Conheça o Athletic, clube mineiro que está a um passo da Série C
Clube da cidade histórica de São João del-Rei retornou ao profissionalismo há poucos anos e vive grande fase; PLACAR ouviu diretoria e jogadores
SÃO JOÃO DEL-REI – O futebol mineiro está em alta, com três clubes na Série A (Atlético, Cruzeiro e América) e agora pode ter também um representante na Série C em 2024. O Athletic Club, da cidade de São João Del-Rei, está perto de viver o momento mais importante de seus 114 de história.
O Athletic enfrenta no próximo sábado, 2, o Bahia de Feira, no Mineirão, pelo jogo e volta das quartas de final do Campeonato Brasileiro da Série D. O time mineiro tem a vantagem de 2 a 0, conquistado na ida, e pode até perder por um gol para alcançar o acesso.
Sensação em Minas Gerais, o clube mandará a partida decisiva no Gigante da Pampulha, na capital, tendo em vista a capacidade de sua casa, o Joaquim Portugal. O estádio de São João del Rei pode receber cerca de 2.300 torcedores, enquanto o regulamento da competição exige capacidade mínima de 4.000 espectadores a partir desta fase.
Ainda assim, uma forte mobilização na cidade e o carinho do estado pelo clube promete que o apoio siga forte. Desse modo, às vésperas da decisão, PLACAR buscou elementos históricos e realizou entrevistas com a diretoria e jogadores para contar a história do Athletic.
O clube e a cidade
Fundada como arraial a partir da exploração do ouro no início do século XVIII, São João del-Rei se tornou uma cidade conhecida nacionalmente. Palco da Guerra dos Emboabas, o local passou a receber obras de belíssimas igrejas barrocas, que até hoje fomentam o turismo do local. Suas belezas arquitetônicas já são consagradas e agora o futebol são-joanense também quer elevar o nome da cidade de 90.000 habitantes, localizada a cerca de 190 km da capital Belo Horizonte.
Fundado em 27 de junho de 1909 como Athletic Football Club, a equipe está ligada quase que de maneira indissociável à popularização do futebol no interior do Brasil. O esporte chegou a São João del-Rei em 1907, por meio de estudantes do Rio de Janeiro que passavam férias em Minas e praticaram com comerciantes em meio às ruas de pedra da cidade que já vivenciava a chegada da iluminação elétrica.
Na contramão da situação atual, o esporte não foi popular logo de início, o que, em 1913, obrigou a transformação da associação em Athletic Club – nome que segue até os dias de hoje -, tendo em vista que outras modalidades foram englobadas. Também nesse período, o time de futebol passou a disputar partidas em campos da região.
Nessa sequência de disputas em cidades vizinhas, a equipe se destacou regionalmente e alcançou o primeiro grande momento em 1919, quando venceu o Atlético Mineiro, por 2 a 1, em São João del-Rei. Daí em diante, a certeza de que o futebol vingaria impulsionou o crescimento da equipe, que, em 1922, adquiriu o campo do atual estádio, batizado em homenagem a Joaquim Portugal, ex-presidente e secretário do clube.
Relevante na cidade e começando a dar os primeiros grandes passos, o clube viveu um marco em 1969, quando se inscreveu para disputar a Terceira Divisão do Campeonato Mineiro. Na ocasião, ficou com o vice-campeonato, ao perder do Nacional de Muriaé. A campanha, por uma mudança de regulamento, levou o Esquadrão de Aço à disputa da elite estadual de 1970, a primeira da equipe. A campanha acabou ainda na fase de grupos, com uma vitória, dois empates e 11 derrotas, mas marcou o torcedor, que ainda exalta nomes como de Magno dos Santos, funcionário do clube até os dias de hoje.
Esse estadual foi a última vez que o Athletic entrou em campo de maneira profissional no século passado. Ainda assim, a tradição se fortaleceu na cidade e as disputas com rivais citadinos movimentaram o esporte são-joanense. Entre os anos 70 e 80, nomes que brilharam no amador seguem nas graças da população, como é o caso de Reilson e Trovão, que compuseram dupla de ataque avassaladora.
Retorno ao profissionalismo, SAF e brilho
Fruto de muito sonho e planejamento financeiro, o Athletic retornou ao profissionalismo em 2018. Abraçado pela cidade, o Esquadrão ficou com o vice-campeonato da Segunda Divisão do Mineiro, equivalente ao terceiro nível do estadual em hierarquia, e chegou ao Módulo II. Pela competição, manteve-se estável em 2019 e em 2020, mais consolidado, terminou a competição em segundo colocado e retornou à elite.
A meta que parecia distante se tornou realidade, com toques de glamour. Para a disputa de 2021, o Athletic, buscando se tornar uma atração, contratou ninguém menos que Loco Abreu, ídolo do Botafogo e da seleção uruguaia. Folclórico, o centroavante foi a campo apenas quatro vezes na campanha que garantiu a permanência do Esquadrão, cravando a estabilidade do projeto. No mesmo ano, o time se tornou SAF, comprado em 49% pelos empresários Vinicius Diniz e Victor Felipe Oliveira.
O primeiro ano dos investimentos já rendeu frutos esportivos, além da publicidade trazida por mais um grande nome: Ricardo Oliveira. Veterano, o atacante de grande história participou do elenco de 2022, que já fez grandes voos no Campeonato Mineiro, com direito a classificação para a semifinal e o título do interior, sob comando do treinador Roger Silva, que assumiu durante a disputa. Nesse ano, mais uma mudança na diretoria, quando Vinicius Diniz, um dos donos da primeira SAF, adquiriu 90% dos direitos com o Grupo Futbraz, tornando-se majoritário.
