Publicidade
Publicidade

Wendell Lira, do Puskás aos games: ‘Vivo melhor no futebol virtual’

Ganhador do prêmio de gol mais bonito do mundo em 2015, goiano deixou os gramados para se tornar uma referência nos e-sports do país

Wendell Lira se tornou uma figura do futebol mundialmente conhecida, não graças a uma carreira brilhante nos gramados, mas por um momento de enorme inspiração coletiva. Jogando pelo Goianésia, em partida do Campeonato Goiano de 2015 diante do Atlético Goianiense, ele marcou um belíssimo gol de voleio, após passe surpreendente do companheiro Nonato. O incrível gesto técnico lhe rendeu o prêmio Puskás da Fifa, entregue ao autor do gol mais bonito do ano, superando até mesmo uma arrancada de Lionel Messi. Seis meses depois da façanha, Wendell Lira, farto das decepções como atleta de clubes médios ou pequenos, decidiu pendurar as chuteiras e se dedicar ao que até então era seu maior hobby: os videogames. Aos 32 anos, ele garante ter feito a escolha certa.

Publicidade

Formado nas categorias de base do Goiás, o ex-atacante chegou a ter passagens por seleções brasileiras de base, mas não obteve uma trajetória constante. Perambulou por clubes como Trindade, Novo Horizonte, URT, Anapolina, entre outros. Depois do Puskás, recebeu uma chance do Vila Nova, um dos grandes de seu estado, mas, sofrendo com lesões e promessas descumpridas, desistiu da carreira ainda aos 27 anos, convencido de que teria mais futuro nos consoles. Ele sempre foi fã e um excepcional jogador dos games Fifa, da EA Sports, e Pro Evolution Soccer (PES), da Konami, e apostou que o e-futebol, a categoria dos games virtuais do esporte mais popular do mundo, cresceria nos anos seguintes. Reportagem de VEJA desta semana mostra que Wendell tinha razão.

Fontes ouvidas pela reportagem – além de seus próprios resultados – garantem que Wendell está entre os melhores jogadores virtuais do país. No ano passado, ele realizou nos e-sports o sonho que não concretizou nos campos: o de de atuar por uma equipe europeia, no caso, o Sporting de Lisboa. Hoje, Wendell Lira é atleta da equipe Netshoes E-Sports, uma das maiores do país, além de manter um canal no Youtube no qual dá dicas sobre games para mais de 570.000 inscritos. A VEJA, ele diz que vive melhor longe dos gramados. “Tenho um rendimento financeiro muito melhor do que poderia ter jogando por clubes de Série D, Série C. Sou muito grato por fazer o que eu amo, receber muito bem pelo que eu faço e poder ser dono da minha vida.” Confira, abaixo, a íntegra da entrevista com Wendell Lira:

Publicidade

Quais as diferenças na rotina de um jogador profissional de campo e de esportes eletrônicos? Hoje eu trabalho com a minha imagem, tenho um canal no YouTube, tenho meu canal no Twitter e também sou jogador de Fifa. Então, acaba que não tenho só de ir para o campo, treinar e voltar para casa. Antigamente, quando era jogador, eu só ia, treinava, escutava ordens, voltava para casa, para no outro dia repetir tudo novamente. Hoje não, me programo, tenho de pensar em conteúdo, saber programação de campeonato. Sou mais dono de mim, tenho mais controle sobre minha rotina, tomo minha decisões. Como jogador, eu praticamente só seguia ordens.

No videogame é mais fácil fazer gols dignos de prêmio Puskás? Já fiz alguns gols bonitos no videogame, mas como aquele do Puskás vai ser bem difícil porque foi mágico, não só a finalização foi bonita, mas toda a  jogada, construção, a tabela, triangulação, o passe foi maravilhoso e, aí sim, o desfecho, a cereja no bolo que foi o meu gol.

Tem melhores condições financeiras do que quando atuava nos gramados? Sim. Muitas pessoas não entendem, mas hoje represento um dos maiores clubes do cenário mundial que é a Netshoes, uma grande marca e uma grande família. Tenho um rendimento financeiro muito melhor do que poderia ter jogando por clubes de Série D, Série C. Sou muito grato por fazer o que eu amo, receber muito bem pelo que eu faço e poder ser dono da minha vida. As pessoas não têm ideia do quanto os jogadores sofrem, mudando de clubes e cidades, sem receber, passando dificuldades, humilhações. Eu passei por tudo isso e hoje, graças a Deus, sou dono da minha vida, sou responsável pelos meus atos, ganho por aquilo que produzo, então realmente para mim é uma bênção esse meu trabalho atual.

Publicidade
Continua após a publicidade

Jogador de e-sports fica velho? Pensa em jogar até quando? Essa pergunta é interessante. No futebol eu teria mais três anos, dois anos, jogando tranquilo em alto nível e depois seria muito difícil conseguir jogar e ter um salário bom. Então, quando decidi mudar para os e-sports foi pensando nessa longevidade da carreira que estava começando, mas que eu sabia que já poderia ser o sucesso que é hoje. Mas já estou há cinco anos nisso, não pretendo ficar muitos mais, talvez uns dois anos como jogador. Depois, pretendo criar a minha equipe. Já faço coach de forma particular, mas no futuro quero fazer um curso, uma estrutura onde eu possa ser o treinador, o comandante de uma equipe e ter mais longevidade ainda porque os e-sports ainda estão começando, pode ter certeza que por muitos anos ainda serão sucesso no mundo inteiro.

Como avalia sua passagem pelo Sporting, de Portugal? Foi um presente de Deus. Meu maior sonho enquanto jogador era atuar na Europa, poder representar um clube grande, e nunca pensei que poderia ainda realizar esse sonho depois de ter parado de jogar futebol, de uma forma diferente. O Sporting é um clube gigante, revelou Figo e Cristiano Ronaldo. Fazer parte dessa história do Sporting para mim foi maravilhoso, a realização de um sonho tão grande quanto os outros que já tive.

Qual seu maior sonho nesta nova carreira? Para mim, o maior celeiro de grandes jogadores de Fifa está aqui no Brasil, então para classificar para um Mundial é muito difícil. Eu já venho jogando competitivo há muito tempo. Desde 2010 jogo profissionalmente o PES, fui campeão brasiliense, fui campeão goiano amador, disputei Copa do Brasil. No Fifa consegui classificar para alguns mundialitos. Espero muito poder ir para o Mundial que vai ser a realização de um sonho. Mas acho que o maior legado que posso deixar é ter ajudado a construir esse cenário no Brasil. Quando fiz essa mudança do futebol real para o virtual tive de bater de frente com muita gente para mostrar que se trata de uma profissão. Fico feliz que hoje as pessoas possam olhar para nós de maneira diferente, os clubes, as empresas, acho que esse é o maior troféu que posso ter nos e-sports

Continua após a publicidade

Publicidade