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Botafogo remodela Nilton Santos e projeta lucro milionário com shows

Novo gramado sintético e futuras receitas com o estádio são armas do clube carioca, que lidera o Brasileirão com 100% de aproveitamento em três rodadas

O estádio Nilton Santos reabriu as portas em abril, depois de três meses fechado para a instalação de um gramado sintético, e já começa a escrever um novo capítulo na história do Botafogo e do campo construído no bairro do Engenho de Dentro, na zona norte do Rio de Janeiro. O palco que nesta quinta-feira, 4, receberá a partida diante da LDU, do Equador, pela Sul-Americana, a partir das 21h (de Brasília), se tornará uma arena multiuso com enorme potencial de receitas. É o que garante o diretor geral da SAF do Botafogo, Thairo Arruda, em entrevista a PLACAR. 

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Erguido para os Jogos Pan-Americanos de 2007, inicialmente batizado de Estádio Olímpico João Havelange e apelidado de Engenhão, o Nilton Santos é administrado pelo Botafogo desde a inauguração. Recentemente, o clube e a prefeitura do Rio de Janeiro renovaram o contrato de concessão, então válido até 2031, por mais vinte anos até 2051. O Botafogo, então, iniciou um processo de melhorias. 

A expectativa da sociedade anônima do Botafogo, liderada pelo empresário americano John Textor desde março de 2022, é colocar o clube carioca em outro patamar financeiro com a realização de shows e eventos no estádio, sem abrir mão do desenvolvimento no futebol. Arrecadando mais, o clube planeja valorizar as propriedades do estádio e faturar alto na venda dos naming rights do Nilton Santos.

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Thairo Arruda, diretor geral da SAF do Botafogo
Thairo Arruda, diretor geral da SAF do Botafogo

Ainda em março, o estádio recebeu três apresentações da banda britânica Coldplay. Cerca de 70.000 pessoas passaram pelo evento por dia. Até o final de 2023, a arena ainda será palco de shows da banda americana Red Hot Chilli Peppers, do cantor canadense The Weeknd e da banda mexicana RBD.

“Nosso foco está em como utilizar melhor o nosso estádio fora de dias de jogos. Como podemos conectar melhor com a população local da Zona Norte do Rio, a mais populosa da cidade, que tem um aparelho público tão grande e tão pouco explorado. Em consequência disso, teremos mais receita para o Botafogo e SAF e conseguiremos reverter essa valor para o desenvolvimento do futebol. A gente entende que é uma relação de ganha-ganha”, afirma o diretor da SAF alvinegra. 

Show do Coldplay foi o primeiro da agenda de 2023; estádio ainda recebe outros artistas no fim do ano
Show do Coldplay foi o primeiro da agenda de 2023; estádio ainda recebe outros artistas no fim do ano

Expectativa de faturamento milionário 

A situação financeira do Botafogo ainda está longe de ser confortável: segundo o colunista Rodrigo Capelo, do ge, as dividas do clube estão calculadas em 963 milhões de reais em 2023, uma redução muito ligeira em relação ao ano anterior, em razão do aumento dos juros. O Nilton Santos, então, surge como um potencial alívio.

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O Botafogo utiliza o estádio em média 35 vezes por ano para as partidas de futebol. O número é considerado baixo pela diretoria frente às despesas diárias e de manutenção. “O estádio em si é uma fonte de receita do clube e também é uma linha de despesa. Quando a gente assumiu a SAF o estádio era deficitário, as receitas que ele gerava não compensavam as despesas, tínhamos receitas apenas alguns dias durante o ano. Destravar essa fonte de receita é complicado porque exige investimentos, infraestruturas, exige pensar diferentes dos clubes tradicionais”, explica Thairo. 

Botafogo, Palmeiras e Athletico-PR são os únicos times da série A que utilizam o gramado sintético
Botafogo, Palmeiras e Athletico-PR são os únicos times da série A que utilizam o gramado 100% sintético na arena

Por muito tempo, o Bota fechou o ano no vermelho com o estádio. A dívida da Companhia Botafogo, empresa que administra o local, chegou a 50 milhões de reais. Em 2021, um acordo do clube com o governo diminuiu a déficit total entre as partes. Os números do balanço financeiro de 2022 ainda não foram divulgados. 

