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Bate-volta — dia 15: o ‘pai’ mal-amado do futebol

2002: cronista vai a Brasil 2 x 1 Inglaterra, grita “chuta pro gol!” pra Ronaldinho e analisa psicologicamente um candidato ao título no Catar

Por muito tempo ouvimos a balela de que o sucesso do Futebol se devia ao fato de ter apenas 17 regras, simples, que nunca se alteravam. Pois revelo a vocês, queridos leitores e queridas leitoras de 2002, que nas próximas duas décadas assistiremos a tantas mudanças no regulamento do jogo que chegaremos a 2022 sem sequer saber quantas elas serão. E, mesmo assim, com o esporte sendo ainda mais amado e importante do que hoje nos Cinco Continentes. Posso garantir isso por ser um Viajante-do-Tempo, flanando pelo passado do futebol, e que deixou o futuro durante nova Copa do Mundo, no Catar, exatamente, no Catar, e entendo que essa informação possa ser mais difícil de engolir. Mas até que vai ser bem legal! Ao retornar ao Meu Tempo, assistirei a jogos pelas oitavas-de-final tanto de Brasil como da Inglaterra, que caso venham a avançar poderão se esbarrar somente na futura final. Não foi o caso de ontem, quando, ainda pelas ‘quartas’ desse Mundial no Japão e na Coreia, a Seleção Brasileira eliminou os ingleses, 2 x 1, rumo à finalíssima. E a boa nova que trago do porvir é que a vitória prenuncia o título de pentacampeões que conquistaremos aqui na Ásia – podem comemorar! –, comprovando a sorte que superar os britânicos nos traz: em três dos quatro triunfos anteriores (1958, 1962 e 1970), foi assim, sendo a exceção 1994 – mas eles não haviam se classificado, ‘rs’. 

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Este é apenas um dos problemas, neuras ou traumas, que fazem o ‘English Team’ estar precisando, desde já, e urgente, se lançar num divã diante de um psicanalista e botar pra fora sua dor. Certamente gastará muitos minutos (e lágrimas!) falando dos brasileiros, que nos apropriamos da legítima fama de “os pais do futebol” ao enfileirar Mundiais e passarmos a “Pais do Futebol Arte”. E é bom ir separando as Libras, Inglaterra, pois vai precisar de pelo menos três ou quatro sessões por semana. 

De todos os confrontos em Copa até ontem – o 0 x 0 em 1958, eliminando eles na Primeira Fase; 3 x 1 em 1962, pelas ‘quartas’; e o 1 x 0 em 1970, também na Fase de Grupos –, o mais duro de todos, com certeza, deu-se na campanha do Tri. Mas ontem também foi ‘pedreira’. Saímos atrás, após falha de Lúcio, mas empatamos, ainda no primeiro tempo, com Rivaldo. Ai veio a segunda etapa e aquela falta lá na intermediária, com Ronaldinho Gaúcho preparando-se para bater… Como vim do futuro, já sabia, claro, que a bola acabaria morrendo no ângulo do experiente arqueiro Seaman. E que eternamente o jogador vai jurar que tinha sim intenção de acertar a meta adversária. Na dúvida, e diante da oportunidade de garantir, não hesitei: “Chuta pro Gol, Gaúcho! Chuta pro gol!” – mas nunca saberei se ele ouviu, até porque o vaidoso craque jamais confessaria. Sete minutos depois, tentei: “Sem falta, Gaúcho! Sem falta!” Mas dessa vez acho que não escutou mesmo – e saiu expulso. Ou fez questão de desobedecer minha orientação, como aquele filho (a) rebelde que não ouve o conselho paterno, vindo daquela figura que realmente – como eu, ontem, no Estádio Shizuoka – já passou por isso na vida.

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Na conturbada relação da Inglaterra com nossa Seleção, há lugar para um processo de ‘codependência emocional’, comum nesses casos, diz a Psicologia. Façam vocês o diagnóstico: apesar dos “recalques” (termo criado pela Psicanálise) desenvolvidos desde a infância do Futebol, os ingleses fizeram questão de convidar o Brasil para a última partida em Wembley antes da reforma, há dois anos; e também farão o mesmo em 2007, podem me cobrar, quando da reabertura do Templo em Londres – em novo empate por 1 x 1. Freud explica!

