VP x Róger Guedes, Cuca x Adriano, Leão x Falcão e mais.. relembre casos em que treinadores não esconderam insatisfação com seus comandados
Filipe Luís, do Flamengo, contrariou um dos preceitos seguidos por boa parte dos treinadores: o de que roupa suja se lava em casa, e que atletas devem ser cobrados internamente e blindados diante das câmeras. O técnico rubro-negro surpreendeu ao criticar duramente o comportamento do atacante Pedro.
“Foi lamentável, beirou o ridículo para mim. Evidentemente que o Pedro tem os seus problemas pessoais com a diretoria, com o clube, problemas dele. E não é de agora que ele vinha treinando muito mal. Só que esta semana ele realmente rompeu para mim com um princípio claro que nós temos”, disse Filipe Luís.
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O centroavante reagiu via redes sociais e se disse desrespeitado pela direção e pelo treinador.
O caso, claro, não é inédito. No Brasil e no exterior, treinadores optaram por tornar pública a sua insatisfação, em casos que raramente terminaram em reconciliação. Relembre, abaixo 9 casos semelhantes:
O treinador português fez um bom trabalho no Corinthians em 2022 e quase faturou o título da Copa do Brasil (perdeu a decisão nos pênaltis para o Flamengo, no Maracanã). Vitor Pereira, no entanto, não tinha bom relacionamento com boa parte do elenco, especialmente com o atacante Róger Guedes, a quem acusou de falta de comprometimento tático em algumas oportunidades.
“A qualidade do Róger não está em questão, eu sei que ele tem. Mas [falta] compromisso, entrega, espírito de sacrifício, lutar todos os dias para ser melhor e claramente dizer para mim que quer ajudar…e isso não se faz com palavras. Já tivemos uma, duas, três. É quase como um filho. É boa pessoa. Mas quando temos uma, duas, três conversas, depois só se acredita nas ações. Meus filhos são iguais“, afirmou VP em entrevista coletiva.
Róger Guedes e Vitor Pereira no Corinthians – Rodrigo Coca/Agência Corinthians
Em caso semelhante ao de Pedro e Filipe Luís, Vitor Pereira chegou a cobrar mais empenho de Róger Guedes nos treinos. ”
“Eu tenho que fazer a equipe e escolher as substituições em função do que eles me dão em treino e jogo. Portanto, o Róger que já teve momento bom, fez gols, hoje é um jogador que está com alguma dificuldade de responder mesmo em termos de treino, em termos de lutar para dar a volta. […] Não estou sentindo esta confiança. Isto não quer dizer que ele não queira, não estou dizendo isso. Mas nem em termos de treino, nem em termos de jogo, as indicações são essas. Não posso tomar decisões com base no nome do Róger Guedes ou do que ele já fez, mas do que ele está fazendo agora.”
O treinador terminou por se entender com Róger Guedes, que foi titular na maior parte do trabalho de VP. “Naquele dia [das críticas públicas], eu queria matar ele“, admitiu Roger Guedes, anos depois, em entrevista à ESPN Brasil. O português acabou não renovando contrato, alegando que queria retornar a Portugal para cuidar da saúde da sogra. Meses depois, apareceu no Flamengo.
Após Neymar sofrer múltiplas lesões no Al-Hilal, Jorge Jesus passou a lidar com desconfiança sobre sua recuperação física e utilidade para o elenco saudita. O técnico português, conhecido pelo estilo direto, comentou publicamente sobre a situação do craque brasileiro.
“Não está fácil. Ele vem de uma lesão que o tirou da competição. Quando estava voltando, voltou a se lesionar. É um jogador que não deixa dúvidas a ninguém, um jogador top mundial. Mas a verdade é que, fisicamente, ele não tem conseguido acompanhar a equipe“, disse Jesus.
Jorge Jesus deixou o Al-Hilal e agora é treinador do rival Al-Nassr- Divulgação
Na época, o Al-Hilal chegou a deixar Neymar fora da lista de inscritos, pois precisava acomodar outros estrangeiros como Malcom e o sérvio Mitrovic.
