ser o melhor jogador do Brasileirão para dobrar Dunga. A transferência para o exterior pode ficar para depois do Mundial. Gilberto Cipullo, vice de futebol palmeirense, diz ter a palavra da Traffic de que Diego e Cleiton Xavier não serão vendidos na próxima janela de transferências, em janeiro. Em pelo menos mais um caso, o Palmeiras teve de dar aumento por força contratual. Estava escrito que o salário de Sandro Silva deveria passar de 40000 para 70000 reais. Ele foi o primeiro a ser reajustado. Seja pressionado pela proposta de um clube do exterior, seja por uma exigência contratual, Luiz Gonzaga Belluzzo não parece incomodado. “É assim que funciona, não dá para ser campeão com um time que ganha 40000 reais”, diz o presidente.

Diego Souza permaneceu até 2010 no Verdão - Renato Pizzutto/Placar
Diego Souza permaneceu até 2010 no Verdão – Renato Pizzutto/Placar

Pierre

Manobras financeiras, aumentos salariais… Vale também comprar o mesmo jogador duas vezes? Junto com Diego Souza e Cleiton Xavier, Pierre era um dos destaques e, para tê-lo até o fim do ano, a missão era complicada. A diretoria chegou a dizer sim ao empresário do volante, que levou uma oferta do Espanyol (além do valor referente à porcentagem que tinha, o clube ficaria com 20% numa futura negociação). Para desespero de colegas, Belluzzo não o liberou. O Palmeiras comprou os direitos da empresa, no valor de 4 milhões de reais. Pagou duas vezes pelo jogador, já que o comprou do Paraná em 2006, por cerca de 500000 reais. Os críticos dizem que o Palmeiras não vai recuperar o investimento. O pagamento à Traffic será em 20 parcelas. O dinheiro, porém, deve vir da porcentagem da venda de atletas da parceira. Pierre teve o contrato renovado. Belluzzo anunciou: “Ninguém sai”. Foi a senha para agentes de jogadores aparecerem com propostas e pedindo aumento. Para honrar o presidente, oito tiveram reajuste. Entre os que não receberam aumento há descontentes, segundo um dirigente. A diretoria diz que a folha, que estava na casa dos 3 milhões de reais, engordou só 80000. Isso porque 13 jogadores foram dispensados.

Muricy

Para contratar o treinador tricampeão brasileiro, o Palmeiras encarou um jogo de cena e agiu com tanto sigilo que irritou cartolas excluídos da negociação. Depois do fracasso na primeira investida, Márcio Rivellino, agente de Muricy Ramalho, sinalizou que o técnico pediu alto só para ouvir um não. Achava que pegava mal ir para o Palmeiras dias depois de sair do São Paulo. As duas partes concordaram em trocar elogios pela imprensa para amansar a torcida. Segundo um cartola, após o time vencer o Flamengo e assumir a terceira colocação, o empresário enviou um torpedo via celular pedindo uma reunião. Foi quando as chances de título tinham aumentado. O reencontro foi secreto porque a diretoria temia ser ridicularizada se falhasse de novo. O inusitado da negociação foi o local do primeiro contato: a casa do apresentador Fausto Silva.

Muricy Ramalho durante a passagem pelo Palmeiras - Pablo Rey/Placar
Muricy Ramalho durante a passagem pelo Palmeiras – Pablo Rey/Placar

FUTURO

O Palmeiras já deve mais de 10 milhões de reais para a Traffic. Dívida turbinada pelo esforço em busca do título brasileiro. Para dar aumentos e evitar atrasos, o clube mantém o que chama de conta corrente com a parceira. A empresa empresta o dinheiro e, se os dirigentes não conseguirem pagar, o débito será quitado com a venda de atletas. Dessas negociações, a parte que iria para os cofres alviverdes ficaria com a Traffic. Isso mesmo se os atletas forem 100% do clube, fato cada vez mais raro no Parque Antártica. Apenas cinco atletas do time principal são inteiramente do alviverde: os goleiros Marcos, Bruno e Deola, o volante Pierre e o atacante Daniel Lovinho (foto). “Temos uma parceria forte e queremos continuar com ela”, diz o vice Gilberto Cipullo. “Eles falam que na minha época o time era medíocre? Agora nem time medíocre temos, porque os atletas não são do clube”, afirma o ex-presidente Mustafá Contursi. Segundo Cipullo, o dinheiro das vendas de Keirrison e Henrique (ainda não recebido) será usado no pagamento da dívida com a Traffic. Com média de 630000 reais mensais de déficit, a projeção de prejuízo do futebol no ano é de 7,6 milhões. Para não fechar no vermelho, bastaria vender algum jogador do clube por esse valor. O problema é que não sobrou quase ninguém só do Palmeiras.

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