Livro de José Trajano conta gozação e glória de torcer para o America-RJ
Em ‘1960 – Quando as estrelas ficaram vermelhas’, memórias do menino de 14 anos são involuntariamente narradas na mente do leitor com a voz marcante do jornalista. Biscoito Globo, mate Leão e cachorro-quente Geneal compõem cenário do campeão do recém-criado Estado da Guanabara
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“Pois a torcida americana é toda assim / A começar por…” José Trajano. No delicioso livro 1960 – Quando as estrelas ficaram vermelhas, da editora Onze Cultural, as memórias do menino Zezinho, de 14 anos, sobre a zoação e a glória de torcer para o America-RJ são involuntariamente narradas na mente do leitor com a voz marcante do jornalista, hoje com 78. O título do recém-criado Estado da Guanabara pelo time do coração rubro é o fio condutor para uma história de amor com o time, o bairro da Tijuca e um Rio que não volta mais.
O biscoito Globo de polvilho, o mate Leão da praia e o cachorro-quente Geneal no Maracanã ainda temperam o cenário da primeira conquista estadual do America depois de 25 anos. As ilustrações de Gustavo Piqueira e as fichas-técnicas apoiadas nas publicações da revista “Vida do Crack” dão um toque de sabor para um livro tão recheado de boas lembranças.
“Chamavam-me de Zezinho, centroavante do time infantojuvenil, o rapazinho que não descolava do rádio para ouvir as partidas, não perdia as transmissões ao vivo da TV, ia ao Maracanã assistir a qualquer jogo que fosse”, diz Trajano ainda nas primeiras páginas. “Os colegas do Colégio São Bento, flamenguistas, botafoguenses, vascaínos e tricolores, já haviam gritado ‘é campeão’ pelo menos uma vez. Só eu que não. Era motivo de galhofa, gozação, até de pena, diziam alguns deles. Eis que veio 1960.”
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O Rio estava sendo demovido do status de capital federal. A mudança levou alguns amigos de pelada e de futebol de botão, ainda hoje um hábito de Trajano. Nas ruas também se falava das eleições presidenciais de Jânio Quadros e João Goulart e o brutal assassinato de uma criança cometido por uma criminosa que ficou conhecida como Fera da Penha. Tudo lembrado em riqueza de detalhes por uma mente que já se despontava brilhante, encantada com as maravilhas da TV, mídia na qual ganhou notoriedade nacional na ESPN Brasil, como diretor de jornalismo, apresentador e comentarista entre 1995 e 2016.
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Zezinho/Trajano acompanhou de perto aquela campanha do America. A partida final, que valeu o título, no Maracanã, merece especial atenção no livro de 242 páginas. O Fluminense era favorito, mas tinha apenas a sua torcida a seu favor. Todo o restante do Rio de Janeiro torcia para o time de Campos Sales. O time de Djalma Dias, pai do craque Djalminha, saiu atrás no placar, mas virou para 2 a 1 e ficou com o título. Curiosamente, foi o último título de Carioca do clube hoje presidido pelo tetracampeão Romário e que disputa a A2 do Estadual.
“Entrei no maior do mundo e tive uma visão inacreditável: milhares de torcedores vestindo vermelho, faixas e mais faixas rubras estendidas exaltando o America, bandeiras de todos os tamanhos lambendo o ar, rojões explodindo loucamente, charangas tocando sem parar o ‘Hei de torcer até morrer’”, relata Trajano, em referência ao hino do americano Lamartine Babo.
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1960 – Quando as estrelas ficaram vermelhas
José Trajano
Editora Onze Cultural, 412 páginas
R$ 89,00 [onzecultural.com.br]