Torcida única, festa e até Putin: Boca x River vira questão de Estado
Final da Libertadores levanta discussões sobre segurança pública. Presidente Macri quer torcedores visitantes na festa, mas clubes discordam
Boca Juniors e River Plate farão as finais mais apimentadas da história da Copa Libertadores. Será o primeiro duelo entre os rivais de Buenos Aires em uma decisão internacional, um encontro histórico e que extrapola a esfera esportiva. Segundo a imprensa argentina, até mesmo Vladimir Putin, presidente da Rússia, já manifestou o desejo de assistir ao “maior jogo de todos os tempos”. A Conmebol decidiu mudar as datas das finais por um motivo político e as recentes declarações do presidente Maurício Macri, ex-mandatário do Boca, vêm deixando claro: o Superclássico argentino virou questão de Estado.
Quarta, sábado ou domingo?
As finais da Libertadores estavam agendadas para 7 e 28 de novembro, duas quartas-feiras, mas foram alteradas para 10, na Bombonera, e 24, no Monumental de Núñez, dois sábados, para não atrapalhar os preparativos para a reunião do G20, que começa dia 30, em local próximo ao estádio do River, com a presença de Donald Trump, Vladimir Putin e diversos outros líderes mundiais.
A medida não agradou os presidentes dos clubes que, na verdade, preferiam que os jogos fossem em dois domingos, por questões religiosas. “Nós dois recebemos o mesmo pedido da coletividade judia: que mudemos o jogo para domingo porque além de não ir ao estádio, os judeus não podem sequer assistir pela TV”, disse Rodolfo d’Onofrio, mandatário do River, à emissora América, em referência ao Shabat, o dia de descanso sagrado dos judeus.
Outra questão de refere à transmissão da partida. Deputados do partido Frente Para La Victoria apresentaram um projeto para que as finais sejam transmitidas em tevê aberta. O pedido se apoia no artigo 77 da N° 26.522, mais conhecida como Lei dos Meios, que “garante o direito ao acesso universal aos conteúdos informativos de interesse relevante”. Por enquanto, as decisões estão mantidas para os sábados, às 17h locais (18h de Brasília), e com transmissão em TV fechada na Argentina – e também no Brasil.
Torcida única, contra a vontade de Macri
Diante da importância da partida, o presidente Macri sugeriu outra mudança: o fim dos clássicos com torcida única. “Além de ser maravilhosa do ponto de vista esportivo, vai ser uma atração mundial, Boca e River é um confronto conhecido em todos os continentes”, se entusiasmou o governante em entrevista coletiva na cidade de Córdoba, no dia 1º.
Macri se reuniu com os órgãos de segurança do país e concluiu que é possível montar um efetivo especial para a partida. “É uma oportunidade única e histórica e temos de imortalizar um espetáculo completo, ou seja, com torcedores visitantes.”
O desejo de Macri, porém, não foi realizado. Os presidentes de River Plate, Rodolfo D’Onofrio, e Boca Juniors, Daniel Angelici, decidiram não vender ingressos para a torcida visitante com o objetivo de evitar situações ‘inconvenientes’ e poder utilizar a capacidade máxima dos dois estádios, pois quando há torcida visitante, algumas partes das arquibancadas ficam vazias para separar os torcedores rivais.
Putin e festa no Obelisco
Martin Liberman, um dos mais populares jornalistas da Argentina, informou em seu programa na semana passada que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, manifestou o desejo de assistir ao Superclássico, dias antes da reunião do G20. “Informação exclusiva: alguém do governo russo se comunicou com gente da Conmebol e perguntou como seria se o mandatário quisesse ir ver à final”, revelou Liberman.
Os governos de Rússia e Argentina não confirmam a informação. Martín Ocampo, ministro da Justiça e Segurança de Buenos Aires, afirmou à rádio AM 870 Nacional, que “a presença de Putin exigiria um dispositivo de segurança especial.”
Outra notícia relacionada à segurança agitou a Argentina neste domingo: o governo anunciou que, por causa do clima de tensão e rivalidade, irá proibir comemorações do campeão em frente ao Obelisco, na avenida 9 de Julho, onde tradicionalmente os torcedores festejam suas conquistas.
“Devemos organizar bem o lugar das comemorações, tem de ser um lugar habilitado. O Obelisco não é e não vamos permitir”, afirmou Juan Pablo Sassano, subsecretário de segurança de Buenos Aires, que estará no comando das operações na Bombonera e no Monumental, à emissora TN. Segundo ele, o ideal seria realizar a festa no estádio do campeão.