Tribunal nega recurso e Semenya é proibida de competir entre as mulheres
Atleta sul-africana, bicampeã olímpica dos 800 metros rasos, precisará fazer um controle hormonal para retornar ao atletismo
O Tribunal Arbitral do Esporte (CAS) recusou nesta quarta-feira, 30, o recurso apresentado pela sul-africana Caster Semenya contra a Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF) e sua nova regulação sobre os níveis de testosterona, mudança que a impede de competir internacionalmente. A atleta bicampeã olímpica nos 800 metros rasos, portanto, pode ficar de fora das Olimpíadas de Tóquio.
Segundo as novas regras da IAAF, as atletas devem manter os níveis de testosterona abaixo de 5 nanomoles por litro, durante um período contínuo de pelo menos seis meses, para competir internacionalmente em provas de entre 400m e 1.500m e ter suas marcas reconhecidas.
Semenya está suspensa desde outubro de 2018, à espera da decisão do tribunal. As atletas com “disfunções no desenvolvimento sexual”, como descreveu a IAAF, devem mudar de prova ou competir com homens. O veredicto do CAS foi adiado em várias ocasiões devido à complexa disputa ética e legal.
Semenya, de 28 anos, ganhou destaque em 2009 ao conquistar o título mundial dos 800 m rasos, em Berlim. A melhora incrível de seus resultados levantou suspeitas de doping e dúvidas sobre seu gênero. A sul-africana foi submetida a controversos e invasivos testes para provar que é mulher, dando início a uma disputa ética e judicial com a federação de atletismo.
Descobriu-se que Semenya tem uma disfunção chamada hiperandrogenismo, distúrbio endócrino que a faz produzir mais testosterona que o normal nas mulheres. A Iaaf chegou a proibi-la de competir, mas após diversos exames (que nunca tiveram os resultados divulgados) foi liberada para competir normalmente.
Semenya, bicampeã olímpica nos 800 metros rasos, alegava que as novas regulações da IAAF para limitar o acesso às provas eram discriminatórias. O CAS, entretanto, julgou as regras como ‘necessárias’. “Esta discriminação é um meio necessário, razoável e proporcional para cumprir o objetivo da IAAF de preservar a integridade do atletismo feminino”, disse Matthieu Reeb, secretário-geral do tribunal.
Até o momento, o patamar de tolerância para os níveis de testosterona era de 10 nanomoles e agora foi reduzido à metade porque, segundo estudos citados pela IAAF, uma maior proporção aumenta em 4,4% a massa muscular, entre 12% e 26% a força e em 7,8% a taxa de hemoglobina.
‘Tribunal não me deterá’
Pouco depois do anúncio do CAS, Semenya divulgou um comunicado no qual protestou contra a decisão e disse que não desistirá de competir. “A decisão da CAS não me deterá. Mais uma vez, me levantarei e seguirei inspirando mulheres jovens, atletas da África do Sul e do mundo todo”, disse.
“Eu sei que as regras da IAAF sempre me tiveram especificamente como alvo. Por uma década a IAAF tem tentado me deixar mais lenta, mas isso na verdade me fortaleceu”, completou a atleta, campeã em Londres-2012 e na Rio-2016.
(Com EFE)