Venezuela: crise no país, evolução na bola
Próxima adversária do Brasil na Copa América investiu na base
SALVADOR – A Venezuela enfrenta uma crise sem precedentes nos campos político, econômico e social. Falta luz, comida, emprego, combustível e itens básicos de higiene, o que levou mais de 4 milhões de pessoas a deixar o país, muitos rumo ao Brasil, enquanto o chavista Nicolás Maduro e o líder da oposição, Juan Guaidó, se digladiam pelo poder. Na contramão do caos humanitário, porém, a seleção venezuelana, próxima adversária do Brasil na Copa América, nesta terça-feira, 22, em Salvador, demonstra clara evolução e vive o melhor momento de sua história, com uma geração promissora.
É verdade que apenas dois atletas dos 23 convocados atuam no país: o goleiro David Graterol Nader, do Zamora, e o volante Arquímedes Figuera, do Deportivo La Guaira – dupla que certamente espera atrair interesse estrangeiro, para tirar seus familiares da crise. O Campeonato Venezuelano, em frangalhos, acompanha a realidade do país. “A liga segue acontecendo, mas em condições precárias. Os estádios nunca estão cheios, as pessoas estão atrás de outras coisas, comida, trabalho, e clubes foram rebaixados por dívidas com jogadores”, conta o jornalista local Edwin Matamoros, da emissora Pasión Total TV.
Tabela completa da Copa América 2019
No entanto, a “Vinho Tinto”, como é conhecida a seleção, pela cor de seu uniforme, vem acumulando resultados relevantes. O time chegou ao Brasil embalado por vitórias em amistosos recentes, por 3 a 1 sobre a Argentina de Lionel Messi, e 3 a 0 sobre os Estados Unidos, na casa do adversário, resultado parabenizado até mesmo pelo presidente Maduro. “Me sinto orgulhoso de nossos guerreiros”, escreveu, no Twitter. Na estreia da Copa América, empatou em 0 a 0 com o Peru, em Porto Alegre. “A Venezuela veio ao Brasil para ser protagonista e chegar à decisão”, chegou a dizer o treinador Rafael Dudamel, na véspera do jogo na capital gaúcha.
A Venezuela ocupa a 33ª colocação no ranking da Fifa, à frente de quatro outros participantes da Copa América, Paraguai (36º), Catar (55º), Equador (60º) e Bolívia (62º). Foi a última colocada das Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2018, mas vem crescendo, a passos lentos, inclusive em divisões de base.
Em 2017, com destaques como o goleiro Wilker Fariñez e o meia Yeferson Soteldo, do Santos, foi vice-campeã mundial sub-20 ao perder para a Inglaterra, já sob o comando de Dudamel, ex-capitão do time e responsável por liderar a integração entre as seleções de base e adulta. Em seus tempos de goleiro, Dudamel levou gols de craques como Ronaldo, Adriano e Roberto Carlos em duelos bem menos equilibrados com a seleção brasileira.
Daniel Alves, que esteve em campo na única derrota da seleção brasileira para a Venezuela, por 2 a 0, em amistoso em Boston, em 2008, exaltou o adversário. Tem uma geração de jogadores jovens e muito promissores. A Venezuela evoluiu nos últimos anos e tem de ser muito respeitada”, disse o brasileiro em Salvador. Nos últimos duelos em Copas Américas, o Brasil empatou em 0 a 0, em 2011, e venceu com dificuldades, por 2 a 1, em 2015.
Com média de idade de apenas 25,7 anos, tem o 10º elenco mais jovem do torneio, atrás apenas dos convidados Catar e Japão. Os principais destaques do time atuam em clubes médios, mas tradicionais, da Europa: o atacante Salomón Rondon, do Newcastle, da Inglaterra, e o capitão Tomás Rincón, do Torino, da Itália. Mesmo que perca contra o Brasil, se vencer a Bolívia no terceiro jogo, a Venezuela tem boas chances de avançar à segunda fase. O beisebol e o boxe ainda são os esportes mais populares, mas é o futebol que vem dando certo alento e esperança ao povo venezuelano.