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O Comentarista do Futuro ícone blog O Comentarista do Futuro Ele volta no tempo para dar aos torcedores (alerta de!) spoilers do que ainda vai acontecer

Futebol é para mulher sim!

Cronista vai a 1986, na primeira partida da seleção feminina, dá ´spoilers’ sobre o Mundial da Austrália, que começa dia 20, e adianta: “Não vai ter ‘Pacheca’”

“Que vergonha! Não consegue ganhar nem dos Estados Unidos!”, deve estar bradando a turba que adora desdenhar das qualidades do futebol feminino após a derrota de ontem (2 x 1) para as americanas, na primeira partida oficial da seleção brasileira de mulheres. Mas insisto em acreditar que a maioria de vocês, queridos leitores e queridas leitoras de 1986, não pensa assim – até porque quase ninguém acompanhou ou ficou sabendo desse jogo. Mas é histórico*. E saibam vocês que sou um Comentarista do Futuro, creiam, vindo de 2023, e que por isso posso garantir: a seleção feminina perdeu para as melhores do mundo na modalidade.

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Isso mesmo. Nos próximos 37 anos, os Estados Unidos vão se consolidar como a força n° 1 do futebol feminino internacional, acumulando quatro títulos em Copas, mais do que temos hoje no masculino, em que somos Tri e os bambambãs. O Brasil, anotem, também progredirá muito e formará, inclusive, a maior jogadora de todos os tempos, de nome Marta, anotem, uma alagoana boa de bola e de carisma que será eleita seis (6) vezes a melhor do mundo pela FIFA – mas por favor não me venham com essa de “Pelé de saias”… Não cabe.

Deixei 2023 na semana de abertura da nona (IX) edição da Copa do Mundo de Futebol Feminino, que acontecerá na Austrália. E a poucos dias da estreia das brasileiras, que se dará contra o selecionado do Panamá, daqui a exatos 37 anos e 2 dias. A Copa do Mundo vai substituir, a partir de 1991, esses Mundialitos que vêm sendo organizados há seis anos (desde 1981), como esse em andamento na Itália, que terá a dona da casa como campeã. Chegaremos à futura competição na Oceania entre os favoritos, ou melhor, as favoritas ao título? Não, mas com certeza como forte postulante, com chances. E ainda tendo Marta, já então com 37 anos mas podendo fazer diferença. Craque de bola! Embora até lá não venhamos a alcançar nenhuma das principais disputas entre Seleções – Mundial ou Olimpíada –, teremos no currículo duas medalhas de prata olímpicas (em 2004, em Atenas, Grécia; e em 2008, em Pequim, na China) e um vice-campeonato na Copa do Mundo de 2007, em que, sinto informar, seremos derrotadas na final pela Alemanha (2 x 0). E ainda três medalhas de ouro em Pan-Americanos (2003, 2007 e 2015). Um salto de canguru! Fêmea!

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Mais importantes serão os avanços na organização do esporte no país, a começar pelas competições nacionais: em 2023 já haverá um Brasileirão feminino a cada temporada mais forte, disputado pelos grandes clubes do país e com estádios cheios. Deixando nas ruínas do passado o tempo em que, inexplicavelmente, jogar bola era proibido às mulheres. Por lei! Ou melhor, decreto, na ditadura militar, que durou de 1965 a 1979. Nossa seleção “canarinha” de 2023 terá uniforme próprio (hoje ainda vestem trajes dos homens, emprestados), calendário planejado de treinamento e disputas, convocações com critérios (ontem a ‘amarelinha’ foi entregue ao grupo de jogadoras do Radar, melhor time do país) e treinador fixo, isto é, treinadora, claro, uma estrangeira, sueca (Nota da redação da Placar em 2023: Pia Sundhage, no comando da equipe desde 2019, campeã à frente dos EUA nas Olimpíadas de 2008 e 2012). Sim, técnica estrangeira na seleção nacional! E não estranhem. Em 2023 estaremos às vésperas de assistir à posse de um treinador estrangeiro também na seleção masculina.  Taí uma característica das mulheres na vida em geral: elas sempre saem na frente.

Posso garantir também que essa futura Copa de 2023 será a primeira de grande impacto junto à torcida brasileira. Deixei o Século 21 em meio a grande barulho na imprensa anunciando e badalando a disputa, que será transmitida por inúmeras mídias – algumas que vocês, queridas leitoras e queridos leitores de 1986 (vamos agora nessa ordem…), ainda sequer conhecem –, inclusive a TV Globo, que transmitirá jogos ao vivo. E espero que, ao voltar ao meu Tempo, não precise mais ouvir no jornalismo esportivo outro clichê, o tal “as meninas do Brasil”. Já foi, né? Ou melhor: já terá sido.

Teremos em campo 11 feras, como as de João Saldanha em 1970. Mais correto: 23 feras, as convocadas, com atletas representantes de 13 estados da Federação, outro sinal da popularização e irradiação da prática do esporte entre as brasileiras. No terreno da Comunicação (ou, em linguagem de 2023, do ‘Conteúdo’), adianto que as marcas e costumeiras patrocinadoras do futebol ainda estarão tímidas em enrobustecer este novo circo da bola como Negócio, com N maiúsculo, mantendo assim um incômodo e cruel abismo entre salários e premiações de homens e mulheres. Por exemplo: vão ‘papar mosca’ ao não aproveitarem os ventos a favor lançando uma torcedora ícone do Futebol Feminino. Tipo uma “Pacheca”, sabe? Mas estamos chegando lá. Brasil-il-il!

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• Nota da Redação da Placar em 2023: há registro de um jogo anterior, em 1985, em que o Esporte Clube Radar ‘representou’ o Brasil, perdendo (0 x 1) para o Ajax Soccer Club, da Califórnia, que estaria jogando como ‘seleção’ dos Estados Unidos. O torneio aconteceu em Cabo Frio (RJ), mas não é aceito como confronto oficial.

PARA VER UMA SELEÇÃO DE JOGADAS E GOLS DA CRAQUE MARTA

FICHA TÉCNICA
BRASIL 1 x 2 EUA

Competição: Mundialito Feminino de 1986 – Grupo B – Segunda Rodada (primeira partida da Seleção Brasileira feminina)

Data: 22 de julho de 1986 (terça-feira)

Estádio: Armando Picchi

Local: Jesolo, Itália

Público: Indisponível

Árbitro: Indisponível

BRASIL: Foi representado pelo Esporte Clube Radar, do Rio de Janeiro
Técnico: João Souza Varela

EUA: Szpara; Drambour, Henry, Enos, Belkin, Pickering, Tomek, McDermott, Akers, Heinrichs e Gmitter
Técnico: Anson Dorrance
Gols: Pickering e Heinrichs, para os EUA; Pelezinha, para o Brasil

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