Com a agenda de shows já fechada para este ano e com alta procura para apresentações no ano que vem, a estimativa da diretoria é de lucro em torno de 12 milhões de reais no Nilton Santos. Para 2024, a estimativa aumenta. “Hoje, por exemplo, só com shows a gente vai conseguir fazer em torno de 20 a 25 milhões reais por ano de lucro do Nilton Santos, o que vai colocar o Botafogo em outra prateleira de clube com potencial gerador de receita que os nossos concorrentes não têm”, diz Thairo.

Ele cita o recente imbróglio financeiro envolvendo os rivais, que travam uma disputa pela concessão do Maracanã.  “O Fluminense, o Vasco e o Flamengo não podem fazer isso, porque eles carecem desse aparelho que temos na mão. Nós conseguimos ganhar a longo prazo uma competitividade maior do que a que temos hoje, porque vamos gerar mais receitas que nossos competidores”, completa Thairo. 

Grama sintética, uma vital aliada

Embalado no Campeonato Brasileiro, do qual é líder com 100% de aproveitamento em três rodadas, o Botafogo é um dos três únicos clubes da Série A a possuir um campo artificial em sua arena. A recém instalada grama sintética do estádio, no entanto, possui uma tecnologia nova, diferente em relação ao tipo utilizado por Palmeiras e Athletico-PR no Allianz Parque e na Arena da Baixada, respectivamente. 

ota venceu o São Paulo pelo Brasileirão no retorno ao estádio de grama nova
Bota venceu o São Paulo pelo Brasileirão no retorno do clube ao estádio, agora de grama sintética

Tais tipos de gramados são compostos por diferentes camadas antes que se chegue ao topo. No caso do Nilton Santos, uma dessas camadas é composta por cortiça, material de origem vegetal e de atuação isolante, que favorece o resfriamento da área e evita que o campo superaqueça durante o jogo um dos principais problemas da grama artificial. 

Thairo Arruda explica que a escolha levou em conta o impacto no conforto dos atletas e também a viabilidade de receber os megaeventos. Além da grama, o estádio ganhou novo sistema de irrigação. “Buscamos a melhor qualidade que afetasse o menos possível o futebol, que é a nossa razão de ser. Para o futebol, a gente entendeu que esse tipo de gramado afeta pouco o desempenho dos atletas, pelo contrário, estamos recebendo elogios de que o jogo está fluindo melhor”, afirma Thairo. 

Conflitos na agenda e pista de atletismo

Entre as grandes polêmicas envolvendo as arenas multiuso estão o maior desgaste do gramado e o conflito da agenda de shows com o mando de campo do time em casa. Não raramente é o que tem acontecido com Palmeiras e Athletico-PR nos últimos anos. A equipe paulista, por exemplo, costuma mandar seus jogos na Arena Barueri, no Pacaembu e no Morumbi quando o Allianz Parque está indisponível. 

No caso do Botafogo, Thairo cita o Mané Garrincha, em Brasília, como alternativa, mas ressalta que a CBF tem sido flexível em alterar datas de jogos, caso os pedidos sejam feitos com antecedência.

O que não é prioridade para o Botafogo neste momento é a retirada da pista de atletismo do estádio Nilton Santos. John Textor, dono da SAF do clube, já expressou a vontade de aproximar a arquibancada do campo, o que gerou enorme polêmica envolvendo o Comitê Olímpico Brasileiro e a Câmara dos Deputados do Rio de Janeiro. 

“Há um debate político que temos de fazer de uma forma tranquila, chamar todos os interessados para conversar. O investimento necessário para isso é enorme e não vamos fazer enquanto não estivermos alinhado com a prefeitura. Mesmo que começássemos com o projeto esse ano, o que é improvável, demoraria anos para ficar pronto”, finaliza o diretor da SAF alvinegra. 

Vista aérea do Estádio do Engenhão, no Rio de Janeiro
Vista aérea do Nilton Santos, na zona norte do Rio de Janeiro
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