” Também não é fácil. Temos que tirar um jogador para inscrever o Neymar. O Neymar está inscrito na Champions League da Ásia, só não está inscrito em uma competição, que é o Campeonato Saudita. Ele também vai decidir sua vida. O que sei é que tem contrato com o Al-Hilal, e o resto não compete a mim.”
Após as falas que geraram muito desconforto em Neymar, a transferência para outra equipe era praticamente certa. O jogador chegou a responder às críticas ao chegar ao Santos.
“Eu nem gosto de falar sobre isso, de criar polêmicas, mas é a realidade. Quando o Jorge Jesus deu essa declaração, eu sabia que quando eu entrasse em campo eu ia mostrar uma coisa diferente. Então, fica aí. O campo fala. O campo é o único lugar onde eu consigo me defender”, declarou Neymar após o empate com o Botafogo-SP.
Durante sua passagem pelo Flamengo, em 2009, Cuca comentou sobre Adriano estar com o físico a baixo da equipe. Em entrevista ao jornalista Renato Maurício Prado, chegou a dizer que o Imperador parecia estar com “um saco de areia de cinco quilos nas costas.”
Depois, se arrependeu doo tom: “Isso não é uma crítica. Talvez tenha exposto de maneira inadequada. Mas é o que penso“, falou o treinador. “Realmente falei o que saiu na coluna, mas fui mal interpretado. Adriano é essencial e imprescindível”, disse Cuca.
Adriano perdeu peso e brilhou pelo Flamengo no título do Brasileirão de 2009, já sem Cuca – EFE/ Antonio Lacerda
Um caso inusitado no futebol europeu envolveu o espanhol Pedro León, durante sua breve passagem pelo Real Madrid de José Mourinho. O jogador havia se destacado pelo Getafe e chamou atenção do clube merengue, porem, não ganhou minutos em campo.
Questionado sobre sua escolha, o “Special One“ não fez nenhuma questão de defender o jogador: “Falam de Pedro León e parece que me perguntam de Zidane ou Maradona”, ironizou.
Anos depois, Pedro León disse ter se sentido humilhado por seu técnico. Durante a passagem pelo Santiago Bernabéu, José Mourinho também trocou farpas públicas com o goleiro e ídolo Iler Casillas, a quem preteria em favor de Diego López.
Le jour où José Mourinho a détruit Pedro Leon en conférence de presse.
Le Real Madrid doit retrouver ce niveau d’exigence. pic.twitter.com/IycJWyrs4y
— José Mourinho Show (@Jmshow10_) April 9, 2025
O comprometimento sem bola do atacante venezuelano Soteldo é uma questão recorrente em sua carreira. No início de 2025, o técnico português Pedro Caixinha foi direto ao assunto:
“Soteldo é muito bom jogador, mas indisciplinado taticamente. Quando isso acontece, temos que ter soluções no banco para manter os jogadores com criatividade e equilibrar a equipe. Nesse momento era ter um meio com mais presença”, após jogo contra o Palmeiras.
Caixinha deixou o Santos após apenas 16 partidas- Raul Baretta/Santos FC
Após as críticas, Soteldo teve evolução em campo mostrando seu potencial, recebendo elogios pontuais em seu comportamento pelo técnico do Santos.
“Um jogador completamente diferente. Vocês viram aos 80 minutos ele fazer uma pressão ao goleiro. Eu nunca tinha visto ele fazer isso. Com a capacidade dele e ter essa envolvência no jogo é um jogador muito diferenciado”, disse Caixinha.
Nenhum dos dois segue no Peixe. O treinador foi demitido após apenas 16 jogos, enquanto Soteldo foi emprestado ao Fluminense.
Outro caso muito recordado ocorrido no Santos culminou na demissão do técnico Dorival Júnior, então campeão paulista e da Copa do Brasil pelo Peixe. O treinador comandou o time em 61 jogos, com 37 vitórias, 8 empates e 16 derrotas. Porém, um atrito com Neymar foi fatal.