Pelo nosso lado nessa ‘neura’, lembrem-se que foi contra os britânicos que a Seleção fez sua primeira partida internacional, em 1914, no estádio do Fluminense, nas Laranjeiras, com vitória de 2 x 0 sobre o Exeter City FC. A literatura esportiva costuma defender que teria nascido aí o respeito dos inventores do futebol à Escola Brasileira. Outra falácia. A equipe derrotada disputava então a quarta divisão do campeonato inglês. E deve ter sido enviada pela altivez que os ingleses sempre demonstraram (e seguirão demonstrando), lidando mal com o fato de terem ‘botado o Futebol no mundo’. E a gente sabe: “Pai é quem cria!”

A Seleção Brasileira sempre ‘se criou’ em cima dos, digamos, pais biológicos do Futebol. Até 2022, já terão sido 23 confrontos (oficiais e amistosos), com ampla vantagem ‘canarinho’: 11 vitórias (mesmo número de empates) contra 4. Em Copas, já adiantei a ‘freguesia’ dos rivais: 1 empate e agora, com o de ontem, três triunfos brasileiros. Detalhe: até o Mundial do Catar não esbarraremos mais com eles – o que talvez explique o fato de que também não venhamos mais a ser campeões (sinto revelar). Para que o confronto ocorra daqui a 20 anos, a premissa é que a Inglaterra supere Senegal, em jogo que se dará no dia de meu retorno ao futuro. Depois, pelas quartas, terão que bater o vencedor entre França (favorita) e Polônia, outra disputa no dia do meu desembarque em 2022. E, seguindo em frente, eliminar um terceiro esquadrão na ‘semi’ (Marrocos, Espanha, Portugal ou Suíça), já que, como disse, o Brasil, se pintar, será na Final, pois estará no outro lado do chaveamento. Se isso vier a ocorrer, pensem comigo o que os ingleses sentirão diante dos piores fantasmas de sua existência. Pai sofre…

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Revelo que em 2022, alguns meses antes da Copa – não revelarei quantos – finalmente assumirá o trono do Reino Unido o hoje Príncipe Charles, levando ao Palácio de Buckingham questões semelhantes às do futebol, pois ainda será tido como mal-amado pelos seus súditos – filhos e filhas de um Rei. No Catar, os paradigmas da Seleção da Inglaterra ainda estarão por serem quebrados, pois seguirão tendo que se contentar com uma única conquista mundial, a de 1966, jogando em casa e graças a um gol polêmico, na final com a Alemanha, em que a bola provavelmente não entrou. E que só foi validado porque ainda não existia uma das tantas novas regras do esporte que, como já disse, em breve vocês conhecerão: o VAR. E sugiro aos ingleses que coloquem isso em análise também. Afinal, ser ‘pai do futebol’ é padecer no paraíso?

PARA VER OS MELHORES MOMENTOS DO JOGO 

https://ge.globo.com/video/copa-2002-melhores-momentos-de-brasil-2-x-1-inglaterra-pelas-quartas-de-final-6591947.ghtml

FICHA TÉCNICA
INGLATERRA 1 x 2 BRASIL

Competição: Copa do Mundo de 2002, no Japão e na Coreia do Sul (Quartas-de-final)
Data: 21 de junho de 2002 (sexta-feira)
Horário: 11h30 (horário local)
Local: Shizuoka Stadium Ecopa, em Shizuoka (JAP)
Público: 47.436
Árbitro: Felipe Ramos Rizo (MEX)
Assistentes: Hector Vergara (CAN) e Mohamed Saeed (MDV)

INGLATERRA: Seaman; Mills, Ferdinand, Campbell e Ashley Cole (Teddy Sheringham); Beckham, Scholes, Butt e Trevor Sinclair (Kieron Dyer); Heskey e Owen (Darius Vassell). Técnico: Sven Goran Eriksson

BRASIL: Marcos; Lúcio, Edmílson e Roque Junior; Cafu, Gilberto Silva, Kléberson, Ronaldinho e Roberto Carlos; Ronaldo (Edílson) e Rivaldo. Técnico: Luiz Felipe Scolari

Gols: Primeiro Tempo: Owen, aos 23m’; Rivaldo, aos 47’; Segundo Tempo: Ronaldinho, aos 5’

Cartões Amarelos: Scholes e Ferdinand (ING)
Cartões Vermelhos: Ronaldinho (BRA)

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