As boas campanhas renderam ao Esquadrão de Aço as classificações para o Brasileirão Série D e a Copa do Brasil de 2023, as primeiras participações da história. Fábio Mineiro, diretor do futebol do clube que está no projeto desde o seu início, respondeu a PLACAR sobre as ambições iniciais.
“Quando me envolvi no projeto, acreditava no potencial do Athletic Club. Os bons resultados são fruto do empenho de todos, dos funcionários, passando pela comissão técnica aos atletas, que abraçaram a filosofia e se dedicam intensamente”, disse o dirigente nascido em São João del-Rei.
Com calendário cheio para este ano, o planejamento para o estadual foi mais organizado. Dentro de campo, o rendimento acompanhou em mais um Campeonato Mineiro, novamente com Roger à beira do campo. A campanha desta temporada terminou na semifinal, contra o Atlético Mineiro, após empate no agregado que, pelo regulamento, beneficiou o time da capital. O início da temporada também teve o título do interior e da Recopa Mineira, além da eliminação na primeira fase da Copa do Brasil, contra o Brasiliense.
@placar “TEM QUE RESPEITAR” Depois da eliminação para o Galo na semifinal do Campeonato Mineiro, o treinador Roger Silva anunciou sua saída do Athletic e cobrou respeito da imprensa local. 🎥 @ Guilherme Azevedo #placar #atleticomineiro #athletic #sportsnews
A primeira Série D
Naturalmente, o brilho no estadual fez com que o elenco e o treinador fossem muito visados no mercado. Com isso, uma reformulação no grupo aconteceu e um “novo” técnico foi contratado. O escolhido da vez foi Cícero Júnior, carinhosamente apelidado de Cicinho, nascido em São João e com passagens pelo clube em 2018, 2019, 2020 e início de 2021.
Sobre a identificação do clube com o município, Fabio é enfático: “A ligação com a cidade é crucial para nossa identidade. Conhecer a cultura local e ter o apoio da comunidade fortalece nosso propósito. O Athletic representa não só um time, mas os sentimentos e aspirações daqui.”
Nessa linha, o Athletic encheu sua casa em grande maioria dos jogos, o que empurrou a quipe. Até o momento, a campanha total tem 19 jogos, 12 vitórias, três empates e quatro derrotas, enquanto em casa o rendimento sobe para seis êxitos, dois empates e apenas uma derrota, conquistados por 15 gols marcados e cinco sofridos.
Apesar de um início instável, o caminho passou pela liderança do grupo A6, superando Portuguesa-RJ, Democrata de Governador Valadares-MG, Vitória-ES, Santo André-SP, Resende-RJ, Nova Iguaçu-RJ e Real Noroeste-ES. Na segunda fase, o Athletic eliminou sem sustos o Brasiliense-DF, seguida pela virada contra o Camboriú-SC, na terceira.
Depois de vencer o primeiro jogo das quartas de final, contra o Bahia de Feira, por 2 a 0, o Esquadrão está a um passo de cumprir o objetivo, como contou Gui Mendes: “Desde o início sabíamos dos objetivos ambiciosos do clube. O acesso era um dos principais alvos, trabalhamos muito para isso.”
Contratado nesta temporada pela equipe, o jovem atacante de 23 anos já tem um acesso da D para a C na bagagem. Em 2019, pelo Ituano, time em que foi revelado, Gui marcou oito gols na competição e foi essencial para a glória. Neste ano, no entanto, passou por momentos delicados após sofrer um grave acidente de carro e enxerga a conquista como uma luta ganha: “O Athletic tem uma estrutura de apoio excepcional. A equipe médica, comissão técnica e colegas de time foram essenciais para minha recuperação. Juntos, superamos.”
Outro destaque do Esquadrão nesta Série D foi Antônio Falcão, camisa 10 da equipe. Meia criativo e canhoto, é uma das peças essenciais para a campanha, mesmo que não seja reconhecidamente artilheiro – fez dois gols em 17 jogos. Procurado por PLACAR, o atleta revelado pelo São Paulo contou alguns detalhes da boa fase.
“Cada momento na carreira tem seu valor, mas é verdade que estou vivendo uma fase especial no Athletic. A oportunidade de crescer como jogador e contribuir para o time torna esse período único. Sinto-me honrado pelo carinho da torcida. Acredito que isso vem da entrega em campo, do respeito à camisa e à cidade”, analisou Falcão.
E o futuro?
Em entrevista a PLACAR em março de 2023, Roger Silva, que havia deixado o comando recentemente e estava acertado com o Pouso Alegre para a Série C, fez uma previsão: “Fizemos mais uma ótima jornada e eu tenho certeza que o clube ainda vai fazer uma boa Série D neste ano e chegar na Série B em breve.”
A campanha na quarta divisão já se cumpriu e a diretoria trabalha para que o teto continue sendo alto. Entretanto, em caso de acesso, o Esquadrão de Aço pode contar com o mesmo problema do mando de campo.
Nesta temporada, a CBF exigiu que os estádios da Série C tivessem capacidade mínima para 4.000 torcedores, o que não é o caso do Joaquim Portugal. Entretanto, Fábio Mineiro confirmou que existem projetos para uma ampliação: “Estamos em constante avaliação das melhorias necessárias para atender às demandas. O aumento da capacidade do estádio está nos planos.”