Mirassol de Reinaldo, Rafael Guanaes e Neto Moura é a sensação do Brasileirão – PLACAR
O Mirassol consolidou, nesta reta final de Brasileirão, a melhor campanha de um estreante na era dos pontos corridos. Em um campeonato historicamente hostil para novatos, o clube do interior paulista, no G-4 da competição, passou a ocupar uma faixa da tabela que raramente inclui debutantes.
No campo, a explicação aparece em linhas compactas, boa ocupação do corredor central e boa noção de quando pressionar ou recuar. Assim, o Leão Caipira produz um jogo que busca controle sem e com bola, quando aplica uma posse fluida, eficiente a ponto de ter o terceiro melhor ataque do Campeonato Brasileiro.
Dono do grande trabalho da temporada nacional, quem comanda o time é Rafael Guanaes, um adepto do jogo funcional, como admitiu em entrevista exclusiva à PLACAR. Dessa maneira, seu time parte de um 4-2-3-1 assimétrico, que privilegia seus laterais, a ponto de Reinaldo, o dono da função na esquerda, ter 13 gols e seis assistências na competição.
O Mirassol com bola
Apesar de constantes mudanças no time escalado para iniciar, existem padrões claros no Mirassol de 2025. Um deles é saída de bola com o goleiro, dois zagueiros mais abertos, um volante abaixando, outro se posicionando nas costas da primeira linha rival e os laterais prontos para a progressão pelos lados.
Assim, ainda há espaço para o terceiro homem de meio-campo se deslocar, atraindo atenção para um ataque ao oposto ou gerando linhas de passe. Quem também faz a função de movimentação é o ponta-direita, que, especialmente quando é Negueba, praticamente se junta ao meia, nos corredores centralizados.
Mirassol constrói com goleiro ativo, primeiro volante abaixando, meio-campo formando triângulo e laterais como válvulas de escape
Na imagem, goleiro e dois zagueiros formam primeira linha. À frente, volante tem dois laterais abertos – Montagem sobre Cazé TV
Quando a primeira fase de construção é superada, a “linha funcional” de Guanaes fica mais clara. Em seu time, é comum que Neto Moura (ou outro primeiro volante) recue entre os zagueiros, liberando a subida dos dois laterais e dos meio-campistas.
Assim, com liberdade para aglomeração sem muitas amarras de posição no setor ofensivo, o Mirassol frequentemente acumula e atrai atenção para um lado, podendo girar a bola com tabelas e “escadinhas”, método de progressão com linhas diagonais de três ou mais jogadores, muito comum em equipes de Carlo Ancelotti, Fernando Diniz e, nos princípios, com Flávio Costa, lendário técnico de Vasco, seleção e Flamengo nos anos 1930, 1940 e 1950, quando implementou uma revolução tática no país.
Ataque funcional do Mirassol de Guanaes, com acúmulo em um lado e lateral oposto aberto
No lance, é possível ver o acúmulo de jogador sem simetrias posicionais ou em distâncias. Do outro lado, lateral tem potêncial de ataque agudo – Montagem sobre ge
Primeiro volante junto de zagueiros, gerando superioridade e linha de passe qualificada – Montagem sobre Cazé TV
Apesar disso, o Leão passa longe de ser um time que domina em números de posse de bola. O time fica, em média, 50,1% da partida com a bola, sendo apenas o 11º no ranking dessa estatística, segundo o Sofascore.
Ainda no ramo das estatísticas, chama a atenção o número de cruzamentos certos por jogo (5,5). Muito desse valor é fruto da potencialização de Reinaldo, que já acertou 46 cruzamentos na competição, o que o ajuda a ter 61 passes para finalização na campanha.
A predileção por cruzar, todavia, não impede que o time seja ofensivo, tendo em vista as 81 chances claras que teve a seu favor. Do mesmo modo, não mostra um modelo de jogo “cruza-cruza”, já que o Mirassol é o quarto time com menor comprimento médio de passes (27,1 m), conforme dados da Fbref.
O Mirassol sem bola
Em momentos sem a posse, o Mirassol se posta entre 4-2-3-1, 4-3-3 e 4-1-4-1, a depender da altura de seus atletas e referências. Marcando em cima, realiza pequenas perseguições e saltos aproveitando gatilhos dos adversários, como recuos lentos e zagueiros sem opção de passe.
Em bloco médio e baixo, o trabalho consiste em um primeiro volante “vigia” do setor entre as linhas de defesa e de meio de seu time. Ele também buscar proteger o corredor central de infiltrações e liberdade no funil, zona considerada por muitos analistas como a mais perigosa de campo.
Mirassol marca em 4-1-4-1 e suas variações
Mirassol em momento ofensivo. Linhas de 4 em balanço, primeiro volante protegendo entrelinhas e centroavante à frente – Montagem sobre Cazé TV
O processo de subir ou abaixar a linha consiste, assim como em esmagadora maioria dos times, de gatilhos e de bolas cobertas. Ou seja, quando o rival que detém a bola tem pressão contrária, a última linha pode encurtar o campo, andando para a frente. Mas quando essa bola fica “descoberta” (sem pressão), é hora de se preparar para correr para trás – e, às vezes, ter de correr.
Peças importantes nessa condição são os dois meio-campistas mais avançados, que fazem saltos em volantes e até zagueiros rivais. O centroavante, também fechando linhas ou pressionando, costuma ser essencial nessa fase defensiva de um Mirassol que sofreu 34 gols em 34 jogos até aqui.