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Os últimos trabalhos e o que esperar de Sampaoli no Flamengo

Argentino manteve padrão de bom futebol e saídas conturbadas por Sevilla, Olympique e Galo. À PLACAR TV, ex-colega de Santos destacou suas virtudes

O novo técnico do Flamengo é Jorge Sampaoli. Ciente dos riscos de esperar longas semanas por uma possível saída do ídolo Jorge Jesus do Fenerbahce, a diretoria rubro-negra preferiu acelerar a contratação de um novo treinador e optou pelo também badalado profissional argentino, que recentemente deixou o Sevilla, da Espanha, e tem passagens marcantes por Santos e Atlético Mineiro no país.

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Aos 63 anos, Sampaoli, que tem uma casa em Búzios, cumprirá assim um antigo objetivo de dirigir o Flamengo. Ele, no entanto, assumirá um time em crise após a demissão de Vítor Pereira, que perdeu todas as cinco competições que disputou (foi vice-campeão do Campeonato Carioca, da Taça Guanabara, da Recopa Sul-Americana e Supercopa do Brasil, e foi eliminado na semifinal do Mundial de Clubes. No último jogo, comandando pelo interino, Mário Jorge, o time perdeu para o Maringá por 2 a 0 pela ida da terceira fase da Copa do Brasil.

PLACAR detalhou os últimos trabalhos de Sampaoli e ouviu de Márcio Zanardi, atual treinador do São Bernardo e membro de sua comissão nos tempos de Santos, as principais virtudes do argentino. Confira, abaixo:

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Um padrão nos últimos trabalhos

Sampaoli é um técnico reconhecidamente competente e criativo, mas de personalidade controversa e resultados recentes um tanto contestáveis. Seu fim de ciclo no Sevilla, como já de hábito, não foi tranquilo. O treinador teve sua demissão confirmada em 21 de março, após derrota para o Getafe pelo Campeonato Espanhol, com o time dois pontos acima da zona do rebaixamento. Nos últimos sete anos, em meio a períodos de ótimo desempenho em campo, foram seis passagens conturbadas e interrompidas por diferentes equipes.

O ciclo vicioso começou depois da histórica passagem pela seleção chilena, entre 2013 e 2016, quando o treinador levou o país a seu primeiro grande título, a Copa América de 2015, batendo seu próprio país-natal na final. Valorizado, assinou com o Sevilla para sua primeira experiência europeia na temporada 2016/17.

Jorge Sampaoli, técnico do Chile
Jorge Sampaoli, técnico do Chile, durante a Copa de 2014

O clube fez contratações pedidas pelo técnico, a equipe teve um bom início em campo e jogava um futebol envolvente, mas sofria com problemas defensivos. Na época, o treinador teve alguns atritos com Paulo Henrique Ganso, que agora será seu rival pelo Fluminense. Depois de uma temporada de altos e baixos, com o quarto lugar no Espanhol e eliminação nas oitavas da Champions diante do Leicester, Sampaoli foi embora para assumir a seleção argentina, que patinava nas Eliminatórias da Copa.

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A aventura na seleção argentina foi um desastre. O time conseguiu se classificar à Copa de 2018 na bacia das almas, mas teve uma participação caótica, levando uma goleada da Croácia na primeira fase e caindo nas oitavas diante da França, com uma derrota por 4 a 3. Surgiram até notícias de que Sampaoli teria delegado a montagem do time aos veteranos do elenco durante a competição. Até mesmo com Lionel Messi, o treinador entrou em atrito. Naturalmente, não não permaneceu após o Mundial.

Vieram então as duas passagens de Sampaoli pelo futebol brasileiro, por Santos e Atlético Mineiro, com roteiros parecidos: futebol vistoso, bons resultados, algumas frustrações e muito conflito com as diretorias, quase sempre exigindo reforços que os clubes tinham dificuldades de trazer, que culminaram em saídas repentinas. Ele levou o Peixe ao vice-campeonato brasileiro em 2019 e o Galo ao terceiro lugar em 2020, além do título mineiro, mas deixou desafetos em ambos.

No caso do Atlético, Sampaoli saiu em fevereiro de 2021, com a temporada já em andamento, para acertar com o Olympique de Marselha. Novamente entre altos e baixos, e brigas por contratações com a direção do clube, ele levou o time ao quinto lugar do Campeonato Francês. Com alguns de seus pedidos atendidos – como o meia Gerson, a quem reencontrará no Flamengo -, foi vice-campeão na temporada seguinte. Mas surpreendeu ao anunciar sua saída logo depois, reclamando, adivinhe: da falta de reforços!

O último episódio foi novamente no Sevilla, onde sua segunda passagem foi bem menos bem-sucedida que a primeira. Com resultados ruins durante praticamente toda a temporada, a equipe espanhola decidiu demitir o argentino apenas cinco meses depois de sua chegada. De temperamento forte e exigências sempre altas, no Flamengo Sampaoli seguirá lutando contra seu principal adversário na carreira de técnico: a instabilidade.