Em 2010, após um episódio de indisciplina, quando o então prodígio santista esbravejou por não ser escolhido para bater um pênalti diante do Atlético-GO, o técnico afastou o camisa 11 antes mesmo de avisar a diretoria ou o próprio atleta.
“Não sou o dono da verdade, ouvi muita gente e a atitude de momento é necessária. Não comuniquei ninguém e vou conversar com o presidente (Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro) agora. Não falei nada para o Neymar, pois não falo nada para quem vai sair. Não tenho que dar satisfação”, esbravejou o comandante santista.
Neymar e Dorival entraram em colisão em 2010 – Douglas Abi Saber/Dedoc
Foi neste jogo contra o Atlético-GO, que o técnico adversário, Renê Simões, cunhou a frase de que “estamos criando um monstro” ao não educar Neymar. O astro ficou fora de uma partida contra o Guarani, mas Dorival queria ampliar a punição para mais um jogo, justamente um clássico contra o Corinthians, o que não foi aceito pela diretoria e gerou sua demissão.
Maior craque do futsal mundial, Falcão se aventurou, sem sucesso, pelo futebol de campo em algumas oportunidades. A mais lembrada delas ocorreu em 2005, pelo São Paulo, e lhe gerou um enorme desafeto: Emerson Leão.
O ex-goleiro e então treinador da equipe não escondia seu incômodo pela contratação de Falcão, chamado ironicamente de “jogador do presidente”, por ter sido indicado por Marcelo Portuga Gouvêa.
Falcão atuou em seis partidas, apenas uma como titular, na campanha do título paulista daquele ano. Leão costumava criticar as atuações do habilidoso meia-atacante canhoto e chegou a ironizar um fato de Falcão ter dado uma bicicleta de fora da área.
Emerson Leão e Falcão, no São Paulo, em 2005 – Pablo Rey/Alexandre Battibugli/PLACAR
“Às vezes o técnico é paizão e defende o jogador na imprensa, mas cobra no vestiário. Mas comigo não. Cobra-se na imprensa e no vestiário não se fala nada. Tenho uma imagem por tudo que fiz. Estou sendo denegrido. Certas coisas precisariam ser internas”, reclamou Falcão ao decidir retornar ao futsal, ao Malwee, de Jaraguá do Sul.
“Todo mundo viu. Eu podia jogar bem que ele tinha o discurso pronto de que eu joguei mal, sem que eu tivesse a menor chance de defesa. Gastei anos construindo uma imagem e ninguém pode desrespeitá-la dessa maneira” complementou.
Durante sua última passagem como técnico do São Paulo, Muricy precisou lidar com a expectativa de ver Jadson e Ganso jogando juntos. O técnico evitava escalar os dois ao mesmo tempo, e chegou a criticar a falta de vontade do meia destro, anda que sem citar nomes.
“Todo bom jogador pode jogar junto, desde que o jogador seja bom e queira jogar. Depende dos jogadores quererem, mas é preciso lembrar que no ano passado acertamos a equipe quando mudamos a forma de jogar, com só um cara de ligação”, disse o treinador relacionado ao Jadson.
Jadson do São Paulo comemora gol contra o Linense durante partida válida pelo Campeonato Paulista
“Não tem fórmula para montar o time, é preciso só que o jogador queira” afirmou Muricy. Sem moral com o treinador, Jadson acabaria envolvido em troca com Alexandre Pato, do Corinthians, a faria história pelo Timão.
Ainda em SEU início de carreira no Santos, Gabriel Barbosa, o Gabigol, ouviu duras críticas de Enderson Moreira. O treinador deixou claro que os jovens do elenco, incluindo o atacante, não tinham conquistado nada ainda e precisavam aprender a jogar coletivamente.
“Alguns atletas se acham mais do que realmente são. Não conquistaram nada no futebol profissional, não são referências e ainda têm muita coisa para caminhar e buscar”, disse Ederson.
“Já que muitos pensam em jogar fora, no futebol europeu, eles precisam melhorar essa qualidade de jogar em equipe.” O caso repercutiu muito nas redes sócias, e Enderson acabou demitido pouco tempo depois.
Gabriel Barbosa foi revelado pelo Santos
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