Clubes de SP querem cerveja nos estádios e fim de torcida única
Acordo entre Palmeiras e São Paulo por aluguel de estádios foi um primeiro passo para possíveis mudanças no futebol paulista
O duelo vencido pelo Palmeiras diante do Santos no último sábado, 3, com mais de 49.000 torcedores alviverdes no Morumbi, aqueceu debates que já vinham sendo tratados nos bastidores. Os clubes da capital paulista trabalham pelo fim da torcida única em clássicos e pela liberação de venda de bebidas alcoólicas nos estádios.
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O ambiente do clássico na casa Tricolor, considerado saudável pelas autoridades e pelos clubes envolvidos, fez com que os responsáveis pela segurança pública na capital pedissem um estudo mais detalhado sobre o fim da torcida única, em vigor desde 2016.
O acordo feito pelas diretorias de Palmeiras e São Paulo, que concordaram em alugar seus estádios ao rival, foi considerado um primeiro passo. Em nota conjunta, as presidências dos clubes informaram que “o saldo positivo do evento contribui para que, futuramente, os clássicos estaduais voltem a ser disputados com a presença de duas torcidas.”
“Entendemos também que o esporte deve ser visto como entretenimento e lazer”, afirmou Julio Casares, presidente do São Paulo. “Se quisermos transformar o futebol brasileiro em um produto mas atraente para todos, a civilidade e o respeito devem prevalecer”, completou Leila Pereira, mandatária alviverde.
Outro tema que deve ser tratado até com maior rapidez é a liberação de bebidas alcoólicas. A venda de cerveja está proibida nos estádios de São Paulo há quase três décadas, pela Lei Estadual nº 9.470, de 1996, um ano depois da briga entre torcedores de Palmeiras e São Paulo, na decisão da Supercopa São Paulo de Juniores, no Pacaembu.
Nos bastidores, Corinthians, Palmeiras e São Paulo seguem fazendo lobby a favor da liberação, vista como uma importante fonte de renda dos clubes.
De acordo com dados da GSH (Gourmet Sports Hospitality), empresa responsável pelo setor de alimentos e bebidas do Allianz Parque, a liberação de bebidas alcoólicas nos estádios de São Paulo representaria um aumento de aproximadamente 30% do faturamento. A medida também teria reflexo direto na geração de empregos, com a contratação de mais atendentes, operadores de caixa e ambulantes, por exemplo.
“Estas são áreas que possuem, historicamente, um grande volume de profissionais à disposição no mercado. Caso haja uma mudança de legislação, serão criados novos polos de geração de emprego, gerando oportunidades para profissionais que hoje estejam em busca de recolocação”, afirma Tábata Silva, gerente do Empregos.com.br, um dos maiores portais de recolocação profissional do país.
Alguns especialistas ligados ao assunto defendem a liberação, desde que venham acompanhadas também de medidas que não gerem violência. “Vejo como um caminho importante para todas as partes envolvidos, mas desde que também ocorra uma companha de conscientização dos torcedores para o consumo moderado, a fim de evitar eventuais ocorrências dentro dos estádios”, aponta Fábio Wolff, especialista em marketing e que atua com marcas junto a personagens esportivos.
O executivo Renê Salviano, da agência Heatmap, que atende empresas que atuam em estádios como Allianz Parque e Mineirão, também vê a liberação com bons olhos. “Sou favorável, assim como acontece em outros segmentos de entretenimento, mas também acho que uma ideia legal é fazer campanhas de conscientização sobre o consumo excessivo de bebidas alcoólicas no dia a dia, além de orientar e educar sobre as punições ao clube mandante quando jogam materiais no campo ou quando acontecem brigas e confusões.”
Em São Paulo, mesmo com muitas tentativas, a que chegou mais perto ocorreu em julho de 2021, quando a Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) aprovou um projeto de lei que liberou a comercialização nos estádios, mas a decisão foi vetada pela então governador João Doria (PSDB).
No Brasil, apesar da venda de bebidas ser permitida deliberadamente fora dos estádios, dentro deles ainda existem algumas restrições. Dos 12 estados brasileiros, São Paulo, Rio Grande do Sul, Goiás e Alagoas não permitem venda de bebidas alcoólicas dentro das suas dependências.
Cada estado possui uma regra, e o veto por parte da Assembleia é constitucional, visto que o Estatuto do Torcedor não caracteriza quais bebidas estão proibidas nos estádios, dando aos Estados a adequação da legislação às peculiaridades locais.
“A proibição de bebidas alcoólicas em estádios só prejudica o caixa dos clubes. Está evidente que não diminui ou aumenta a violência, até porque as grandes brigas acontecem em trens, estações de metrô, muitas vezes com hora marcada em redes sociais. Já passou da hora dessa regra ser revista”, alerta Armênio Neto, especialistas em novos negócios na indústria do esporte.