Os trabalhos de Sampaoli depois de deixar a seleção chilena

Sevilla – junho de 2016 a maio de 2017 (pediu demissão)

Argentina – maio de 2017 a julho de 2018 (demitido)

Santos – janeiro de 2019 a dezembro de 2019 (pediu demissão)

Atlético-MG – março de 2020 a fevereiro de 2021 (pediu demissão). Foi campeão mineiro.

Olympique de Marselha – fevereiro de 2021 a julho de 2022 (pediu demissão)

Sevilla – outubro de 2022 a março de 2023 (demitido)

Filosofia de trabalho

Nesta semana, antes do anúncio do Flamengo, PLACAR TV recebeu Márcio Zanardi, técnico-sensação do Campeonato Paulista de 2023 pelo São Bernardo, que durante a entrevista relembrou o período em que trabalhou na comissão de Sampaoli no Santos e deu pistas sobre o que o torcedor rubro-negro pode esperar. Em 2019, Zanardi era treinador do sub-20 do Peixe quando o argentino lhe procurou com um pedido inusitado: que selecionasse seus melhores atletas e lhe ajudasse a treinar a equipe profissional com base na formação de jogo de seu próximo adversário.

“Eu não entendia bem esse conceito de sparring que ele gosta, a gente só conhece do boxe. Ele me pediu uma seleção dos melhores sub-20 e sub-23 para treinar com os profissionais. Tinha Yuri Alberto, Kaio Jorge, Marcos Leonardo, Ivonei, Sandri…” conta. “O Santos ia jogar contra o Flamengo do Jorge Jesus eu montava uma organização ofensiva para treinar a defensiva [e vice-versa]. Ele realmente gastava os sparrings. Isso era na quarta de manhã e à noite eu ia jogar [pelo sub-20] com o São Paulo no Morumbi e perdia, claro. O Paulo Autuori [diretor de futebol] me dizia: não fique preocupado com o resultado, você está ajudando o profissional, essa era a metodologia. E eu pedia que ele avisasse isso ao presidente também”, brinca Zanardi.

“Foram seis meses dessa dificuldade, mas valeu a pena porque o Santos foi vice-campeão brasileiro. O Sampaoli até me chamou para ir para o Atlético Mineiro, seguir como treinador do sparring, mas eu não quis, expliquei que minha meta era também virar treinador. Foi um ano de trabalho de resultado esportivo péssimo, mas foi um estágio de um ano e dois meses com um dos melhores técnicos que eu poderia ter”, diz, ressaltando que a convivência com o argentino não era tão fácil.

Ele cita alguns aspectos diferenciais do trabalho do argentino. “A responsabilidade no dia a dia, a paixão que ele tem pelo futebol, o envolvimento que ele tem com o atleta, a cobrança (…) Jogador que faz corpo mole com ele não participa com ele jeito nenhum. E a leitura de jogo é muito importante. Não adianta ter o treino dele, isso é público, está na internet, assim como os do Guardiola, o difícil é pensar o futebol como ele pensa. Ele gosta de laterais internos, ataca marcando o tempo todo, muitas vezes, ganhando de quatro gols ele continua em cima e também podia levar quatro. Mas é um cara que tem uma paixão pelo futebol, chegava cedo, ia embora tarde.”

Zanardi contou que Sampaoli chegou a abolir a folga de domingo e segunda de manhã, e passou o descanso para segunda à tarde e terça-feira, visando uma melhor recuperação dos atletas. “Ele mudou a parte cultural do brasileiro. Imagine, no domingo o time ganha, o jogador quer sair com a família, ir para uma balada, mas tinha que ir para a concentração. Foi difícil. Ele mudou, mas conseguiu mostrar para o jogador que o resultado estava acontecendo. Com todo respeito, aquele time do Santos não era para ter sido vice-campeão. Ele deixou um legado de muita inteligência e conteúdo. Treinos curtos e intensos, de no máximo uma hora. E é um cara que não contava história para o jogador. Nada contra quem faz, mas ele acreditava 100% no campo.”

Ele mudou a parte cultural do brasileiro. Imagine, no domingo o time ganha, o jogador quer sair com a família, ir para uma balada, mas tinha que ir para a concentração. Foi difícil. Ele mudou, mas conseguiu mostrar para o jogador que o resultado estava acontecendo. Com todo respeito, aquele time do Santos não era para ter sido vice-campeão. Ele deixou um legado de muita inteligência e conteúdo. Treinos curtos e intensos, de no máximo uma hora. E é um cara que não contava história para o jogador. Nada contra quem faz, mas ele acreditava 100% no campo.”

Sampaoli está na Espanha resolvendo detalhes de sua rescisão com o Sevilla e tem previsão de desembarque no Rio de Janeiro neste domingo, 16. Deste modo, a expectativa é que ele esteja no Maracanã para assistir à estreia do Flamengo no Brasileirão, diante do Coritiba.

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