Volta de público no Brasil cria brigas políticas e será testado em agosto
Flamengo e prefeitura do Rio ainda divergem e clube pode voltar a jogar em Brasília; jogos das quartas de final da Copa do Brasil devem contar com torcida
A volta do público aos estádios no Brasil, que viverá a sua primeira fase com jogos pilotos em agosto, promete disputas políticas e capítulos tensos logo em seus primeiros testes. O Flamengo, que no último dia 21 de junho fez a primeira partida com a presença de torcida após 497 dias de espera, devido a um decreto assinado pelo então governador em exercício, Paco Britto (Avante-DF), agora virou protagonista de uma queda de braço com a prefeitura do Rio de Janeiro.
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O município liberou ao clube a utilização de 10% da capacidade do Maracanã no jogo contra o Olímpia, pelas quartas de final da Libertadores, no próximo dia 18. As condições de segurança sanitária exigidas pela prefeitura não agradaram a cúpula flamenguista, que estuda mandar partida para Brasília.
A decisão teve início após o vereador da cidade e vice-presidente do Flamengo, Marcos Braz, trocarem farpas pelas redes sociais com o prefeito Eduardo Paes (PSD-RJ). Na ocasião, Paes disse que a discussão sobre possível liberação só aconteceria com pedido formal. O clube atendeu a deixa do político e requisitou junto à prefeitura que a partida da competição continental pudesse contar com público de 30% da capacidade do estádio.
Chegou!!!!!!!!! ⚫️🔴⚫️🔴⚫️🔴. Agora os técnicos da secretaria municipal de saúde tem o que analisar. 28/07 às 16:22hs. Gritaria pelo tweet não funciona. Vale a formalidade. Agradeço ao presidente Landim pela seriedade e respeito a essa prefeitura. Sem leviandade! E sigo 💢 pic.twitter.com/OjxK7ZZeXl
— Eduardo Paes (@eduardopaes) July 28, 2021
“Chegou. Agora os técnicos da secretaria municipal de saúde tem o que analisar. Gritaria pelo Twitter não funciona, vale a formalidade. Agradeço ao presidente [Rodolfo] Landim pela seriedade e respeito a essa prefeitura. Sem leviandade. E sigo”, disse Paes.
A secretaria municipal do Rio de Janeiro, por outro lado, permitiu que apenas um décimo do estádio fosse cheio e que todos presentes estejam totalmente vacinados ou com teste PCR negativo. Além disso, colocou no protocolo medidas mais drásticas para possíveis desobediências.
“A solicitação do Flamengo era 30% de público e teste de antígeno com 72 horas. A gente não considera isso adequado nesse momento. Estamos mantendo as mesmas regras que foram feitas para a Libertadores, mas ressaltando que é importante que os erros cometidos na Libertadores não se repitam. Então é importante que todas as entradas do Maracanã estejam abertas, que as pessoas tenham um horário escalonado de entrada no estádio e não todas no mesmo horário. E também que tenha a organização de saída escalonada. E também é importante que a empresa que realiza os testes seja credenciada e que possa garantir que os testes são verdadeiros. Tem que ter um responsável médico que garanta que os testes são verdadeiros.”, disse Daniel Soranz, secretário da saúde do Rio de Janeiro.
Membros da diretoria do Flamengo não se mostraram satisfeitos com a quantidade de público permitida pelo município e ainda estudam jogar novamente em Brasília, no Estádio Mané Garrincha. Na vitória por 3 a 0 diante do Defensa y Justicia, pelas oitavas de final da Copa Libertadores, no mesmo estádio, o clube levou 5.518 pessoas, de acordo com balanço financeiro divulgado. Essa foi a primeira partida de um clube brasileiro com público, a exceção da decisão da última Libertadores, entre Santos e Palmeiras, em 30 de janeiro, com quase dez mil ingressos destinados a convidados.
Também nesta semana, a prefeitura do Rio divulgou plano de retomada das atividades e flexibilização das medidas restritivas. O planejamento consiste em três etapas que dependem do calendário de vacinação. Assim, caso no início de setembro 77% da população adulta tenha recebido a primeira dose da vacina contra a Covid-19 e 45% já estiver completamente vacinada, Eduardo Paes espera liberar que os estádios sejam lotados 50% pelo público já imunizado.
Em Belo Horizonte, o prefeito Alexandre Kalil se reuniu com os clubes para discutir a possibilidade de liberar a volta gradual da torcida para as arenas. A ideia é permitir que 30% dos estádios sejam ocupados e haverá exigência de vacinação completa, teste PCR negativo ou teste rápido de 72 horas para a entrada ser permitida.
A CBF ainda é cautelosa. A entidade não se manifestou oficialmente sobre como funcionará o retorno do público e deve divulgar critérios para a reabertura dos estádios. A projeção é para que faça partidas como teste pelas quartas de final da Copa do Brasil. Para isso, precisará da anuência de prefeituras e de federações locais.
O exemplo maior é o da Conmebol que travou longa negociação com a prefeitura do Rio de Janeiro para a presença de público na decisão entre Brasil e Argentina, no último dia 10 de julho, no Maracanã, também com 10% da capacidade. O confronto terminou com vitória por 1 a 0 dos argentinos e, consequentemente, o títulos dos rivais.
O Brasil ainda vive a pandemia causada pelo novo coronavírus e registrou, no dia 29 de julho, novos 42.238 casos e 1.318 mortes. Em âmbito nacional, apenas 19% da população já está completamente imunizada.